Não há dúvidas de que o mês de março foi extremamente doloroso para as ações. E, no início de abril, o mercado continua vulnerável e volátil.
Basta olhar os últimos três dias: o S&P 500 caiu 3,4% na sexta-feira (27), subiu 3,4% na segunda (30) e caiu 1,8% na terça (31), tudo isso depois de um rali de três dias que fez o índice disparar 17,6%.
Pior primeiro trimestre para as ações desde 2008
Por conta de tudo isso, o primeiro trimestre foi o pior para as ações desde o quarto trimestre de 2008.
A derrocada de 23,2% do Dow Jones no trimestre foi um pouco superior à perda de 22,7% absorvida no quarto trimestre de 2008 e também foi o pior primeiro trimestre da história.
Ao todo, o S&P 500 se desvalorizou 12,5% em março e 20% no primeiro trimestre. O Dow caiu 13,7% no mês, acompanhando essa horrível perda trimestral. Já a desvalorização do NASDAQ Composto foi de 10,1% em março e 14,3% no trimestre.
Se não fosse o grande repique iniciado na metade da manhã de 23 de março, o desempenho do mercado acionário poderia ter sido muito pior.
Em sua mínima, o S&P 500 afundou mais de 32% em relação ao topo de meados de fevereiro. O Dow despencou 38,5%, e o NASDAQ Composto perdeu 32,6%. Uma semana depois, as perdas em relação às máximas do mercado haviam recuado para 23,8%, sendo que o Dow reduziu suas perdas para 25,9% e o NASDAQ para “apenas” 21,7%.
Praticamente tudo caiu em março. Houve um colapso nas reservas de restaurantes, companhias aéreas, hotéis e estabelecimentos de varejo não essenciais.
O West Texas Intermediate crude (WTI) sofreu uma queda de 54,2% no mês e 66,5% no trimestre. O cobre, que serve de indicador da atividade econômica futura, desvalorizou mais de 12,2% em março e 20% no trimestre.
O rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro americano caíram 42,6% em março, para 0,668%, fazendo com que sua queda trimestral fosse de 65,2%. Para fins de comparação, na posse do presidente Donald Trump, em 20 de janeiro de 2017, o rendimento desses papéis era de 2,498%.
No que se refere às ofertas iniciais de ações no mercado americano, elas simplesmente pararam.
Recuperação? Ainda incerta, e a expectativa é de mais volatilidade
O que vem pela frente ainda não está claro. Sim, o Federal Reserve e os bancos centrais ao redor do mundo prometeram fazer o que fosse necessário para manter as economias andando. Sim, o Congresso aprovou, e o presidente Trump sancionou um pacote de resgate de US$ 2 trilhões para a economia norte-americana. (E ainda pode haver mais ajuda federal).
Também pode ser verdade que, quando o pior da pandemia de Covid-19 tiver passado, os cartões de crédito e débito voltem a ser usados desenfreadamente. Mas não há qualquer garantia disso.
Para que tudo isso aconteça, os investidores e mercados precisam superar três grandes incertezas:
- Quando o pior da pandemia passará?
- Quando isso acontecer, será que os consumidores – de governos a clientes regulares de varejos – terão confiança para voltar a gastar? As recuperações econômicas geralmente acontecem de forma hesitante e ganham força com o tempo.
- Qual foi o dano ainda não visível às empresas e economias por causa do pânico que tomou conta dos mercados em março de 2020?
Os mercados vão começar a ter uma ideia da profundidade dos prejuízos econômicos nos Estados Unidos na sexta-feira (3), quando o Ministério do Trabalho divulgar os dados de empregos não agrícolas e de desemprego para o mês passado. Mas só teremos uma perspectiva muito mais precisa da situação em 1 de maio, quando será divulgado o relatório de empregos referente a abril, haja vista que as pesquisas feitas para elaborar esses relatórios começam a ser feitas em meados do mês.
Não obstante, os estados com grande exposição à indústria de energia já estarão enfrentando dificuldades, pois muitos produtores de petróleo e gás estão sob pressão. A contagem de sondas de petróleo e gás sofreu uma queda de cerca de 28% em relação ao mesmo período do ano passado e de 64% em relação ao pico de outubro de 2011, de acordo com dados da Baker Hughes.
A queda das commodities foi mais do que apenas uma reação ao vírus da Covid-19. Outros fatores importantes para esse cenário foram o colapso dos preços do petróleo em razão da guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia para garantir participação de mercado, entre outros aspectos de precificação, bem como os níveis sobrecomprados do mercado acionário no início do ano.
Por fim, os mercados de títulos, em particular, entraram em turbilhão quando os investidores foram surpreendidos por chamadas de margens das corretoras. Isso forçou o Federal Reserve a tomar uma ação extraordinária para ajudar a manter esses mercados em funcionamento.
Igualmente significativa foi a aterrorizante velocidade da queda. O declínio de 35% que abalou o S&P 500 começou logo após o índice atingir a máxima histórica em 19 de fevereiro e tocou o fundo em 23 de março. A queda de cinco semanas foi um pouco mais rápida do que o declínio dos mercados em 1987. E foram necessários quase 17 meses para o índice marcar o fundo depois do seu pico em outubro de 2007.
Vale ressaltar ainda que, quando o mercado se recuperar, é preciso não alimentar expectativas de que a subida será tranquila. As ações provavelmente testarão suas mínimas de 23 de março antes do início de uma recuperação real. Quando falamos em ações, títulos ou índices, um claro sinal de formação de fundo é importante.
Muitos perdedores, poucos ganhadores
É difícil fazer uma análise pormenorizada diante de tantas perdas significativas, com destaque para as companhias de viagens – incluindo companhias aéreas, linhas de cruzeiros e empresas de reservas –, as empresas de energia e os varejistas, que sofreram os maiores prejuízos no mês e no trimestre.
A Boeing (NYSE:BA), por exemplo, sofreu uma queda de 66,3% em relação ao seu pico de março de 2019. A ação caiu 45% em março e 54% no trimestre, afetada pelos problemas com o seu modelo 737 MAX e pelos efeitos da pandemia.
A United Airlines Holdings (NASDAQ:UAL) despencou quase 49% no mês e cerca de 54% durante o trimestre.
A Exxon Mobil (NYSE:XOM) sofreu uma queda de 55% em relação à sua máxima de 52 semanas. A Apache (NYSE:APA), que já foi uma produtora de óleo e gás bastante respeitada, caiu 83% em um mês.
A Macy's (NYSE:M), que acaba de dar licença coletiva para quase todos os seus colaboradores, caiu 81% em relação à sua máxima de 52 semanas, 63% em março e 71% no ano.
Não tivemos muitos ganhadores em março ou no trimestre. Apenas três ações do Dow se valorizaram em março: Wal-Mart (NYSE:WMT), Walgreens Boots Alliance (NASDAQ:WBA) e Merck (NYSE:MRK). A Microsoft (NASDAQ:MSFT) foi a única ação do Dow a registrar ganhos no trimestre, mas foi uma alta minúscula de 0,01%.
Entre as ações do S&P 500, apenas 27 ficaram à frente no mês e 28 no trimestre; no NASDAQ 100, 13 se valorizaram no mês e 15 no trimestre.
A Citrix Systems (NASDAQ:CTXS), que desenvolve softwares colaborativos, a Regeneron Pharmaceuticals (NASDAQ:REGN) e a Netflix (NASDAQ:NFLX) foram as ações que apresentaram o melhor desempenho no S&P 500. Elas também tiveram o melhor desempenho no NASDAQ 100.