Apesar de vivermos momentos difíceis em abril, tanto na saúde (pandemia) como na economia, a análise em perspectiva permitiu que o mercado ficasse otimista. Na saúde, as lamentáveis mais de 80 mil mortes decorrentes da Covid contrastaram com uma aceleração da vacinação para o patamar de um milhão de doses diárias, o que cria uma perspectiva melhor para o futuro.
Na economia, passamos finalmente a ter um orçamento do governo central para 2021, apesar dos atrasos e inconsistências dos números. O fluxo cambial bastante favorável (comercial e investimentos diretos) combinado com o início do movimento de aumento de juros, permitiram que o dólar finalmente se arrefecesse, caindo mais de 5%, para R$5,40.
Vale destacar também o grande número de leilões de concessões do setor público para o privado ocorridos em abril. Foram concedidos cinco terminais portuários (destaque para terminais no porto de Itaqui-MA), 22 aeroportos destaques (Manaus, Goiânia e Curitiba), uma rodovia (trecho da BR-153 em Goiás), um trecho ferroviário da FIOL na Bahia (Ferrovia de Integração Oeste Leste) e no último dia do mês, três blocos de distribuição de água e coleta de esgoto no estado do Rio de Janeiro (CEDAE).
Além da arrecadação das outorgas (mais de R$30 bi) essas concessões permitirão o destravamento de grandes investimentos (cerca de R$40 bi em dez anos) com impactos de longo prazo na produtividade da economia e no caso dos ativos de saneamento, uma condição de saúde melhor e impactos ambientais muito relevantes.
Na política, o ambiente de crise permaneceu o mesmo, com a iminência de início da CPI da Covid no Senado e novas declarações mal colocadas do presidente da república a cada semana.
Contudo, se por um lado a situação de instabilidade política dificulta uma melhor visibilidade de médio/longo prazo, por outro, vemos propulsores que devem permitir uma onda favorável de curto prazo para o Brasil e para os mercados.
O primeiro propulsor dessa onda é o avanço da vacinação da Covid, que deve permitir a reabertura da economia de forma mais segura e contínua. O forte fluxo cambial positivo é o segundo propulsor que enxergamos, pois deve permitir a revisão por parte do mercado dos cenários mais pessimistas para a economia: câmbio desvalorizado, inflação mais baixa e juros mais baixos do que se prevê atualmente.
Destacamos os seguintes temas domésticos que devem tomar a atenção dos mercados em maio: início da CPI no Senado (o que já está ocorrendo), aprovação da privatização da Eletrobrás na Câmara e início da reforma tributária no Congresso.
Acredito que uma composição baseada em companhias de alta qualidade, de setores diversos, e com visão de longo prazo, seja a mais adequada e equilibrada para este momento.