Bom dia a todos.
Depois da polêmica tônica da semana passada, que mexeu com os brios futebolísticos de muitos, vou ser mais brando nessa.
Aqui vou focar mais em economia e bolsa internacioanal. A parte Brasil deixei a cargo do meu amigo Eliseu, o qual escreveu um excelente texto abordando um tema super importante para você que investe no Brasil: as commodities!
Sem spoiler: lê o artigo que ficou muito bom, mas sobre o que o Eliseu escreveu, eu até tenho minhas dúvidas sobre esse novo ciclo de recuperação, mas vai em linha também com um artigo do Brazil Journal da semana passada, que indagava se o Brasil conseguiria surfar a onda de liquidez internacional que vem aí.
Ainda antes de adentrar o tema dessa tônica, eu diria que um belo indicador positivo para o mercado, o qual justificaria novas altas na bolsa brasileira é isso aqui: "Bolsonaro sonda Temer para ministério", segundo as manchetes do fim de semana...hehehehe.
Mas vamos lá ao meu recado:
UM CAUSO…
Começo comentando um causo real que me aconteceu sábado. Moro aqui nos EUA (Miami) e fui convidado para uma festa de aniversário de criança. Uma amiga da minha esposa na verdade nos convidou. Fomos até lá e eu conheci o marido dela. Sujeito gente boa, um pouco mais novo que eu. Era manager de uma smoke shop (muito comum aqui nos EUA), sem muita experiências em finanças ou mercado financeiro. Logo no início ele, sabendo que eu trabalhava com mercado financeiro, veio me perguntar se eu “entendia de opções” …heheh
Sujeito estava todo entusiasmado, tinha feito um curso de trading para operar opções líquidas de empresas tech americanas, já vinha fazendo isso há um longo tempo (3 meses…kkk) e obtendo bons ganhos na conta demo, mas infelizmente em sua estreia na conta real na semana passada perdeu uns 3 mil dólares.
Resumindo para não ficar longo: tentei ser polido e manter a amizade, sugeri que ele fizesse seus “trades” com 5% do seu capital e o resto comprasse boas ações para carregar para a filha dele daqui 20 ou 30 anos.
…QUE REFLETE A VERDADE
Mas o motivo de eu compartilhar esse “causo” é porque ele reflete algo que é comum aqui e que me soa como perigoso. A PUT/CALL Ratio é um indicador que mede o otimismo e apetite do mercado para risco. Com corretagem free, os milleniuns, e a facilidade de se operar, os cheques do governo, a falta do que fazer, com isso, mais e mais novos investidores também tem acessado mercado americano – abaixo o gráfico que evidencia isso:
Óbvio que a liquidez jorrada na economia também é fator preponderante – vide gráfico abaixo que compara a expansão dos ativos dos Bancos Centrais com o desempenho das FANGS:
Junto a isso, na ânsia de ganhos rápidos muitos buscam nas opções essa alternativa. Abaixo temos o 3 gráficos que mostram a mesma coisa. O primeiro é o volume de call options negociadas nos mercado:
Esse compara o volume de calls com puts num prazo mais longo, chamando atenção para o ratio que se encontra próximo ao da Bolha das .COM.
E o terceiro mostra a PUT/CALL ratio que mostra o quão esticado, para um lado, estamos, ou seja, existem muito mais contratos de calls lançadas no mercado do que Puts, ou seja, muita gente comprando calls e poucos se preocupando com quedas….
Enfim, acho que deu pra entender o recado. Tal qual no Brasil temos visto um crescimento muito grande de gente falando de mercado, trade, ganhos fáceis e coisas do gênero, também há algo semelhante nos EUA, a meu ver um motivo de alerta.
ADAPTABILIDADE
Motivo de alerta, mas também de adaptabilidade. Esse é um mundo novo. A PF na bolsa, a corretagem zero, o volume gigantesco de trade, parece ser o novo normal, quem sabe?!
Dentro desse novo normal, essa semana estava conversando com o pessoal da “firma”, tentando justificar o valuation de 100BI para o Airbnb (NASDAQ:ABNB), o qual nunca deu lucro. Mas, quem discorda que há um valor de Equity ali? Ou quem discorda que o Uber (NYSE:UBER) (SA:U1BE34) possui um grande valor? Ou o Netflix (NASDAQ:NFLX) (SA:NFLX34)? Ou o Spotify Technology (NYSE:SPOT) (SA:S1PO34)? Todos tem algo em comum: não são negócios lucrativos, mas, a meu ver, trouxeram melhoras a nossa vida! Portanto, possuem seu valor, ainda que seja mais difícil de determiná-lo.
E o investidor de bolsa tem que ter essa adaptabilidade em mente, especialmente quem investe nos EUA. Veja que esse ano, justamente as ações que não dão lucro, são aquelas que tem performado bem:
Então ao invés de achar que o mercado está “errado”, é sempre bom ter a humildade de deixar sua opinião de lado e se adaptar. Lucro é importante e sempre será, mas outros fatores também passam a ser importantes na hora de avaliar uma empresa.
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GANÂNCIA ADAPTÁVEL?
Nessa linha de adaptabilidade, uma coisa interessante é que o Fear and Greed Index que volta e meia eu uso aqui, deu uma cedida. Ainda num nível elevado e de extrema ganância, o qual merece atenção e me mantem cauteloso.
Mercado pouco caiu (S&P 500 caiu 1,3% da máxima), mas a medida que o índice é composto por diversos indicadores, tivemos uma arrefecida. A chamada realização de mercado de lado.
E pra acabar 2 ressalvas…
VACINAS
Minha esposa é inglesa, seus pais moram na Inglaterra, eles tem mais de 65 anos, logo são um grupo de risco importante que tem prioridade para receber a vacina. Pois bem, a priori, eles serão vacinados apenas em MARÇO!! Acreditem se quiser! Então me preocupa ver os casos de corona aqui nos EUA e em outros lugares fazendo spike
E as mortes…
E consequentemente fechando as economias – Alemanha entrou em lockdown total ontem até ano que vem!
Qual o impacto disso sobre a economia?! Ainda que tenhamos vacina, o quão demorado será esse processo de vacinação? Será que isso não retardará a recuperação em curso? Enfim, dúvidas que tenho.
DÓLAR
Só para não deixar passar batido, reforço o que tinha comentado semana passada: o dólar está 13% mais “barato” da máxima do final de outubro. Essa semana a divisa americana chegou a alcançar R$ 5,01 em sua mínima e aí chovem previsões de que a queda deve continuar.
Não faço ideia, mas o que posso dizer é que o movimento atual nada mais é do que reflexo do apetite a risco por parte de investidores, o qual motivou a valorização de diversas moedas de países emergentes. O Brasil foi apenas mais um nessa cesta.
O gráfico abaixo do MSCI Emerging Markets Currency ajuda a ver isso. Ele é um agregado de moedas de países emergentes, como o Brasil. Podemos ver que a valorização do real não foi isolada.
Até segunda ordem, em geral, sigo cauteloso.
Era isso.
Aquele Abs.