Desde meu último texto aqui, há 2 semanas, sinto que as discrepâncias e diferenças entre Brasil e EUA só aumentaram. Aliás, os EUA tem mostrado novamente que o megainvestidor Warren Buffett estava certo, não é mesmo? Never bet against America! Vamos lá que explico.
EUA: A águia voando
Tivemos uma semana bastante agitada e cheio de nuances no mercado. Entre altos e baixos, a bolsa americana fechou sem grandes oscilações e sem uma tendência definida, mas ainda assim muito próximas das máximas históricas.
A semana passada começou em compasso de espera do principal evento da semana que foi a decisão de juros nos EUA e os comentários do presidente do FED Jerome Powell sobre a economia americana. Powell não falou, recitou uma poesia ao mercado. Tanto é que na quarta-feira pós sua fala os mercados atingiram novas máximas históricas.
Mas o mercado é um agente bastante intenso, bipolar eu diria. No dia seguinte vimos os juros americanos longos de 10 anos saltarem e isso trazer para baixo as empresas de tecnologia – segmento esse que representa uma parcela bastante relevante da bolsa americana.
A foto não representa o filme?
A “foto” da semana não se mostrou positiva, mas o filme me parece que segue sendo positivo para o mercado americano. Veja que na fala de Jerome Powell ele atualizou as perspectivas de crescimento da economia americana, a qual espera-se que cresça 6,5% em 2021, 3.3% em 2022 e 2.2% em 2023. Esse crescimento deveria levar os EUA a voltarem a situação de pleno emprego em 2023 com a taxa de desemprego caindo dos atuais 6,2% para 3,2%.
Lógico que estamos falando de projeções, as quais carregam um grande índice de incerteza, mas o ponto é que os EUA vem vacinando sua população…
Vacinação avança…
Ainda assim, o que tem destacado os EUA do mundo é a capacidade de vacinação rápida. Os EUA vacinaram 37% da população e o número ficou inclusive acima do número previamente estimado pelo presidente Biden.
E os casos de hospitalizações e de mortes vem caindo vertiginosamente (vide gráficos abaixo).
A América renasce…
Esses dados tem ajudado a reforçar um sentimento de reabertura, esse é o sentimento que vivo aqui, de um mundo que reabre e começa a vencer a Covid-19!
Vou jogar uns gráficos aqui que ajudam a mostrar isso…
Número de passageiros voando nos EUA segue aumentando. Ainda longe dos níveis pré-pandemia, mas já avançando.
Índice de atividade industrial do FED da Filadélfia, uma região tradicionalmente bastante industrializada e que fornece uma boa representação da atividade manufatureira dos EUA. O índice veio acima do esperado e atingindo máximas em anos.
Nessa semana os americanos começaram a receber os cheques de US$ 1.400,00 de socorro à economia. E o que já vimos foi um impacto disso nos índices de confiança das pessoas na economia – vide gráfico abaixo. Todos os cinco indicadores medidos pela ESI aumentaram nas últimas duas semanas.
A geração de empregos medida pelo último payroll veio bem acima do esperado. O número de posts com vagas de empregos no Indeed (site de busca de profissionais) vem crescendo.
Os restaurantes começam a reabrir, ainda com restrições, mas o volume de reservas medido pelo índice OpenTable Seated Diners Index aumentando.
A confiança dos CEOs americanos atingiu recentemente o maior nível desde 1983!
E daria pra citar outros, mas não quero ser enfadonho….
Mas e os yields?
A Suíça, o Japão, a Dinamarca, por exemplo, crescem bem menos que os EUA, e por isso talvez faça sentido que a taxa de juros desses locais seja 0% ou mesmo negativas.
Já nos EUA, vivemos um momento de reabertura da economia com fortes perspectivas de crescimento e geração de emprego e renda. A taxa de inflação dos EUA dos últimos 12 meses foi de 1,7%. Os Fed Funds (a “Selic americana”) está em 0,25%, ou seja, temos aqui um juro real (descontado da inflação) negativo de 1,45%. No entanto, considerando esse crescimento prospectivo, é normal supormos uma normalização de política monetária em algum momento. O que estamos vendo nos yields é o mercado antecipando, apenas isso. É normal que um país que cresça não trabalhe com taxas de juros reais negativas. Então, se a inflação americana subir para 2% ou 3%, por conta em parte do crescimento, é normal que os yields subam. É até saudável que isso aconteça!
Agora, se a economia cresce, as empresas tendem a vender mais e lucrar mais e isso é uma ótima notícia para quem investe em negócios. O trend secular de maior utilização da tecnologia em diferentes vertentes me parece que ainda tem muito espaço de crescimento. Logo entendo o momento como ímpar para quem quer investir nos EUA.
MUNDO: It is not just Brazil…
Já no mundo as coisas ficaram meio estranhas semana passada com o receio de uma terceira onda avançando sobre a Europa. Na sequência e no mesmo dia (quinta-feira), vimos a França anunciar o fechamento de Paris por receio da terceira onda de Covid-19 no país. Mas, se a França tem receio, por que os outros não teriam? Pois é, vimos Alemanha falar em fechamento e a Itália também. Fora isso, na mesma semana diversos países informaram que iriam parar de usar a vacina da AstraZeneca (NASDAQ:AZN) (SA:A1ZN34) por receios com efeitos colaterais.
Qual é a leitura de mercado? Se a Europa enfrenta uma terceira onda e se reduz o seu já lento ritmo de vacinação, o continente deve crescer menos e isso bate na perspectiva de crescimento do mundo em maior ou menor medida.
O impacto de um mundo que pode decepcionar em seu ritmo de abertura foi uma queda no preço de petróleo (cerca de 11% de queda das máximas do início do mês) e de outras commodities.
Pra ajudar, o presidente turco Erdogan, destituiu o presidente do banco central do país, Naci Agbal, dois dias depois de um aumento maior do que o esperado nas taxas de juros. É a terceira vez, desde meados de 2019, que Erdogan troca o presidente do Banco Central. Isso traz certo receio quanto ao Brasil. Isso porque nossa economia também foi fragilizada com a crise da Covid-19, mas se encontra no início de um ciclo de aperto monetário; junto a isso as últimas declarações do presidente foram na linha da intervenção, logo os agentes temem que o mesmo poderia acontecer no Brasil. Abaixo gráfico da Lira Turca despencando contra o Dolar nessa manhã…ou seja, o dolar ficando mais caro para os turcos.
Brasil: Estação Primeira de Covid-19
E chegamos nos nosso brasilzão querido, onde a galera anda fazendo baile funk no metro no rio…dizem q a covid se divertiu a vera!
Isso é o tipo de coisa que realmente deixa o cara preocupado, mas Brasilzão sempre foi meio zoneado mesmo. Mas não por acaso andamos assustando o mundo…e nos assustando…triste ver o número de mortes ainda subindo.
Estamos vacinando, melhor que muita gente, mas também pior! Não dá pra dizer que estamos indo bem no quesito vacina. Aparentemente a Argentina nos passou!
Acho que nem preciso dizer o quanto a vacinação é importante para economia. né? Veja que os indicadores de frequência mostram desaceleração, e a confiança também se reduziu.
Estamos vivendo na pele! Não por acaso o Brasil, com sorte, vai crescer METADE do que os EUA esse ano, lamentável!
Unidos do falar bobagem…
Fora isso nao tem como não se preocupar com as barberagens que vimos sendo feitas em termos de condução de política no Brasil. Novos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados empossados: cade as reformas?
Não, o que tivemos foi uma debandada do atual governo. Cada semana sai um?! Isso e algumas declarações que tiveram o seguinte impacto:
Redução dos fluxos de capital estrangeiro para ações no Brasil e aumentar o risco país. Os gringos ficaram bemmais cautelosos com o Brasil. Várias casas revisaram projeções para baixo.
No preço?
Gosto de pensar que isso tudo já está no preçom e o que não está no preço? A possibilidade de avançarmos a vacinação e reabrirmos a economia, aliás uma economia que se recuperou rápido do choque da covid-19.
Penso que tudo que comentei já está no preço do dólar, bolsa e juros.
Juros: Ahh…Não falei dos juros aqui, mas essa alta de 0,75% foi necessária. Não resolve absolutamente nada. Não muda absolutamente nada. Seguimos com juros reais negativos, seu dinheiro segue sendo corroído em aplicações de Renda Fixa que não remuneram a inflação. Juros baixos não tem ajudado a estimular a economia, e essa alta pra 2,75% não faz nem cócegas no dólar. Mas foi necessária.
Para bolsa, penso que sim já tem muita coisa precificada. E se a a possibilidade de avançarmos a vacinação e reabrirmos a economia não está no preço, temos muito upside correto?
Sim.
Mas não dá pra esquecer que sempre pode piorar!
Era isso.
Aquele Abraço!