Em nosso artigo do início da semana passada, colocamos na ordem do dia a discussão sobre se haveria ou não bolha nos mercados acionários, como decorrência da enorme liquidez no sistema financeiro global, como forma de mitigar efeitos da pandemia causada pelo covid-19. Em tese, chegávamos à conclusão que, avaliando os mercados como um todo não havia bolha, apesar dos batimentos sucessivos dos indicadores do mercado acionário americano (Nasdaq e S&P 500), e o próprio Dow Jones voltando ao patamar de 29.000 pontos, o que não acontecia nos últimos seis meses.
Mesmo com isso, lembrávamos que algumas ações americanas, principalmente as ligadas ao setor de tecnologia, poderiam estar sobrevalorizadas, principalmente as grandes líderes como Apple (NASDAQ:AAPL), Amazon (NASDAQ:AMZN), Tesla (NASDAQ:TSLA); incluindo ainda Facebook (NASDAQ:FB), Netflix (NASDAQ:NFLX), Google (NASDAQ:GOOGL) e adjacentes. Convém lembrar ainda que, aparentemente, os investidores estavam antecipando em demasia o futuro dessas empresas, considerando um novo normal onde o salto tecnológico se faria presente. Por qualquer indicador tomado os números seriam absurdamente altos, se comparados com valorizações e indicadores anteriores. Mas o covid-19 teve o poder de colocar em dúvida todas as projeções de conjuntura, que inclusive agora estão sendo melhoradas pela resposta maior das economias na retomada.
Fica então a dúvida se essa antecipação de resultados futuros e/ou brusca aceleração na utilização de tecnologias fariam o efeito de ganhos de produtividade e, consequentemente, de melhora dos resultados futuros das empresas, realmente o fator que mais importa. Só lembrando, o que mais importa para preços em alta nos mercados acionários diz respeito aos fluxos canalizados para o segmento e a expectativa de geração de resultados futuros.
Fazendo um paralelo com o mercado local da Bovespa, diríamos que aqui ficamos ainda longe de recordes do índice Bovespa (nominal ainda cerca de 13,5% de queda em 2020 e em dólar por volta dos 40%). Igualmente mesmo com a moeda real sendo das mais desvalorizadas, ainda assim os investidores estrangeiros já sacaram da Bovespa algo perto de R$ 86,0 bilhões, quase o dobro de tudo que foi sacado liquidamente em todo o ano de 2019. Alguém dirá que tem os IPOs mudando um pouco esse saque. Porém, a participação dos estrangeiros também caiu, se comparada com atuações pretéritas.
Aqui também temos algumas ações que podem estar sobrevalorizadas, novamente ligadas ao segmento de tecnologia e e-commerce que podem sofrer alguns ajustes, caso a pressão vendedora americana prossiga por período maior, ou até intensifique. Mas também não acreditamos em bolha no mercado local. Alguns setores estão bem atrasados com o bancário e até ouros como commodities e saúde, e são ações expressivas na composição do Ibovespa.
Por aqui as dúvidas sobre recuperação da economia também existem, há certo frisson sobre retomada da inflação (no nosso ver ainda descabido), e enorme preocupação com a questão fiscal e aprovação de reformas absolutamente essenciais para agregar confiabilidade e segurança jurídica, ao ponto de voltarmos a atrair investimentos, principalmente, os externos e de mais longo curso, já que no patamar atual dos juros não estamos conseguindo sensibilizar. A ainda a preocupação com a rolagem de nossas dívidas que serão elevadas nos próximos meses e anos.
Certamente estamos longe de querer induzir comportamento vendedor também para o mercado local, mas os investidores, principalmente neófitos na Bovespa, devem avaliar os riscos que estão assumindo (incluindo participação em IPOs e Follow ons), e ter presente que ainda teremos muita volatilidade pela frente. Afinal, temos eleições americanas em novembro (Parlamento também), pressões diplomáticas fortes (China e Reino Unido), necessidade de novos estímulos fiscais, covid-19 voltando a expandir em regiões, etc. Aqui além de tudo isso, os problemas já citados de reformas e ajustes disputas e desavenças políticas e enorme preocupação com o quadro fiscal.