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Empresas que desistiram do IPO este ano vão voltar em 2021, diz economista

Publicado 04.12.2020, 16:55
Atualizado 04.12.2020, 17:26
© Reuters.
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Por Leandro Manzoni

Investing.com - A redução da taxa Selic para a mínima histórica de 2% ao ano foi o empurrãozinho que faltava para deslanchar o número de IPOs na bolsa brasileira em 2020, apesar da forte crise provocada pela pandemia de Covid-19. Se a Rede D’Or (SA:RDOR3) confirmar a estreia de sua abertura de capital no próximo dia 10, serão 26 IPOs esse ano.

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Dessa forma, este ano só vai ficar atrás somente de 2007, quando houve o registro de 64 aberturas de capital. Porém, com a diferença que um antes da crise de 2008 o PIB brasileiro cresceu 6,1%, diferentemente da projeção de contração da atividade econômica entre 4,5% e 5% este ano.

“É porque houve uma preparação”, diz o economista Luís Paulo Rosenberg, em entrevista ao Investing.com Brasil, no último dia 25 de novembro, explicando que o tempo mínimo necessário para que uma empresa abra o capital na bolsa a partir do momento da tomada de decisão é de 3 anos.

O número elevado de IPOs cancelados no ano não é um sinal negativo como seria visto a príncipio, na avaliação de Rosenberg, que atuou no setor público como assessor do ministro da Fazenda Delfim Netto e do presidente José Sarney (1985-1990) e com carreira no setor privado como consultor na Rosenberg. “A desistência é [...] um sinal positivo, porque mostra ao empresário o preço em que a ação dele seria colocada”, afirma, apontando que o cancelamento ocorre devido à expectativa da empresa em obter um preço melhor com um IPO mais à frente.

A temática do IPO apareceu na entrevista após elogios do economista à condução da política monetária pelo Banco Central (BC) presidido por Roberto Campos Neto e as dificuldades de a sociedade brasileira de se libertar de “fantasmas” do passado inflacionário para adotar medidas “modernizantes” na gestão da moeda e do crédito nacional.

Entre esses “fantasmas” classificados pelo economista, estão a indexação dos títulos públicos por meio das LFTs (Tesouro Selic) e a reação negativa à conduta do Banco Central em reduzir a taxa de juros para apoiar a atividade econômica, mesmo respeitando o regime de meta de inflação.

Além disso, o economista lança suas projeções para o PIB, IPCA, Selic e dólar para este e o próximo.

Confira abaixo a segunda parte da entrevista. A primeira parte pode ser encontrada no link abaixo.

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Investing.com Brasil: Em relação à política monetária, o Banco Central (BC) retomou a flexibilização monetária em 2019 e no início do ano tinha pretensões de estabilizar a taxa Selic em 4,25%. Mas, veio a crise e a taxa básica chegou a 2%, com dois cortes agressivos de 0,75 ponto percentual no meio do processo. Foi o suficiente?

Luís Paulo Rosenberg: Primeiro, a política monetária exige que se tenha um objetivo e um instrumento muito claro. O objetivo do Banco Central é manter a inflação em um determinado patamar e que permita o máximo crescimento e a justiça social. O instrumento de política monetária tem que olhar a inflação.

Nesse sentido, a inflação ainda está abaixo da meta. Nas estimativas mais negativas que se fazem de inflação para o ano que vem, ainda fica abaixo do limite superior fixado. Portanto, não tem o que mexer. Foi uma condução muito lúcida ao chegar aos 2%, e não vi nenhum motivo para se preocupar.

Caso essa inflação encontrar um mecanismo de perpetuação, seja por terror maior da sociedade ou por um processo quase político de retorno da indexação - que não acredito que venha -, daí teria que atuar sobre isso.

Inv.com: E em relação à política cambial? O BC também deveria ter olhado as consequências para o dólar com a taxa em 2%?

Rosenberg: Não tem que fazer coisa alguma com política cambial. O mercado determina o preço. Quando há um momento de exagero, o BC entra, dá o sinal e deixa. Como se fez ao longo de 2020.

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A condução da política cambial foi muito correta e vamos em frente. Um BC não pode ter como objetivo, com a taxa de juros, controlar a inflação e ter a taxa cambial desejada. Não existe!

Inv.com: Em relação ao comunicado do BC após as decisões da taxa Selic, houve uma inovação com o forward guidance, inspirado no comunicado do Federal Reserve. Como o senhor avalia essa inovação: realmente ajuda a moldar a expectativa futura de inflação e os próximos passos da política monetária? É algo que veio para ficar?

Rosenberg: É algo realmente sendo feito no mundo todo. O BC tem a capacidade de influenciar a inflação por ação direta ou pela formação de expectativa.

A comunicação do BC tem uma importância muito grande. A atual gestão, assim como as anteriores, mostra transparência na ação e na previsibilidade, a maneira como expõe o processo decisório, mesmo quando errado.

Quando há erro na projeção da inflação, é lamentável. Mas, é louvável que sempre mostre: ‘pensava que seria tanto e foi tanto’. E foi aprendendo e reduzindo [o erro], e ganhou hoje uma credibilidade que na época da Dilma não se tinha.

Não tem mais essa de o BC ser parte do Executivo. Ele tem autonomia, esse esforço de legislar é válido, mas é simbólico. Quando foi a última vez que vimos o presidente do BC ser demitido no Brasil porque estava sendo muito austero? A sociedade já se encarregou de fazer a blindagem, agora vamos referendar.

E acho muito bacana nessa legitimação de mandatos se faça o duplo mandato do Banco Central, ou seja, que se olhe para atividade econômica também.

No fundo, se quer crescimento com a inflação dentro da meta. Explicitar isso é muito importante. Não pode chegar para o BC e dizer: “olha, segure a inflação a qualquer custo”.

Qual é a inflação desejável? O que se diz a ‘qualquer custo’? Ou se faz a opção por ter menos crescimento antecipadamente do que correr risco de inflação, ou se trabalha no fio da navalha como todo Banco Central faz.

Acho que estamos avançando muito nessa formação político-econômica.

INV.com: Como funcionaria um Banco Central com duplo mandato?

Rosenberg: O duplo mandato é uma questão de lógica, ele apenas formaliza a missão do Banco Central como sendo a de combater a inflação, mas não a qualquer preço. Ou seja, há um limite de inflação que o governo considera aceitável, tolerável, mas que não se pague a reduzí-la sob pena de sacrificar o PIB.

O que está se dizendo, matematicamente, é o seguinte: a função do Banco Central seria maximizar o crescimento do PIB, sujeito à restrição de que a inflação não ultrapasse um determinado nível, que é a meta. No mundo inteiro se faz isso, é um avanço da mesma importância que o da independência do BC.

Essa gestão atual, nomeada pelo [ministro da Economia] Paulo Guedes, está exatamente nessa direção, acho que estamos passando por um período de ouro na administração da política monetária.

Inv.com: O senhor acredita que é possível ser implementada no Brasil a ideia de o Banco Central usar o instrumento semelhante ao do Fed de intervir na curva de juros após a uma situação de inclinação igual a desse ano? Ela seria uma nova etapa de política monetária? Ou pelo Brasil ser um país emergente, ainda necessita de um BC mais conservador na condução da política monetária?

Rosenberg: Acho que estamos em uma época anterior, no seguinte sentido: como política monetária funciona no mundo inteiro a partir do que ela é recomendada nos livros-textos?

É ter uma dívida pública, colocada entre bancos, cidadãos e empresas. Quando sobe a taxa de juros, o que deveria acontecer? A sociedade empobrecer, por quê? Porque aquele estoque de dívida se desvalorizou.

Se tentar se desfazer de um título que se detinha anteriormente, que rendia, por exemplo, 10% ao ano quando a taxa vai para 15%, o detentor do título vai sofrer uma perda de capital, pois vai ter que vender barato para equalizar a taxa de 15% no mercado.

Como no Brasil há papel indexado, a jabuticaba LFT, se o juro sobe, a remuneração também sobe. Quem tem o papel se beneficia.

Fazer política monetária com um negócio desse é completamente maluco, é romper com tudo que o livro-texto está recomendando.

Não pode ser assim, juros é porrete, não é pagar jantar para convidado. Essa distorção só se elimina fazendo com que a dívida pública seja colocada em papéis pré-fixados, esse é o mecanismo natural.

E a remuneração ser fixada pelo mercado. Não é tarefa do Banco Central, lógico que ele está olhando a curva de juros, pode até fazer uma intervenção tópica, em um momento de descontrole semelhante ao do mercado cambial.

É um recado que tem que funcionar, aí depende da capacidade de comunicação, que tem mais a ver com a política fiscal do que com política monetária, por isso, os espaços têm que estar bem separados.

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Enquanto a gente não tirar esse aleijão da economia brasileira, não vai haver encurtamento da dívida. Por exemplo, se em um determinado momento colocar uma LFT de 10 anos, e em seguida uma LFT de 1 dia, sabe qual é a diferença? Zero! O portador comprava o papel que rendia o juro do dia, e do qual ele se livra do momento que quisesse.

Ficar gastando bala para discutir papel indexado, é brincadeira! Precisamos dar esse passo. Por que o BC não dá? Porque tem esse clima de intranquilidade, gerado pelo nosso passado inflacionário.

Nesse caso, o jeitinho brasileiro foi criar a indexação para que a economia real continuasse funcionando [mesmo] com o lado monetário disfuncional. Isso fez com que o aprendizado dos males da inflação fosse postergado. Isso sempre vai estar em nossa sociedade, logicamente com o tempo cada vez menos, mas ainda é muito recente.

Temos que superar isso para que se possa colocar papéis longos, pré-fixados, que quando os juros caem a sociedade tenha um ganho, como tem que ser. Esse é o principal instrumento para combater a inflação, não mais poder aquisitivo nas mãos de quem tem dívida pública.

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Inv.com: Uma das consequências positivas da taxa de juros em 2% é a saída da aplicação em renda fixa, e a entrada de recursos na bolsa, o que significa financiamento mais barato para empresas. Com isso, 2020 foi um ano com muitos IPOs, paradoxalmente apesar da crise, se contrapondo ao ano do recorde, em 2007, quando houve crescimento econômico. Como o senhor falou de modernização, política monetária trabalhando para que o Brasil tenha uma das menores quedas de PIB do mundo, isso facilitou o número expressivo de IPOs e a facilidade de financiamento?

Rosenberg: Sem dúvida! Na verdade, foi a remoção de um aleijão, isso deveria ter acontecido há muito tempo. E agora está com uma alocação de recursos na economia mais eficiente do que se tinha no passado.

Está ocorrendo, há alguns anos, um movimento de preparação de um clima bursátil muito interessante. A Rosenberg Partners opera muito forte em fusões e aquisições, é impressionante como uma empresa grande só pensa em IPO, trabalha e se prepara para isso, fazendo as auditorias, tornando a atuação dela cada vez mais transparente com uma governança séria. E as médias só pensam em ser vendidas para uma empresa que está se preparando para o IPO.

Isso traz um grau de racionalidade fantástico para a economia. O primeiro efeito positivo é queda de sonegação. Ninguém pode almejar ir para um IPO com [trabalhador] PJ no lugar de trabalhador com carteira assinada. É a mesma coisa em relação a passivos fiscais.

O país está se preparando para esse movimento há algum tempo. Quando se vê os IPOs deste ano, tem que ver que não é só por causa de 2020, claro que a queda da taxa de juros fez a diferença.

É porque houve uma preparação! Não adianta acordar um dia e um grande empresário dizer: "ah, vou para IPO!”. Entre o dia que uma empresa resolve em fazer um IPO até poder passar pelo crivo da CVM e saber que o proprietário vai para a prisão se lesar o minoritário é, no mínimo, uns três anos.

Em 2021, vai ser muito maior o efeito sobre IPOs e follow-ons. Porque houve um tempo de preparação das empresas.

Isso é outro daqueles fenômenos subterrâneos que ocorrem na economia, que trazem mais eficiência, mais produtividade, mais transparência, e que não está se registrando.

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Inv.com: Podemos dizer que, ao mesmo tempo que houve muitos IPOs realizados, houve também muitas desistências. Isso pode ser um sinal positivo, com o mercado mais maduro e as empresas sendo mais bem selecionadas? Quem realmente entra na bolsa tem os melhores valuations?

Rosenberg: A desistência em si é, na verdade, um sinal positivo, porque mostra ao empresário o preço em que a ação dele seria colocada. Então, ele diz: "nesse preço eu compro, eu confio na minha empresa e não entrego, porque sei que vou ter um resultado melhor lá na frente". E todas aquelas empresas que estavam preparadas para IPO vão voltar, proporcionando um 2021 auspicioso para bolsa.

Inv.com: Em relação às projeções macroeconômica, qual é a projeção para PIB, IPCA para 2020?

Rosenberg: IPCA vai fechar próximo a 3,8% e o PIB entre -4,5% e -5%. Para 2021, IPCA deve ser próximo de 3,5%, com uma Selic muito perto de 2%, com um crescimento de 3,5%-4%.

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Inv.com: Quando o senhor fala em perto de 2%, o que isso significa?

Rosenberg: 2%, com viés de alta.

Inv.com: Mesmo com possível fim do auxílio emergencial e taxa de desemprego elevada, é possível a economia brasileira ter esse crescimento que o senhor projetou?

Rosenberg: Claro! A economia brasileira está em um nível de desemprego muito alto, com ociosidade nas empresas, você faz isso com mais facilidade do que no ciclo de crescimento. Tem que acontecer algo muito errado para não acontecer.

Nesse sentido, a eleição de Joe Biden nos EUA é um tranquilizador, pois é um homem mais aberto ao comércio internacional, um negociador.

Esse racha que tem no Parlamento - em que republicano vota de um jeito e democrata de outro - acaba quando se tem um presidente bom de negociação. Claro que a divisão continua, mas tem espaço para uma política mais consensual do que a confrontação de um Trump.

Inv.com: Sobre a Covid-19, alguns países europeus fizeram restrições de circulação social, isso pode afetar as projeções de crescimento, ainda mais com aumento de casos no Brasil e com risco de medidas de isolamento? Esse tipo de avaliação de risco é plausível ou pode não afetar tanto?

Rosenberg: Eu teria muita humildade de comentar isso se não fosse o fato de que a vacina ser uma realidade, que está para ser distribuiída. O Covid tem uma característica que passa despercebida: quanto tempo eu levo para vacinar a população mundial? Com a Covid não precisa vacinar a população mundial. Se vacinar os 10-15% de população idosa, o problema caiu a 2-3%.

Para a economia, o fato de já ter a vacina, significa que a decisão de produzir, empregar, comprar, tem a ver com prazo mais longo do que se a gravidade vai ocorrer em fevereiro ou junho.

Por isso, tenho receio do que vem de sofrimento no resto do mundo por ser inverno e esse repique pode ser bem doloroso e, no Brasil, pela síndrome do 'saco-cheio'. Hoje o número de pessoas que vai às praias, anda sem máscara, é assustador no sentido de propiciar contaminação.

Mas a contaminação dos mais jovens é uma gripe desconfortável, mas não mata. Com a descoberta da vacina, o impacto da Covid na economia vai ser muito menor, apesar de que vai ser uma tragédia indelével na história da humanidade, uma vergonha.

Inv.com: Qual é a projeção do dólar para este e próximo ano?

Rosenberg: Diria duas coisas: 1) nós passamos de um período de juros que nos faziam o palhaço do mundo inteiro, pois qualquer país tomava dinheiro emprestado em sua moeda e aplicava em títulos públicos no Brasil, com um ganho absolutamente estrondoso.

No que eliminamos essa diferença, houve um refluxo de renda fixa aplicada pelo resto do mundo no Brasil, que ajudou a puxar o dólar, essa é a variável mais importante. Esse refluxo tem um limite, que deve estar próximo do final. 2) A taxa de juros mais baixa torna viável uma série de empreendimentos no Brasil que operam com taxa de retorno bem maior do que nos países desenvolvidos. Como o câmbio está muito favorável ao dólar, o investidor fica duplamente corajoso, porque vai investir em uma aplicação de renda variável com bom potencial de retorno e porque o câmbio está em um nível confortável em relação a risco cambial. Deve vir um movimento de entrada.

Se estou certo nessa previsão de que o quadro político, passada a eleição de domingo, tende a ser mais construtivo, essa nuvem negra de incerteza tende amainar. O mercado é muito binário: do mesmo jeito ele está atemorizado porque perdeu o controle, fica alegre.

Não vejo, sinceramente, como ou porque o dólar vai passar dos R$ 5,40. Se ele vai bater R$ 4,90 ou R$ 5, se vai ficar oscilando entre R$ 5,20 e R$ 5,30, é impossível dizer. Não compraria dólar de jeito nenhum!

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