Nas últimas semanas, falamos sobre a correção que está acontecendo nos mercados. Como observamos na semana passada:
“Como o gráfico mostra a seguir, sugerimos que era possível uma correção de volta às máximas do mercado, o que poderia se estender até a média móvel de 50 dias. Até agora, a correção tem se aproximado muito da nossa previsão.”
Entretanto, também dissemos:
“Apesar de esperarmos um rali na próxima semana, devido à condição sobrevendida do mercado, existe um risco de queda até a média móvel de 200 dias, que está 5% abaixo dos níveis atuais. Isso representaria um declínio de quase 14% em relação ao pico, bastante em linha com os padrões históricos de correções em qualquer ano considerado.”
Na sexta-feira, devido à “expiração quádrupla de opções” (quando todos os contratos de opções no mês de strike atual expiram e são rolados), o mercado perdeu o suporte da MMD50, como mostramos abaixo.
A boa notícia é que, se você preferir pensar assim, o mercado se segurou no nível anterior de suporte menor e continua sobrevencido no curto prazo.
Dessa forma, um rompimento da MMD50 deve apresentar uma recuperação no início da próxima semana ou colocará a MMD200 em foco. Ela está cerca de 7% abaixo do patamar em que estávamos na sexta-feira.
Entretanto, como mostramos a seguir, os mercados estão muito sobrevendidos no curto prazo, portanto é provável que haja um repique nos próximos dias.Se esse repique falhar nas MMD50 e 20 acima, conforme mostra o gráfico abaixo, isso pode confirmar a vigência de um processo de correção.
É importante ressaltar, como dissemos anteriormente, que essa correção não era inesperada e veio em linha com os ciclos de mercado pré-eleição.
A correção acabou? Como já salientamos, é possível haver um repique na próxima semana, mas, como discutiremos mais adiante, pode ocorrer mais pressão descendente em outubro antes do pleito.
Resultado das eleições e repercussão no mercado
A próxima eleição está gerando bastante preocupação. Em razão da animosidade cada vez maior na retórica da direita e da esquerda, isso não é de surpreender. Os republicanos afirmam que Biden provocará um crash no mercado. Os democratas defendem o mesmo para o presidente Trump.
De uma perspectiva de gestão de carteira, o que precisamos compreender é o que acontece durante os anos eleitorais com os mercados acionários e os retornos dos investidores.
"Desde 1833, o Dow Jones se valorizou em média 10,4% no ano antes da eleição presidencial e cerca de 6%, em média no ano do pleito. Por outro lado, o primeiro e segundo anos de mandato presidencial apresentam uma média de ganho de 2,5% e 4,2%, respectivamente. Uma exceção notável recente aos bons retornos em anos eleitorais: 2008, quando o Dow despencou quase 34%. (Os retornos se baseiam apenas no preço e excluem dividendos)”. – Kiplinger
Os dados da tabela abaixo variam um pouco em relação à análise de Kiplinger, pois inclui os retornos totais. Desde 1833, os mercados se valorizaram em 35 anos como esse, com perdas em apenas 11.
Desde a vitória do presidente Roosevelt, em 1944, só houve duas ocasiões em que se registraram perdas em anos de eleição presidencial: 2000 e 2008. Esses dois anos correspondem ao crash das empresas ponto.com e à crise financeira. Em média, as ações apresentam seu segundo melhor desempenho em anos de eleição presidencial.
Com uma taxa de ganho de 76%, as chances são grandes de que os mercados continuem se valorizando. Entretanto, eu não descartaria completamente a chance nada insignificante de 24% de ocorrência de um bear market, em razão da atual fraqueza da economia.
Além disso, considerando os 12 anos de duração do atual bull market, quanto maiores forem os desvios em relação às médicas de longo prazo e os atuais problemas de valuation, maiores são as chances de uma “zebra”.
Programas políticos são relevantes?
A resposta curta é “sim”. Entretanto, não no curto prazo.
As plataformas presidenciais estão preocupadas em ganhar seu voto. Com isso, qualquer político vai sair prometendo um monte de coisas, que raramente são cumpridas.
Por isso, ainda que o debate sobre essas políticas melhore os ânimos no mercado, do ponto de vista histórico e estatístico, não importam muito.
Se analisarmos todos os anos eleitorais desde 1960, veremos que o mercado sobe em média cerca de 2,2%.
Entretanto, esse número é fortemente influenciado pelo declínio durante a crise financeira de 2008. Se tirarmos esse ano, os retornos saltam para 7,7% em anos de eleição.
O mais importante é notar que, em ambos os casos, o salto nos retornos se dá em setembro e outubro. Como dissemos acima, a atual correção do mercado está bastante em linha com os padrões históricos.
A Grande Divisão
Não importa se você defende este ou aquele partido, quando o assunto é dinheiro, isso fica em segundo plano.
Esse é particularmente o caso atualmente.
“Pela segunda eleição seguida, os eleitores escolherão os candidatos 'menos piores’, e não aqueles que apresentam programas de sua preferência”. – Lance Roberts, Real Investment Show
O mercado já está ciente de que há uma divisão muito mais profunda entre os partidos agora do que em qualquer outro momento da história. A probabilidade de essas políticas serem aprovadas é muito pequena. (Os dados de 2017 foram os últimos de um relatório de 2019. A lacuna é ainda maior agora, já que as mídias sociais alimentam a divisão.)
O que os mercados realmente parecem preferir é o impasse político.
“Uma divisão no congresso historicamente é melhor para as ações, ou seja, a falta de predomínio de um único partido é positiva. As ações se valorizaram cerca de 30% em 1985, 2013 e 2019, sempre com o congresso dividido, de acordo com a LPL Financial (NASDAQ:LPLA). O ganho médio do S&P 500 com a divisão congressual foi de 17,2%, enquanto o PIB cresceu em média 2,8%.” – USA Today
O resultado não será livre de risco
O que podemos tirar dos dados é que as chances são maiores de o mercado encerrar o ano em clima positivo. Entretanto, isso diz pouco em relação ao ano seguinte. Se você voltar à nossa tabela de dados acima, o primeiro ano de um novo ciclo presidencial gera um resultado misto. Também é o ano com o menor retorno médio voltando até 1833.
Como se não bastasse, depois das eleições e de 2021, muita coisa terá que dar certo para que as coisas continuem no caminho certo.
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Prevenção de uma dupla recessão. (Sem um estímulo fiscal maior, esse é um risco plausível).
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O Fed prossegue com sua política monetária expansionista. (Não existe atualmente qualquer indicação disso.)
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O consumidor terá que se endividar para continuar gastando mais. (Esse é o risco da falta de um estímulo fiscal maior ou de um crescimento econômico sustentável).
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Melhora significativa tanto nos resultados quanto na lucratividade das empresas. (A melhora da lucratividade só deve ocorrer com demissões em massa. Entretanto, as vendas continuam em risco devido aos itens 1 e 3).
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Uma forte melhora no emprego, a elevação dos salários e a queda nos pedidos de seguro-desemprego sinalizariam uma recuperação econômica sustentável. (Existem atualmente poucas indicações de que esse seja o caso no repique ocorrido desde a queda de março).
Sem dúvida, todos esses riscos são plenamente possíveis.
Entretanto, se considerarmos que estamos vivendo o maior longo bull market da história, que os valuations estão elevados e que a especulação é muito alta, os riscos de que algo dê errado são muito grandes.
(Embora a maioria da mídia financeira apresente os mercados de alta e baixa em porcentagens, o que é enganoso, pois 100% de ganho e 50% de perda são a mesma coisa, vale a pena notar o que acontece com os investidores analisando os ganhos e perdas cumulativas em pontos. Em todo caso, a maioria dos ganhos de pontos anteriores é perdida durante todo o ciclo de mercado).
Então, como posicionar sua carteira antes da eleição?
Posicionamento de carteira para um resultado eleitoral desconhecido
Nas últimas semanas, repetidamente discutimos a ideia de reduzir o risco, buscar proteção e rebalancear as carteiras. Parte disso se deve, sem dúvida, ao aumento exagerado da euforia desde as mínimas de março e um possível resultado inesperado nas eleições. Como observamos em “Cuidando do Jardim”:
“Essas ações têm dois benefícios específicos, dependendo do que acontecer a seguir no mercado.
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Se o mercado corrigir, essas ações removem as “ervas daninhas” e permitem a proteção do capital contra um declínio subsequente.
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Se o mercado continuar disparando, a carteira ficou limpa e novas posições podem ser adicionadas para participar da próxima pernada de alta.
Ninguém sabe ao certo para onde os mercados irão na próxima semana, muito menos no próximo mês, trimestre, ano ou cinco anos. O que sabemos é que não gerenciar o risco para nos proteger de uma queda é mais deletério aos objetivos de investimento de longo prazo”.
Esse conselho continua válido para montar sua carteira para a eleição. Como dissemos, as chances históricas sugerem que os mercados irão subir independente do resultado eleitoral. Mas estamos falando de médias. Em 2000 e 2008, os investidores não obtiveram a “média”.
É por isso que sempre é importante se preparar para o inesperado. Sem dúvida você não aceleraria em uma via expressa com os olhos vendados. Não faz muito sentido deixar de se preparar para um resultado inesperado.
Reservar um pouco de caixa extra, aumentar o posicionamento em títulos do tesouro e adicionar valor à carteira são ações que ajudarão a reduzir o risco de um forte declínio nos próximos meses. Assim que o mercado sinalizar que “está tudo livre à frente”, você poderá “tirar o pé do freio” e acelerar até seu destino.
Evidentemente, nunca é demais afivelar o cinto de segurança.