Passada a fase inicial de altíssima volatilidade, o mercado de ações se recuperou relativamente bem nas duas últimas semanas e o Ibovespa retomou os 80 mil pontos. A instabilidade está bem mais contida, mas a crise está aí, inédita, forte e desafiadora.
Avançar acima deste patamar somente será possível com alguma sinalização efetiva de retomada das atividades econômicas, não só no Brasil como no restante do mundo. As primeiras iniciativas neste sentido já começam a ganhar forma aos poucos. No Brasil vale destacar Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e algumas cidades isoladas fora dos grandes centros. Esta flexibilização da quarentena deve respeitar os parâmetros de saúde, dentro de padrões aceitáveis e realistas, abrindo a economia aos poucos, para que não tenhamos risco de “recaídas”.
A forte queda do nível de atividade e os programas de ajuda extraordinários decorrentes da Pandemia do Coronavírus já comprometeram a situação financeira dos setores privado e público. As projeções já mostram que o país fechará 2020 com um déficit primário acima de R$500 bilhões. A relação da dívida/PIB deve chegar ao patamar dos 90% e o desemprego pode atingir cerca de 15 milhões de pessoas.
Para contornar tudo isso o governo terá que agir muito fortemente no pós-crise. Precisaremos de respostas firmes por meio de um plano ousado, amplo e equilibrado, mas factível de aprovação. Aí que reside o problema. A crise política envolvendo executivo, legislativo e estados nunca esteve tão acirrada.
É preciso que se encontre uma pacificação das relações políticas para que a deterioração econômica não se perpetue para além de 2020. Na leitura atual, esse entendimento parece distante, mas vale ressaltar que se os poderes não chegarem em um denominador comum, podemos ter uma situação ainda pior. Em resumo, o que os agentes econômicos mais temem é a interrupção da agenda liberal conduzida por Paulo Guedes, que a trancos e barrancos, vigora desde a gestão Temer e começava a mostrar os primeiros resultados.
A alternativa a essa agenda é tentadora para políticos com popularidade em queda e com pretensões eleitorais futuras. Infelizmente, já experimentamos esta receita outras vezes: a mais recente, durante o governo Dilma. Como sabemos, foi um desastre.