Depois de décadas confiando na poupança, nos últimos cinco anos o brasileiro começou a prestar atenção no mercado financeiro. No digital, os dados que levantamos na Decode mostram que a procura aumentou 22% neste período, com pico de buscas em 2019. Seguindo essa tendência, em 2020 houve um aumento de 89% nos cadastros de pessoa física na Bolsa de Valores Brasileira (B3 - SA:B3SA3), apesar de toda a crise ocasionada pela pandemia. Tudo isso é reflexo de uma febre da educação financeira, mas de modo geral, o brasileiro ainda engatinha quando o assunto é investir.
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O Brasil tem uma longa tradição de guardar dinheiro na poupança e ter um retorno garantido, ainda que seja baixo. Essa mentalidade vai desde quem consegue juntar mil reais em um ano, até quem já tem mais de meio milhão acumulado. Ainda que não seja uma chave vai virar da noite para o dia, as notícias sobre a baixíssima rentabilidade da poupança - que apesar de garantida, também pode fazer perder dinheiro - começaram a fazer os poupadores brasileiros se movimentarem.
A maioria das pessoas começou a entrar na B3 somente este ano e, pelas buscas online, estão procurando saber principalmente “o que é investimento” (aumento de 111%), “fundo de investimento” (39%) e “melhor investimento” (21%). As principais palavras-chave são, por ordem: Tesouro direto, Investimento poupança, Investimento CDB, Renda Fixa e Investimento em ações. Ou seja, o brasileiro dá preferência a investimentos de renda fixa por conta da previsibilidade de rendimentos que esse tipo de investimento traz a priori. As ações aparecem por último, ainda timidamente.
Quem está aprendendo prefere obter retornos mais garantidos, existe uma maior preocupação em saber de antemão quanto vai receber pela aplicação, o que dá uma sensação de segurança. O Brasil tem um histórico de hiperinflação e mudanças econômicas muito bruscas, então, boa parte das pessoas procura por investimentos de renda fixa devido à sua previsibilidade.
Isso demonstra receio da volatilidade dos ativos de renda variável e também uma visão de curto prazo. Porém, isso não significa que o investimento em ações é necessariamente mais arriscado. Existem ações que oferecem bastante segurança, pelo grande volume, por ter investidores comprando e vendendo todos os dias. Mesmo assim, a falta de previsibilidade do rendimento ainda deixa a maioria dos investidores principiantes bastante desconfortável.
Vale lembrar também que é possível, sim, fazer uma carteira sofisticada só com renda fixa. Inclusive, uma arriscada também, visto que países em desenvolvimento oferecem taxas de juros mais altas, exatamente pelo risco de mercado que oferecem.
Ainda que para maximizar o retorno dos investimentos em renda variável seja necessário estudar o mercado – comparar taxas aplicadas pelas corretoras, avaliar histórico dos papéis, acompanhar o noticiário e veículos especializados – a digitalização tornou tudo muito mais fácil. Tanto o acesso à informação, quanto a compra dos ativos na prática, com plataformas cada vez mais intuitivas.
Tudo isso cria um clima muito propício para alavancar, de fato, uma maior sofisticação nos investimentos e trazer a renda variável para o protagonismo na carteira do brasileiro. A mudança de visão com certeza vai nos fazer sair de um país de poupadores para uma nação de investidores.
Lucas Fontelles é Head de Consumer Insights da Decode, área responsável por monitoramento de Big Data e análises sobre a opinião pública no ambiente digital para antecipar tendências de mercado em diversos setores.