Publicado originalmente em inglês em 01/10/2020
Quando o mês de agosto se encerrou, tudo indicava que as ações iriam continuar subindo. O Federal Reserve prometeu manter as taxas de juros em níveis historicamente baixos, dizendo aos investidores e todos que quisessem ouvir: “vão em frente”.
Os números de emprego também estavam melhorando. O presidente dos EUA, Donald Trump, chegou a dizer que a pandemia de covid-19 havia acabado.
O terceiro trimestre terminou com sólidos ganhos nas principais médias de Wall Street: +8,5% para o índice S&P 500, +7,6% para o Dow Jones e +11% para o Nasdaq Composto. Em tempos normais, seriam desempenhos magníficos.
Ocorre, entretanto, que não estamos vivendo tempos normais. Esse poderoso repique desde as mínimas de março foi responsável por enormes ganhos trimestrais.
No mês, o desempenho do mercado em setembro ficou mais errático. Tivemos grandes ralis nos dois primeiros dias.
Mas, logo depois, as ações se depararam com uma realidade desconfortável. Os preços das ações saltaram tão rapidamente em agosto que acabaram ficando caras, e muitos investidores decidiram realizar lucro e ficar de fora.
Por isso, as principais médias sofreram suas piores perdas desde março. O S&P 500 caiu 3,9%, o Dow derrapou 2,3%. O Nasdaq se desvalorizou 5,2%, assim como o Nasdaq 100, que recuou 5,7%. Essas não foram as piores perdas já registradas. Os declínios de março foram de duas a seis vezes piores.
Todos os quatro índices encerram o pregão de quarta-feira com desvalorização de 6% a 8%, abaixo das máximas de 52 semanas. Mas o S&P 500, o Nasdaq e o Nasdaq 100 ainda registram sólidos ganhos no ano: 4,1%, 24,5% e 30,8%, respectivamente. O Dow, que havia entrado no terreno positivo no acumulado do ano no dia 1 de setembro, encerrou o mês com queda anual de 2,7%.
O que virá pela frente depende dos ganhos de sexta, segunda e quarta-feira, que podem dar início a uma nova tendência de alta.
Otimismo cada vez menor, tensões crescentes
Não obstante, qualquer tendência de alta ocorrerá em um ambiente nervoso. O otimismo que impulsionou as ações neste verão nos EUA e começaram novamente em 23 de setembro se defrontará com as tensões em torno das eleições norte-americanas. Ninguém sabe como essa situação se resolverá, principalmente em vista do debate sem precedentes de terça-feira entre o ex-vice-presidente Joe Biden e o atual presidente Donald Trump.
A pandemia de covid-19 também continua gerando problemas. O número de novos casos na Europa está crescendo. E a pandemia ainda não se estabilizou nos Estados Unidos, tampouco a curva se achou em âmbito nacional.
O início desta semana, a Disney (NYSE:DIS) anunciou que demitiria 28.000 colaboradores de seus parques temáticos por conta da redução de frequentadores causada pela covid-19. As companhias aéreas podem dispensar milhares de trabalhadores na quinta-feira diante do colapso das viagens, sem qualquer expectativa de novo auxílio federal.
Os restaurantes, hotéis e negócios relacionados continuam enfrentando dificuldades, muito embora diversas comunidades em todo o país tenham aberto suas economias. O grande fator desconhecido é se os trabalhadores vão conseguir voltar aos escritórios. Se não voltarem e a opção do teletrabalho se tornar padrão, o mercado imobiliário comercial enfrentará enormes adversidades com a desvalorização.
Ainda há bolsões de força
Mas algumas áreas da economia estão se recuperando relativamente rápido. Sem falar que a esperança de uma vacina contra o coronavírus ainda neste ano ou, no mais tardar, em 2021, continua alimentando o otimismo dos investidores.
O JPMorgan afirmou nesta semana que o S&P 500 poderia subir 12% ou mais nos próximos 12 meses, caso tenhamos de volta algo parecido com a vida normal.
A demanda por serviços de internet é enorme. A Zoom Video Communications (NASDAQ:ZM), que desenvolveu a tecnologia de vídeo que está permitindo ao mundo se comunicar cara a cara sem medo de disseminar o vírus, liderou o Nasdaq 100 com 44% de valorização no mês.
Também é a ação vencedora até agora em 2020, com uma valorização de 590%.
A atividade imobiliária também está forte, em meio à disparada da demanda por espaço residencial, principalmente nos subúrbios, impulsionada pela promessa do Fed de manter os juros em patamares superbaixos provavelmente nos próximos anos.
O rendimento dos títulos de 10 anos do tesouro americano encerrou o mês de setembro a 0,68%, depois de cair levemente em agosto, 0,693%.
As ações da construtora Lennar (NYSE:LEN) registraram nova máxima recorde pelo segundo dia consecutivo, assim como a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool (NYSE:WHR), cujos negócios estão estreitamente ligados ao mercado residencial.
A varejista de desconto Target (NYSE:TGT) e a Trupanion (NASDAQ:TRUP), que vende seguro-saúde para animais domésticos, também atingiram novas máximas na quarta-feira. A Target saltou 4,1% em setembro e impressionantes 31,3% no trimestre. Os papéis da rede ainda apresentam valorização de 22,8% no ano. Trupanion se valorizou 25,8% em setembro e registrou ganhos de 84% no trimestre e de quase 111% no ano.
As ofertas iniciais de ações (IPO) dispararam em todas as formas. Mais de 145 empresas abriram o capital, além de diversas aquisições que coloraram várias novas empresas no mercado.
Forte rali de agosto foi longe demais para alguns
Mas se as coisas parecem estar tão boas, por que setembro foi um mês tão volátil? O mercado se deparou com uma resistência técnica.
Os preços das ações, principalmente as das megaempresas de tecnologia, subiram muito além da conta em julho, principalmente em agosto, quando registraram seu melhor desempenho mensal em pelo menos 20 anos. Os ganhos foram tão altos a ponto de analistas começarem a falar que uma bolha estava prestes a estourar.
Os índices de força relativa superaram a marca de 80 em 2 de setembro nas principais médias. O IFR é um medidor de momentum, e uma leitura acima de 75 sugere que uma correção pode acontecer em breve. Acima de 80 significa que a correção acontecerá em questão de dias. O rompimento começou no dia seguinte.
A fabricante de veículos elétricos Tesla (NASDAQ:TSLA), que disparou 74% em agosto, viu seu IFR atingir 84 no dia 28 de agosto. A ação reverteu em 3 de setembro e registra queda de quase 14% no mês.
Entretanto, encerrou o trimestre com uma alta de 98,7% e de 413% no ano.
A Apple (NASDAQ:AAPL) se desvalorizou 10,2% no mês e viu sua capitalização de mercado cair de US$ 2,25 trilhões para “apenas” US$ 1,98 trilhão. Para fins de consolo, a gigante da tecnologia encerrou o trimestre em alta de 27% e sobe 57,7% no ano.
A Microsoft (NASDAQ:MSFT) e a Amazon.com (NASDAQ:AMZN) apresentam, respectivamente, as outras maiores capitalizações de mercado: US$ 1,59 US$ 1,58 trilhão. O Google (NASDAQ:GOOGL) vem em quarto lugar, com US$ 998 bilhões.
A empresa de vestuário esportivo Nike (NYSE:NKE) apresentou o melhor desempenho do Dow, com uma alta de 12,8% no mês, competindo com a Apple e a Salesforce.com (NYSE:CRM) no trimestre.
A Amazon.com, que talvez seja a maior beneficiária da pandemia, enfrentou dificuldades no mês, caindo quase 8,8% após atingir a máxima de US$ 3.552,25 em 2 de setembro. As ações caíram 14% em 21 de setembro, mas agora registram um repique de 6,3%. Elas se valorizavam 14,1% no trimestre e 70,4% no ano.
FedEx e UPS registram volumes mais fortes
Vale a pena lembrar que as gigantes do setor de entrega e logística FedEx (NYSE:FDX) e United Parcel Service (NYSE:UPS) ficaram entre os papéis com melhor desempenho no índice Dow Jones de Transporte (DJT), já que os consumidores passaram a comprar cada vez mais pela internet. A FedEx subiu 79,4% e a UPS, 49,9%, no trimestre; no ano, seu desempenho foi de 66% e 42%, respectivamente.
As grandes perdedoras do setor de transporte, obviamente, são as companhias aéreas, que têm visto uma recuperação diminuta dos passageiros. Essas empresas estão cancelando pedidos de novos aviões e desativando parte da frota.
Dólar se estabiliza; commodities oscilam
Durante a maior parte do primeiro semestre, enquanto a pandemia se espalhava ao redor do mundo, o dólar acabou se tornando um porto seguro. O Índice Dólar subiu 8,6% no pico do primeiro trimestre e depois caiu 11% entre 23 de março e 1 de setembro, antes de se estabilizar. O índice começou a subir novamente à medida que os investidores se mostravam cautelosos com as ações e passavam a destinar recursos para títulos públicos.
O ouro saltou 10,3% em agosto e encerrou o trimestre com valorização de +5,3%. A prata caiu forte na segunda metade de setembro, com os investidores aparentemente abraçando a ideia de que o Fed continuaria com a nova era de juros baixos.
O petróleo WTI, negociado em Nova York, caiu quase 5,6% durante o mês diante da preocupação com a demanda mundial. Já o Brent, negociado fora dos EUA, seguiu de perto o desempenho do barril americano, caindo 7,3% no mês. No ano, ambos registram queda de mais de um terço, por conta do impacto da pandemia no consumo de óleo.
Esse recente crash nos preços devastou as ações domésticas do setor de energia, que teve o pior desempenho no S&P 500 neste ano, desvalorizando-se cerca de 16% no mês e 21% no trimestre.
A Chevron (NYSE:CVX) caiu 14,1% em setembro e 40% no ano. A Exxon Mobil (NYSE:XOM) também caiu 14% em setembro e 50% no ano. A empresa saiu do índice Dow Jones Industrial no início de setembro, dando lugar à Salesforce.com.
Vacina contra o coronavírus pode oferecer oportunidades
Por fim, vamos dar uma olhada nas empresas que estão trabalhando em uma vacina contra o coronavírus. As que estão chamando mais atenção são:
- Pfizer (NYSE:PFE) e a BioNTech (NASDAQ:BNTX), empresa de biotecnologia alemã.
- Johnson & Johnson (NYSE:JNJ)
- Moderna (NASDAQ:MRNA), empresa de biotecnologia sediada em Cambridge, Mass.
- Novavax (NASDAQ:NVAX), empresa de biotecnologia sediada em Gaithersburg, Md.
- AstraZeneca (NYSE:AZN) e Universidade de Oxford
- Inovio Pharmaceuticals (NASDAQ:INO) em New Plymouth, Pa.
Ainda não temos detalhes de como a vacina será fabricada e distribuída. Mas as empresas que executarem o processo com sucesso podem registrar ganhos expressivos em suas ações. As vacinas podem ser lucrativas para as empresas menores, mas é preciso lembrar que as ações de biotecnologia são geralmente voláteis.
Todas essas ações vêm flutuando significativamente, impulsionadas pelas manchetes e esperanças dos investidores... e também por decepções. Isso está ocorrendo porque ainda não está claro quantas dessas vacinas terão aprovação regulatória.
Mas quaisquer anúncios provavelmente gerarão muito interesse dos investidores.