Grande parte da safra 2020 já ficou para trás no mercado físico do boi gordo. Até o momento, a arroba atravessou todo esse período praticamente estável ao redor de R$200,00, à vista, em SP.
Não foi só a arroba do animal terminado que ficou sustentada, os preços da reposição em boa parte das praças pecuárias também ficaram firme. A Scot Consultoria divulga de forma primorosa os preços destas categorias mais jovens.
Este comportamento ocorreu mesmo em meio à uma pandemia, com mudança brusca do hábito de consumo da população e a contração do segmento de food service.
Pelo lado externo, a disponibilidade da proteína animal segue curta e os fatos recentes só reforçam esta visão. Os incêndios que acometeram a Austrália no início de 2020, a paralisação dos abates da Índia, o fechamento de grandes indústrias de suínos e bovinos nos EUA e a habilitação das exportações para o Egito são os fatores que embasam isto.
Olhando para o mercado interno, a notícia relevante são os 10 estados adotando medidas para flexibilizar o isolamento social no Brasil. As flexibilizações ocorrem em Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Maranhão, Distrito Federal, Tocantins, Espírito Santo, Paraíba e Sergipe. Em São Paulo e Mato Grosso, há estudos de como isso ocorrerá, mas a data de volta já foi confirmada.
É fato que esta retomada não será a todo vapor logo nos primeiros dias. No entanto, a flexibilização dá um ponto final na contração da renda disponível dos autônomos e alivia o fôlego para parte dos estabelecimentos. Ou seja, cria um fim da linha para as previsões mais pessimistas em relação ao mercado doméstico.
A grande dúvida dos participantes do mercado pecuário hoje está sobre o volume do primeiro giro de confinamento.
Isto porque a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), que mapeou cerca de 1.400 unidades, estimou queda de mais de 10% do número de cabeças confinadas em 2020. Vale lembrar que este órgão vinha subindo suas projeções de confinamento desde 2008-2009.
O título do texto de hoje faz referência à combinação destes fatores elencados acima, mercado externo, interno e às incertezas (crescentes) da construção de oferta para o segundo semestre deste ano.
Os dados de abates SIF do IBGE mostram que em 2019, o Brasil abateu 3,6% bovinos a mais no terceiro trimestre em relação a 2018, enquanto no quarto trimestre o abate ficou 4,4% menor na comparação anual. Será que esta dinâmica será repetida em 2020? Ou a oferta enxuta estrutural também deve refletir tanto no terceiro, quanto no quarto trimestre? As próximas semanas serão decisivas para esta resposta.