Terminamos mais uma semana e o tema em destaque é a inflação. Foram divulgados índices de preço, usados pelas autoridades monetárias como parâmetros, no Brasil e nos EUA, e ambos acabaram acima do esperado, acendendo uma luz amarela para ambas as autoridades, Banco Central do Brasil e Federal Reserve (Fed).
Isso aconteceu numa semana antecedendo as reuniões dos Comitês de Política Monetária nos países citados. Com a inflação no radar, os juros futuros curtos apontaram forte alta, assim como valorizou a moeda norte-americana, junto aos seus pares emergentes, o que enfraqueceu as bolsas de valores. Decorrente disso, o dia foi de valorização do dólar em 1,12%, a R$ 5,1227 no mercado à vista. Na semana o dólar se valoriza 1,73%. Já a bolsa de valores fechou com perda de 0,49%, a 129.441, com empresas ligadas a atividades domésticas perdendo valor. Na semana a bolsa de valores paulistana fechou com perdas de 0,53%.
Na semana tivemos o IPCA de maio registrando 0,83%, elevado a 8,06% em 12 meses, o que pode levar o Banco Central do Brasil a intensificar a política de “normalização parcial” das últimas reuniões do Copom. Nos EUA, o IPC foi a 0,6% na base mensal, 5,0% em 12 meses, com o núcleo a 0,8% e 3,8% em 12 meses, quando se esperava 3,5%. Ou seja, pelo índice que descarta alimentos e energia, a inflação acabou bem elevada, o que pode sinalizar uma certa “disseminação do índice”. Pressão adicional para o Federal Reserve de Jerome Powell na reunião desta semana. Nesta, será essencial ler o que será dito no comunicado e no discurso de presidente.
No comportamento do IPC norte-americano, a alta foi puxada pelos preços mais elevados do petróleo, “contaminando” o item Energia, acima de 50% em 12 meses, e pela “elevada” nos preços dos carros e caminhões usados, explicável pelo gargalo da indústria automobilística. Pela abrupta retomada, alguns setores se confrontaram com gargalos nas cadeias produtivas, faltando insumos e impactando nos preços finais. No caso da indústria automobilística, fenômeno global, aliás, a falta de insumos eletrônicos na fabricação de carros novos, como semicondutores, vem sendo decisiva.
Com isso, a venda de carros usados se intensificou. Em maio, em 12 meses, os preços destes aumentaram 29,7%. Com a normalização desta oferta, é possível que recuem. O mesmo deve ser dito sobre a alta do petróleo, elevada em mais de 50% em 12 meses, o que vem impactando nos preços dos combustíveis e dos derivados.
O fato é que a economia global está retomando forte. Nos EUA, as projeções de PIB indicam crescimento de 4,6% neste ano e na China, acima de 8,0%. Isso posto, as commodities se valorizam em boa velocidade, com destaque para o petróleo, minério de ferro e soja, o que vem encarecendo os insumos nas cadeias produtivas, já que a demanda vem crescendo em velocidade maior do que a capacidade de resposta das plantas produtivas.
Na leitura do Fed, o que temos é um “fenômeno transitório”, logo havendo uma acomodação. As críticas, no entanto, indicam que a autoridade monetária pode estar “atrás da curva”, assim como o Banco Central do Brasil, no passado, ao manter o juro a 2% por tempo demasiado.
No Brasil, o IPCA de maio registrou 0,83%, em 12 meses a 8,06%, o que acendeu um sinal de que o “ajustamento parcial” terá que ser intensificado nas próximas reuniões do Copom.
Teremos a elevação da taxa Selic na reunião do Copom da semana que vem, em 0,75 ponto percentual, passando de 4,25% para 5,0% e depois mais um, na mesma toada, 0,75 p.p., a 5,75%. Não descartamos, no entanto, mais um ou dois, até 6,5% ou 7,0% ao final deste ano. Objetivo aqui é tentar trazer a inflação para o centro da meta no ano que vem, o que não será uma tarefa simples, pois será ano de eleição e a economia deve “rodar” num ritmo mais intenso, com outros fatores de pressão a surgir.
Não deixemos de considerar também a seca dos reservatórios, com o uso de termoelétricas, a “bandeira vermelha”, e os impactos nos reajustes de energia elétrica sobre os índices de preço.
Mesmo considerando esta preocupação, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acha também que os choques inflacionários atuais são “temporários”, reforçando no discurso de Jerome Powell. Para ele, “a curva de juros perdeu um pouco da inclinação recentemente, em função da alta dos juros, mas as commodities em reais se estabilizaram e algumas caíram”.
Acredita que “seremos capazes de abrir a economia no segundo semestre, o real tem estado mais comportado nas últimas semanas, as expectativas de inflação implícita em 2021 subiram, mas as longas se estabilizaram”.
Analisando o IPCA de maio, o maior impacto veio do grupo Habitação, registrando 1,78%, com impacto direto de 0,28 ponto percentual, decorrente do reajuste de energia elétrica de 5,37%, maior impacto individual no índice (0,23 ponto percentual), com o início da “bandeira vermelha” em maio. Foi forte também o impacto dos transportes, 1,15% em maio, impacto de 0,24 ponto percentual no índice, motivado pelo reajuste da gasolina (2,87%), depois de recuar 0,44% em abril. No ano, o combustível acumula alta de 24,7% e em 12 meses, de 45,8%.
Enfim, achamos serem realidades distintas no Brasil e nos EUA, mas a preocupação em conseguir uma “sintonia fina” ou como dizem, ancorar as expectativas em ambos os bancos centrais. O brasileiro deve intensificar seus ajustes parciais neste ano, para conseguir um IPCA próximo a 3,5% no ano que vem, e o Fed adiar ao máximo o início do ciclo do aperto monetário, que terá que ser muito cauteloso a fim de evitar crises e estouros de bolha.
Boa semana a todos!