Outubro começa com as mesmas incertezas no âmbito político-fiscal que marcaram os últimos meses, quando a volatilidade passou a reinar no mercado financeiro, com a recuperação econômica dando sinais de perda de tração, enquanto a pandemia persiste. O novo mês também marca o início de um trimestre inteiro adiante - o último de 2020 - e há pouca clareza do que um intervalo tão curto de tempo reserva para os investidores.
Ainda mais agora que não se sabe mais nada sobre o futuro do Renda Cidadã. Depois de ficar em silêncio por mais de 24 horas, elevando o mal-estar do mercado doméstico em relação à contabilidade criativa criada para bancar o novo programa social, o ministro Paulo Guedes (Economia) resolveu falar ontem sobre o tema e chamou a proposta de usar a verba dos precatórios de “puxadinho”. A declaração causou furor na ala política.
Diante da divergência, o presidente Jair Bolsonaro convocou às pressas uma reunião, ontem à noite, com integrantes da equipe econômica para tratar das fontes de financiamento do Renda Cidadã. O relator da proposta do Orçamento de 2021, senador Márcio Bittar, também estava presente, junto com os líderes do governo na Câmara e no Senado, além de ministros palacianos e do presidente do Banco Central.
Mas ao final do encontro, ninguém falou nada. Não se sabe o que foi discutido nem o que ficou acertado. E isso tende a manter o desconforto dos ativos locais com o assunto, ao menos até que a proposta do Orçamento seja votada, ainda neste ano, com o Congresso e o Executivo chegando a um consenso sobre como viabilizar o Renda Cidadã, mantendo o teto dos gastos, mas sem criar desvios. E a única maneira seria cortando despesas.
Com isso, após o Ibovespa ficar de lado no terceiro trimestre, abaixo dos 100 mil pontos, a reta final de 2020 tende a ser igualmente desafiadora para a renda variável, ainda mais com a saída recorde de recursos externos da Bolsa brasileira. Essa falta de apetite dos "gringos" pelo risco no país explica o avanço do dólar para um novo patamar, de R$ 5,60, engatando o segundo mês seguido de valorização e com ganhos em todos os trimestres.
Exterior renova esperanças
Já no exterior, os investidores começam o novo mês alimentando esperanças de republicanos e democratas em relação a um novo pacote fiscal, apesar da falta de acordo entre a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. Com isso, a votação da proposta de estímulos adicionais da ordem de US$ 2,2 trilhões, prevista para ontem, foi adiada, sem previsão de nova data.
A proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, no início de novembro, torna improvável a possibilidade de aprovação do projeto. Ainda que tal votação ocorra, a chance de que um novo estímulo pré-eleitoral sejam lançado é praticamente zero. Mas ainda é preciso haver um consenso em relação ao valor, pois se os democratas votarem a proposta de US$ 2,2 trilhões, isso sinalizaria o fim das negociações com a Casa Branca.
Ainda assim, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta firme, reagindo também à lei aprovada no Senado dos EUA ontem, que evita a paralisação (shutdown) das atividades do governo. As bolsas europeias também dão a largada em outubro no terreno positivo, apesar do cenário de aumento de casos de coronavírus na região. Novas regras foram adotadas na Espanha e na França para evitar aglomerações.
Na Ásia, a sessão foi sem brilho, com as bolsas de Hong Kong e Xangai fechadas por causa do feriado na China, em comemoração aos 71 anos da Revolução Popular, liderada por Mao Tse-Tung. A Bolsa de Seul também não abriu. Já a Bolsa de Tóquio funcionou, mas não operou normalmente, com um problema técnico interrompendo as negociações. A sessão foi suspensa devido à falha no sistema e não foi retomada pelo restante do dia.
Nos demais mercados, o dólar perde terreno para as moedas de países desenvolvidos e correlacionadas às commodities. Entre os destaques, está o desempenho do yuan chinês (renminbi), que encerrou o trimestre passado com a maior valorização frente a moeda norte-americana desde o primeiro trimestre de 2008, com ganhos de quase 4%. Ao que tudo indica, os investidores aceitaram a noção da força do modelo econômico na China.
EUA têm agenda cheia
A agenda doméstica faz uma pausa hoje, trazendo apenas os dados de setembro da balança comercial (15h), o que desloca o foco para o exterior, onde serão conhecidos, às 9h30, números sobre a renda pessoal e os gastos com consumo nos EUA em agosto, além do índice de preços PCE.
No mesmo horário, ainda nos EUA, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país, que devem seguir abaixo de 1 milhão. Depois, às 11h, destaque ainda para os índices PMI e ISM sobre a atividade industrial norte-americana em setembro, além dos gastos com construção em agosto.