Pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostram que o preço médio do leite cru captado por laticínios registrou a segunda queda consecutiva em junho, chegando a R$ 2,5568/litro na “Média Brasil” líquida, recuos de 6,02% frente a maio e de 22,38% na comparação com junho/22, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de jun/23). Com esse resultado, o preço do leite cru fecha o primeiro semestre com queda acumulada de 1,4% e média de R$ 2,7505/litro – esse valor, porém, está 3,31% acima do verificado no mesmo período do ano passado.
A combinação do consumo enfraquecido, do aumento das importações e da diminuição nos custos de produção explica a desvalorização do leite cru, iniciada em maio. Mesmo tratando-se de uma época típica de entressafra no Sudeste e no Centro-Oeste, em que a produção não é estimulada pelo clima (uma vez que o inverno seco limita a disponibilidade e a qualidade das pastagens, afetando os custos do manejo alimentar do rebanho), os preços não têm seguido a tendência sazonal de alta. Assim, a desvalorização do leite no campo ocorre em consonância com o movimento de queda observado ao longo de toda a cadeia produtiva.
Com a demanda ainda fragilizada, a pressão dos canais de distribuição por preços mais baixos e os valores mais competitivos dos lácteos importados, as cotações dos derivados negociados pelos laticínios registraram queda em junho. A pesquisa realizada pelo Cepea com o apoio da OCB mostrou que os preços do leite UHT, do leite em pó (400g) e da muçarela negociados entre indústrias e canais de distribuição no estado de São Paulo caíram 5,2%, 5,4% e 1,1% de maio para junho. Considerando-se a média do primeiro semestre, esses mesmos derivados se valorizaram 5,4%, 5,7% e 2,2% na comparação com o mesmo período de 2022.
O aumento das importações de lácteos no primeiro semestre de 2023 é um fator importante porque, além de o volume estar quase três vezes acima do registrado no ano passado, os preços seguem mais competitivos que os nacionais – o que pressiona as cotações domésticas ao longo de toda a cadeia. Dados da Secex mostram que, em junho, as importações somaram mais de 212,1 milhões de litros em equivalente leite, elevando o déficit da balança comercial a patamares recordes. A quantidade importada no primeiro semestre de 2023 representa aproximadamente 9,5% da captação formal de leite cru (tendo como base os dados da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE de 2022). Vale destacar que, no mesmo período do ano passado, as importações representaram apenas 3,2% da captação nacional.
Além disso, é preciso ressaltar que o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 1,7% em junho na “Média Brasil”, influenciado sobretudo pela desvalorização do concentrado, dos adubos e corretivos. Considerando a relação de troca, foram necessários 21,5 litros de leite para a aquisição de uma saca de milho de 60 kg, recuo de 0,8% de maio para junho e melhora de 19,7% na comparação anual – contexto que incentiva investimentos na produção, o que tem feito a oferta de leite se recuperar mesmo na entressafra. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea registrou a terceira alta consecutiva em junho, avançando 3,74% na Média Brasil.
Gráfico 1. Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de jun/2023).
Fonte: Cepea-Esalq/USP.