O fato de dois indicadores do mercado americano como o S&P e Nasdaq estarem batendo recordes de pontuação ainda em pleno processo de pandemia, e o tradicional Dow Jones estar também perto das máximas; trouxe de volta a discussão se os mercados acionários estariam ou não diante de uma bolha, situação correlacionada com a enorme liquidez financeira dos mercados no mundo e taxa de juros muito reduzidas, ou ainda negativas nominalmente ou real.
A discussão disso não pretende e nem pode ser definitiva, já que investidores trabalham com expectativas diferentes. Há, por exemplo, aquela visão de que a relação entre preço/lucro (PTE em inglês) das ações já estariam (ou em alguns casos já teriam ultrapassado) em pontos, zonas históricas de reversão de tendência, com possível proximidade do estouro da bolha. Há aqueles que entendem que a liquidez global vai permanecer elevada ainda por anos e taxas de juros muito baixas, ao mesmo tempo, em que as economias e resultados de empresas estariam iniciando boa recuperação, justificando, portanto, indicadores esticados no curto prazo.
Há também a tese de que o novo normal e o uso mais intenso de tecnologia, inteligência artificial e conhecimento acelerado trazem grande contribuição para a redução de custos dos produtos, o que seria a garantia de maior eficiência empresarial, maiores lucros e distribuição de resultados e, portanto, de ausência de pressões inflacionárias e nível de emprego em melhora.
O período atravessado pelos EUA desde a grande crise de 2008 mostra isso com clareza. Inflação renitentemente abaixo da meta e nível de emprego melhorando e chegando ao que se denominou chamar de pleno emprego. A expectativa é que isso possa acontecer novamente no pós-crise da covid-19, o que fez inclusive com que o FED mudasse sua abordagem sobre a inflação, trabalhando com média (ao invés de chegar na meta pontual) ao redor da meta de 2%, sem deixar a inflação recrudescer e sem fórmula matemática para atuação.
Mas há também um quase consenso (se é que podemos identificar dessa forma) de que empresas ligadas ao segmento de tecnologia estariam superavaliadas. Há sempre quem lembre a crise das empresas ponto com do ano de 2000, quando cerca de 5 mil empresas ligadas ao segmento saíram de cena, com buracos nas contas das empresas de capital risco. Entendemos que agora é diferente, mas, ao mesmo tempo, pela própria dinâmica do setor, muitas empresas serão engolidas por outras ou também sairão de cena.
Na Bovespa, fechamos agosto com queda da ordem em 3%, o que induziria perdas no ano de ainda 14%. Se pegarmos a desvalorização cambial, os preços em dólar ainda embutem quedas da ordem de 40%. Não dá para dizer que tenhamos bolha, exceto uma ou outra empresa que se destacou na pandemia por alguma razão avaliada pelos investidores, e conseguiram recuperar e até superar preços pré-pandemia. Mas isso não é uma bolha!
O que está nos preocupando é a fila de empresas credenciando-se para abertura de capital na Bolsa (IPOs). Ao final de agosto, a CVM registrava pedidos de 40 empresas para IPOs, sendo que a metade solicitada dentro do próprio mês, significando recursos a serem captados da ordem de R$ 20 bilhões. Segundo levantamento da Exame, existiriam ainda mandatos para quase 80 novas empresas junto as instituições financeiras.
De nossa parte, acreditamos que os investidores terão que fazer boas escolhas para obter sucesso em seus investimentos no segmento. Uma coisa é captar recursos para alavancar e crescer; além de terem preparado anteriormente a empresa para abertura de capital. Outra, bem diferente é captar para atravessar a crise ou desovar posições detidas por investidores. Além disso, será preciso selecionar empresas que estarão adaptadas para o novo normal pós-pandemia, separando o joio do trigo.
Como diria Shakespeare: assim é (se lhe parece)!