Apesar da queda no último dia do mês, as ações dispararam forte em novembro, com os investidores apostando pesado que as vacinas podem controlar o vírus da covid-19, permitindo que a vida volte ao normal.
O rali de novembro, acompanhado do forte impulso das ações da Boeing (NYSE:BA) após a gigante aeronáutica conseguir aprovação regulatória para a retomada dos voos comerciais do seu avião 737 MAX, fez com que as principais médias de mercado atingissem as máximas durante a semana do feriado de Ação de Graças.
O índice industrial Dow Jones fechou acima de 30.000 em 24 de novembro, pela primeira vez na história. Nos três dias seguintes, o índice caiu quase 1,4%, mas sua valorização mensal de 11,84% foi a maior desde os 13,8% de janeiro de 1987.
O índice S&P 500 saltou 10,6% no mesmo período, sua maior valorização mensal desde abril, sem falar que esse índice amplo registrou seu melhor ganho percentual da história para um mês de novembro. O índice Nasdaq Composto subiu 11,6%, também registrando seu maior ganho desde abril e seu melhor mês de novembro desde 1999.
As ações recuaram na segunda-feira, em parte devido à realização de lucro e a preocupações de curto prazo:
- Embora as notícias sobre as vacinas para a covid-19 sejam positivas, sua disponibilização para o maior número possível de pessoas no mundo pode ser um desafio maior do que o próprio desenvolvimento eficaz dos imunizantes.
- Os preços do petróleo parecem mais frágeis do que nunca. O barril de Brent caiu quase 1% a US$ 48,88, depois de subir 26%.
- O presidente Donald Trump ainda questiona a eleição de Joe Biden à presidência dos EUA.
- A agenda de Biden – de mais estímulo para uma economia em dificuldade diante da nova disparada do vírus – enfrentará pressão se os republicanos conseguirem pelo menos um dos assentos ao senado da Geórgia, o que será decidido no segundo turno em 5 de janeiro.
Uma coisa é certa: as taxas de juros continuarão baixas. O Federal Reserve já garantiu isso. O rendimento dos títulos de 10 anos do tesouro americano de 0,84% caiu 1,9% no mês e ainda registra queda de 56% no ano. Isso é bom para ofertas iniciais de ações (IPOs), compras e construção de imóveis, algumas startups e ações.
Por isso, as ações devem continuar pelo menos estáveis em dezembro e janeiro, apesar do enorme choque ao sistema financeiro global.
Como surgiu o rali de novembro
O rali começou com quatro dias de fortes ganhos com o entusiasmo sobre o progresso das vacinas e a eleição americana, que teve um resultado misto. Biden venceu, mas os republicanos também ganharam no parlamento, sinalizando que não haveria uma vitória acachapante dos democratas. O resultado misto impulsionou os mercados, com os índices Dow, S&P 500, Nasdaq Composto, Russell 2000 e Dow Jones Transporte atingindo novas máximas durante a semana do feriado de Ação de Graças.
Outros índices também registraram ganhos de dois dígitos, mas o impulso não foi tão grande quanto o visto em abril, quando a pandemia começou a dar os primeiros sinais de arrefecimento.
Os claros catalisadores foram os resultados extremamente positivos dos ensaios clínicos demonstrados na parceria da Pfizer (NYSE:PFE); (SA:PFIZ34) com a empresa de biotecnologia alemã BioNTech (NASDAQ:BNTX), Moderna (NASDAQ:MRNA) e a parceria entre a britânica AstraZeneca (NASDAQ:AZN); (SA:A1ZN34) e a Universidade de Oxford.
As ações da Moderna e da BioNTech registraram fortes ganhos em novembro, 126% e 45,5%, respectivamente. (Os ganhos da BioNTech foram nas ações listadas nos EUA).
As notícias das vacinas fizeram com que as ações de companhias aéreas, hotéis e restaurantes voltassem a atrair interesse, já que, até então, os sinais de ressurgimento da covid-19 eram claros ao redor do mundo.
O Dow ganhou impulso extra da recertificação do avião 737 MAX da Boeing. As ações da empresa de aviação sediada em Chicago encerraram o mês com uma alta de quase 46%. Mesmo assim, a Boeing registra queda de 35% no ano e de 53% desde o pico de fevereiro de 2019.
Tesla, SPX e Nasdaq 100
Uma de curiosidade sobre performance: o Nasdaq 100, índice dominado pelas principais ações de tecnologia, como Apple (NASDAQ:AAPL), Microsoft (NASDAQ:MSFT), Amazon (NASDAQ:AMZN), Alphabet (NASDAQ:GOOGL) e Tesla (TSLA), subiu 11% em novembro, o que é digno de nota. No entanto, não conseguiu renovar a máxima de 52 semanas atingida em 2 de setembro.
Mesmo com a Tesla disparando 46% no mês. As ações da empresa abriram na segunda-feira acima de US$ 600 e rapidamente atingiram a máxima histórica de US$ 607,80, mas enfrentaram dificuldade ao longo do dia, fechando em queda de 3,1% a US$ 567,60.
Mesmo assim, a fabricante de veículos elétricos registra alta de 578% no ano. Sua capitalização de mercado de US$ 538 bilhões é cerca de 60% maior do que as capitalizações conjuntas de Ford (NYSE:F), General Motors (NYSE:GM), Honda (NYSE:HMC) e Toyota (NYSE:TM).
A Tesla está gerando volatilidade no S&P 500, já que ingressará no SPX em 21 de dezembro. Por causa do seu elevado valor de mercado, sua adição ao S&P 500 exigirá um enorme rebalanceamento, inclusive no portfólio de todos os fundos que rastreiam o índice, o que deve criar um alto volume de negociação na véspera do evento.
Saída de ações glamorosas
Durante a maior parte de novembro, os investidores saíram dos nomes de grande destaque, como Apple, Microsoft, Netflix (NASDAQ:NFLX) e Facebook (NASDAQ:FB), e entraram em ações cíclicas, como as varejistas Costco (NASDAQ:COST), que subiu 9% no mês e 33% no ano, e a Target (NYSE:TGT), que se valorizou 17% no mês e 40% no ano.
Entre os maiores vencedores estão: papéis de segmentos castigados do mercado, como companhias aéreas, metais e energia. O US Steel (NYSE:X) atingiu a máxima de 52 semanas na sexta-feira e subiu 47% no mês e 24% no ano. As ações da produtora de alumínio Alcoa (NYSE:AA) se valorizaram 54% no mês, mas registraram queda de 7% no ano.
Em novembro, o United Airlines Group (NASDAQ:UAL) subiu 33%. O American Airlines Group (NASDAQ:AAL) se valorizou 25,2% no mês, mas caiu 5,7% depois que as ações da JetBlue Airways (NASDAQ:JBLU) derraparam 4%, ao alertar que sua receita no quarto trimestre poderia cair 70% ano a ano por causa do aumento de casos de covid-19. As companhias aéreas enfrentam uma perspectiva nada boa com a queda do tráfego provocada pela pandemia.
Os preços de energia subiram graças a um salto de 27% nos preços do petróleo. A Chevron (NYSE:CVX) acelerou 25,4%, a Exxon Mobil (NYSE:XOM), 17%, e a produtora de óleo e gás (NASDAQ:APA), 55%.
Os ganhos no petróleo refletiram a recuperação desde o pânico de março, responsável por fazer a cotação do barril de West Texas Intermediate ficar abaixo de US$ 20 antes do fundo do mercado. O Brent tocou rapidamente US$ 15,98.
Com o arrefecimento da pandemia nos meses seguintes, a demanda petrolífera ganhou fôlego, assim como os preços. Até mesmo as perfurações em campos petrolíferos nos EUA mostraram sinais de vida. A contagem de sondas nos EUA, de acordo com a Baker Hughes em seu último relatório, ficou em 241. Trata-se de uma queda de 64% ano a ano, mas uma alta de 40% desde o fundo de meados de agosto, a 172.
O que o mercado de IPOs está dizendo?
O mundo das ofertas iniciais de ações (IPOs) deve atrair muito mais atenção do que neste ano. Então, anote: o mercado de novas ofertas está aquecido, o que pode favorecer as ações de modo geral.
Dados da Renaissance Capital mostram que 193 empresas abriram o capital neste ano, que é o mais ativo desde 2014.
Entre os IPOs mais conhecidos neste ano estão:
- A empresa de software Snowflake (NYSE:SNOW). A companhia abriu seu capital em setembro a US$ 120 e encerrou o pregão de segunda a US$ 325,84, uma alta de 171% desde os preços de IPO.
- Warner Music Group (NASDAQ:WMG). O conglomerado internacional de música e entretenimento abriu seu capital a US$ 25 e agora é negociado a US$ 29,73, uma alta de 18,9%.
- A rede de supermercados Albertson's Companies (NYSE:ACI), que estreou a US$ 16 e encerrou o pregão de segunda estável a US$ 16,03.
- A empresa de big data Palantir Technologies (NYSE:PLTR). A companhia está listada diretamente na Bolsa de Valores de Nova York. Sua estreia foi a US$ 10 e atingiu a máxima de US$ 33,50, encerrando novembro a 27,11, uma alta de 171%.
Empresas de aquisição de propósito específico (SPACs, na sigla em inglês) também registraram muita atividade. Elas vendem ações e garantias aos investidores. O patrocinador depois sai e compra empresas privadas, que se tornam públicas. Até agora, 200 empresas foram adquiridas dessa forma.
Os acordos requerem um retorno garantido do dinheiro dos investidores se não houver consenso.
Entre as maiores SPACs até agora está:
- A empresa de jogos online DraftKings (NASDAQ:DKNG). Ela abriu seu capital em uma aquisição de abril pela SPAC Diamond Eagle Acquisition Corp. As ações já subiram 197% desde sua estreia na bolsa.
As baixas taxas de juros e a busca por maiores retornos são as principais razões para toda essa atividade, de modo que o fluxo de IPOs é o maior em 20 anos, de acordo com a Renaissance, que rastreia o mercado. A empresa estima que as aberturas de capital levantaram US$ 68,6 bilhões em fundos, uma alta de 57% ano a ano.
Muitos investidores estão ansiosos para saber como será o IPO da empresa de aluguéis de imóveis para férias Airbnb, que deve ocorrer em dezembro. Tudo indica que seu valuation atingirá US$ 30 bilhões. A Airbnb afirma que sua receita está crescendo rapidamente após o grande impacto da pandemia, pois realizou cortes de custos e ofertas aos clientes que queriam evitar voar para chegar ao seu destino de férias. Mesmo assim, nunca registrou lucro anual desde sua fundação em 2008.
Há também muitas empresas de biotecnologia querendo lucrar com a abertura do seu capital, a exemplo da Moderna. Evidentemente, essas empresas são uma aposta. Embora a listagem pública as ajude a obter capital para financiar pesquisa, não há a garantia de que seja desenvolvido um produto viável. Novamente, como mostra a Moderna, um produto de sucesso pode gerar enormes ganhos aos investidores.
Mercado parece bom neste momento, mas fique de olho no dólar
Dizer que as ações foram voláteis em 2020 é um eufemismo. O S&P 500 subiu e caiu mais de 10% em um mês três vezes neste ano. Em 2008, quando as ações estavam derretendo, só houve uma mudança de 10%, quando o índice despencou 16,9% em outubro.
Como os meses de novembro, dezembro e janeiro são historicamente bons para as ações, há motivos para manter o otimismo, mesmo com a mudança no governo dos EUA.
As taxas de juros podem continuar baixas, por isso os investidores devem estar comprandos antes de uma recuperação global, considerando que as vacinas de coronavírus estarão disponíveis e serão eficientes.
Tenha em mente, no entanto, que ainda há a possibilidade de que a pandemia piore antes de as vacinas estarem amplamente disponíveis, o que pode pesar sobre as ações. Também há o risco de os preços das ações subirem demais, principalmente com a elevação das compras de empresas como Apple, Alphabet e Tesla; isso aconteceu há um ano, até o mercado atingir o pico no fim de janeiro de 2020.
Entretanto, é preciso ficar atento com a queda do dólar. Os futuros do Índice Dólar caíram 2,3% em novembro e registram queda de 4,4% no ano. O dólar disparou em março e início de abril, quando a pandemia gerou pânico nos mercados financeiros, mas recuou cerca de 9% desde então.
Também há preocupações com um acordo entre o governo Biden, o Senado e a Câmara para a aprovação de um pacote de estímulo para dar suporte a setores da economia que estão sofrendo com a pandemia, principalmente hotéis, restaurantes, indústria de viagem e imóveis comerciais. A falta de um auxílio fiscal aos consumidores americanos teria impacto significativo sobre o setor de varejo.
Tudo isso pode forçar o Federal Reserve a aumentar o suporte econômico, até que haja clareza quanto à disponibilidade das vacinas e seu potencial de estimular a economia.