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Balanço do Trimestre: Abril Bom Para Bolsa e Brasil Barato, Será?

Publicado 05.04.2021, 14:54
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Vamos lá: 2 semanas atrás comentei na minha tônica aqui no Bugg sobre a águia voando e o Brasil e Europa patinando – link pro texto. Pois é, essa tem sido a tônica desde então. Gosto de escrever porque me faz parar e pensar. Sempre podems estar errados em nossas análises e suposições. E o bom de escrever é que você registra o que está pensando e depois pode ver onde errou ou acertou.

Outra coisa que gosto de fazer, e acredito ser importante para o investidor, é parar para analisar como foi o desempenho do mercado, especialmente em bases trimestrais, que acredito ser a melhor forma de ajustar carteira. Então vamos a esse balanço do primeiro trimestre de 2021.

MUNDO: DANDO UMA GERAL SOBRE O 1T21

Índices. O S&P 500 teve uma alta de 5,8%, o Dow Jones +7.8% e o Nasdaq +2.8%. Essas diferentes variações no trimestre já dão o tom do que vimos no mercado, ou seja, de uma rotação setorial em favor dos setores industriais, cíclicos (petróleo e materiais básicos) e financeiro, em detrimento de tecnologia. A rotação deu o tom, seguindo na esteira da expectativa de reabertura da economia. O gráfico abaixo leva em conta o desempenho da quinta e por isso os valores de variação percentual não batem com o exposto acima. Ainda assim, serve como forma de visualizar o movimento – Dow Jones na linha vermelha, S&P linha preta e Nasdaq linha azul.

Gráfico: S&P 500, Nasdaq e Dow Jones

REITs. Os Reits também tiveram um bom desempenho. O ETF VNQ (Vanguard Real Estate Index Fund) oferece uma boa forma de medir o desempenho dessa classe de ativos, uma vez que representa mais de dois terços do mercado de Reits nos EUA. No trimestre, ele apresentou alta de 8,2%, puxado pelo bom desempenho dos REITs de varejo, escritórios e residenciais – seguindo a linha da expectativa de reabertura da economia e da pujança do mercado imobiliário americano.

Gráfico: ETF VNQ

Bonds. No universo de bonds (títulos de dívidas), o impacto da alta nas curvas de juros futuros americanos acabou pesando sobre o desempenho dessa classe de ativos. O BND (Vanguard Total Bond Market Index Fund) oferece uma boa forma de medir o desempenho dessa classe, dado que sua carteira possui títulos de dívidas de empresas e países. No trimestre vimos uma queda de 3.9%.

Gráfico: BND

VIX. Passado a posse do presidente Joe Biden, vimos a volatilidade e a aversão a risco se reduziu alcançando os menores níveis desde o período pré-pandemia. Gráfico VIX

Ouro. Como reflexo da redução da volatilidade (menor aversão a risco) e com a alta dos yields dos títulos longos americanos, vimos o ouro tendo um desempenho fraco no trimestre com queda de 9.6%.

Gráfico ouro

Commodities. As commodities em nível agregado tiveram um bom desempenho com uma alta de 9.4% no trimestre – índice utilizado para medir isso é o Dow Jones Commodity Index.

Gráfico Dow Jones Commodity Index

Grande parte dessa boa performance se explica pelo salto no preço do barril de petróleo (WTI), que saiu de US$ 48,52 para fechar o trimestre em US$ 59,16, uma alta de 21.9% no trimestre.

Gráfico: petróleo WTI

Emergentes. Esse cenário positivo até que ajudou o desempenho agregado dos mercados emergentes que tiveram alta de 3,2% – medido pelo EEM (iShares MSCI Emerging Markets ETF). No entanto, tal alta não foi percebida pela bolsa brasileira, que caiu 2% no período, saindo de 119.017 pontos para fechar o trimestre nos 116.634 pontos. Gráfico abaixo compara o desempenho dos emergentes (linha vermelha) com o Ibovespa (linha verde).

Gráfico: EEM x Ibovespa

Índice dólar e o Dólar contra o Real. Desafiando muitas projeções e a despeito de toda preocupação com a emissão de moeda e os estímulos monetários que o governo americano tem dado, o dólar se valorizou contra uma cesta de moedas globais. A alta foi de 3,6% medida pelo índice dólar. A explicação aqui me parece simples: (i) as perspectivas de crescimento para economia americana superam a maioria das economias desenvolvidas; (ii) essa expectativa ganha respaldo no avanço rápido da vacinação nos EUA a qual permite uma reabertura mais rápida da economia. Esses dois fatores em conjunto fortaleceram o dólar nesse primeiro trimestre.

Gráfico: Índice Dólar

E contra o Real não foi diferente. Apesar do otimismo do início do ano, vimos os casos de covid-19 aumentar, a economia fechar e a instabilidade política se elevar no Brasil. Nesse cenário o dólar se valorizou 8,4% contra o Real, saindo de R$ 5,19 e fechando o trimestre em R$ 5,63.

Gráfico: Dólar em Real (USD/BRL)

RESUMINDO O TRIMESTRE…

Em linhas gerais, podemos dizer que o investimento no mercado americano se mostrou mais uma vez uma decisão acertada, seja pela valorização observada no câmbio (alta do dólar ante o Real) seja pela alta das bolsas americanas. Além disso, o acesso global permite exposição a outros mercados emergentes e commodities que também apresentaram retorno positivo. Por outro lado, investimentos mais conservadores como é o caso da renda fixa e do ouro, deixaram a desejar nesse trimestre.

O trimestre nos mostrou que é indispensável ter acesso a investimentos globais! Uma carteira só com ativos brasileiros muito provavelmente viu seu valor ser reduzido em dólares; teve perdas na bolsa brasileira e provavelmente não teve grandes rendimentos na renda fixa. Já o acesso global permitiu exposição a outros mercados emergentes e commodities que também apresentaram retorno positivo.

OLHANDO A FRENTE

Obviamente que prospectivamente é sempre mais difícil tecer comentários ou chutes furados, mas do que vejo hoje é que temos alguns fatores que ajudam o otimismo com a economia americana. Vou listar:

  • (i) tivemos um pacote que injetou US$1,9 Trilhão de recursos, sendo grande parte direcionada diretamente ao consumo;
  • (ii) tivemos o anúncio de um novo pacote, agora voltado para infraestrutura, que estima investimentos de mais de US$ 2 Trilhões em alguns anos;
  • (iii) vacinação segue avançando bem com 30% da população vacinada;
  • (iv) índice da atividade manufatureira atingiu seu nível mais forte em mais de 37 anos em março, com o emprego nas fábricas sendo o maior desde fevereiro de 2018;
  • (v) payroll divulgado na sexta surpreendeu a todos vindo bem acima do esperado; taxa de desemprego caiu para 6% com a economia americana gerando 916 mil postos de trabalho ante 675 esperado;
  • (vi) último dado de confiança do consumidor que foi anunciado na terça veio acima do esperado e no maior nível desde abril de 2020.

Do que vejo aqui todos dias morando aqui nos EUA, é um país reabrindo, muitas placas de contratação de gente em lojas, cafés, etc; e a confiança na economia retomando.

Olhando o Fear and Greed Index, apesar das altas, não estamos numa zona de perigo, o que seria no extreme greed.

Fear and Greed Index

Para bolsa, temos ainda um mês de abril que sazonalmente é positivo:

Desempenho histórico das bolsas dos EUA em abril

Então tirem suas próprias conclusões.

BRASIL

Sobre o Brasil, eu sinto um sentimento misto.

No CURTO PRAZO entendo que nossa bolsa esteja barata e que possamos ter alguma reversão disso, ou seja, altas. Só feeling mesmo, um feeling que é reforçado pelo gráfico acima, que mostra que abril tem sido um mês bom para o ativo de risco ações americanas, mas sempre respinga algo no Brasilzão quando o mercado está tomador de risco. Além disso, esse feeling é alimentado por gráficos como esses…

Que mostram que o earnings yield (inverso do P/E) do investimento em bolsa se mostra bem elevado ante a sua média histórica…

E/P Bovespa

E não muito distante do yield de renda fixa

Além disso, quando se olha o gráfico de P/E da bolsa, vê que já houve uma boa reversão a média. E considerando uma recuperação normal de economia que projete alguma melhora de lucros pra 12 meses, vemos o P/E foward já em níveis bem descontados.

Então, eu entendo que sim há espaço para bolsa brasileira andar e corrigir o que ficou para trás dos emergentes ao menos. Penso que é “só” uma questão da vacinação andar minimamente que conseguiremos passar por esse pior momento na economia e isso se refletiria rapidamente na bolsa. E em termos de assimetria me parece que as empresas ligadas ao mercado interno foram excessivamente penalizadas – consumo, construção e shoppings em especial. Sigo achando bancos baratos, mas o mercado parece não concordar comigo, e tenho que dar o braço a torcer pra dizer que as empresas ligadas a commodities ainda parecem baratas, conquanto que os preços se mantenham ou não caiam fortemente.

Ja no MÉDIO PRAZO…

Em exatos 18 meses estaremos decidindo quem será o novo presidente, os novos governadores, os congressistas e senadores, quem será o novo comandante da Eletrobras (SA:ELET3), Banco do Brasil (SA:BBAS3), Petrobras (SA:PETR4), Copel (SA:CPLE6), Cemig (SA:CMIG4), etc.

E dá pra dizer que em uns 8 meses, entrando em 2022, estaremos em campanha, com todos os riscos que isso pode trazer para o mercado. E uma campnha que tem tudo para ser mega polarizada.

Desde que saímos da ditadura militar, sempre tivemos o embate de um candidato de esquerda e outro de centro-direita digamos assim. A campanha de 2022 caminha para ser mega polarizada e a meu ver sem um grande vencedor. E me desculpe o pessimismo: hoje o que temos é um Bolsonaro fragilizado, com pouco apoio político e sem um dream team de ministros; e do outro lado um nome que é forte de um cara que já foi presidente que vocês conhecem bem. Sei que as empresas conseguem superar desafios e enfrentar adversidades e diferentes governos, mas que não dá segurança pra investir a isso não dá! Inclusive, pensando nisso, vejo a cotação do dólar como bem fair!

Sorry, mas não consigo ficar otimista olhando isso acontecer.

Era isso.
Aquele Abs.

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