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Vacina e Política: O Dilema dos Investidores

Publicado 18.01.2021, 09:51
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O feriado nos Estados Unidos em homenagem a Martin Luther King Jr. mantém as bolsas de Nova York fechadas hoje e enxuga a liquidez do mercado financeiro. Mas nem por isso o noticiário internacional perde força. A China abre a semana de dança das cadeiras na Casa Branca com dados robustos em 2020, mostrando que no dilema criado pela pandemia entre economia e vida, a luta contra a covid-19 sustenta uma recuperação em “V”.

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Mas se o governo brasileiro condenou as medidas chinesas de combate à disseminação do coronavírus, o mesmo já não se pode dizer em relação à “vachina”. É nítida a mudança radical de posicionamento do presidente Jair Bolsonaro em relação ao imunizante aprovado ontem de forma unânime pela Anvisa, que se tornou o fiel da balança após o fracasso nas negociações com a Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34) e da busca precipitada por vacinas de Oxford na Índia.

Com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a “Hora H” e o “Dia D” para o início do plano nacional de vacinação segue mantido para quarta-feira (dia 20), às 10h. Mas tudo vai depender do repasse de milhões de doses da CoronaVac de São Paulo para outros estados. Aliás, o governador paulista, João Doria, estava ontem ao lado da primeira pessoa do país a ser vacinada, uma enfermeira do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

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O ato simbólico foi a maior vitória do tucano, fiador da CoronaVac no país, sobre Bolsonaro, que ontem não se manifestou, mas em várias ocasiões menosprezou a vacina concebida pelo laboratório chinês Sinovac e desenvolvida e fabricada no Brasil pelo Instituto Butantan (SP). Para quem não se lembra, o presidente desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mandando cancelar a compra de 46 milhões de doses do imunizante.

Jogo Político

Em outro momento, quando a Anvisa inesperadamente suspendeu os testes dessa vacina por causa da morte de um voluntário, o presidente comemorou dizendo: “mais uma que Jair Bolsonaro ganha”. Vítima de suicídio, o óbito nã teve relação com a vacina e o Butantan retomou os testes. Só depois de muita pressão dos governadores, o Ministério da Saúde concordou em usar a CoronaVac e marcou para hoje o ato de entrega das vacinas.

Mas a politização do tema deve continuar. O estado de São Paulo afirmou que vai manter o volume proporcional da CoronaVac - 1,4 milhão de doses - conforme critérios do plano nacional, desobedecendo a ordem federal de envio imediato de 6 milhões das doses fabricadas. Além disso, Doria retoma a campanha de vacinação hoje, já que cabe às secretarias estaduais estabelecer prioridades e distribuir as vacinas aos municípios.

Seja como for, desde o desastre humanitário no Amazonas cresce a perda de apoio do presidente. Um panelaço promovido na noite da última sexta-feira em todo o país fez rememorar a barulhenta manifestação popular nos tempos do governo Dilma Rousseff. Mas os gritos, em bairros ricos e pobres e até em redutos bolsonaristas, ia muito além da troca do nome que acompanhava o famigerado “fora”.

Ontem, um movimento suprapartidário fez ato pró-impeachment em frente ao Palácio do Planalto. Nas esferas institucionais, deputados e senadores de todos os partidos - o presidente segue sem nenhum - não descartam mais abrir um processo contra Bolsonaro, diante das práticas do governo que põem em risco a população. Por isso, a eleição no Congresso, em 1º de fevereiro, é crucial e o Executivo deve intensificar o toma-lá-dá-cá.

Ainda mais com a disputa na Câmara em aberto. Apoiado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia, e por partidos da oposição, Baleia Rossi conta com aproximadamente 270 votos. O rival Arthur Lira, que tem o apoio de Bolsonaro, teria pouco mais de 210 votos. Já no Senado, Rodrigo Pacheco tem o apoio do presidente Davi Alcolumbre e também do Palácio do Planalto, somando quase 40 votos - inclusive do PT.

Sem Paixão

Quem chegou até aqui, consegue entender a gravidade do cenário político em Brasília, observando, livre da paixão, os elementos que compõem a crise sanitária no país. Não significa que o jogo virou. Quem perdeu, até agora, foi o Brasil, pois depois de idas e vindas em relação à “vacina chinesa do Doria”, vai demorar para imunizar o público previsto. Enquanto isso, mais de 50 países já vacinaram cerca de 35 milhões de pessoas.

Portanto, o dilema do coronavírus se impôs e seja qual for a saída, a solução já é insatisfatória. Os obstáculos para colocar a economia brasileira de volta aos trilhos estão colocados, indo desde a extensão do auxílio emergencial até novas restrições sociais, dificultando o crescimento econômico sem inflação como resultado final. E os ativos domésticos tendem a refletir isso cada vez mais, sem dar o benefício da dúvida ao governo.

Por ora, o apetite estrangeiro segue ávido pela tomada de riscos no Brasil. Mas ao final da semana passada, o Ibovespa encerrou no limiar dos 120 mil pontos, em meio à ausência dos “gringos” antes do feriado hoje nos EUA, o que elevou a demanda do investidor local por proteção no dólar, que voltou à marca de R$ 5,30. Já os juros futuros estão ansiosos pelo comunicado que acompanhará o anúncio da primeira decisão do ano sobre a Selic.

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A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa amanhã e termina na quarta-feira, é o grande destaque da agenda econômica nacional desta semana. Hoje, também merecem atenção as publicações do Banco Central sobre a atividade econômica (IBC-Br) e as estimativas do mercado financeiro. Aliás, a partir da próxima segunda-feira, o relatório Focus traz nova metodologia, com impacto justamente na previsão para o câmbio.

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Atividade x Dívida

Já no exterior, a semana começa com dados robustos da China. O Produto Interno Bruto (PIB) do país superou as expectativas e cresceu 6,5% no último trimestre de 2020 em relação a igual período de 2019, garantindo uma expansão de 2,3% da economia chinesa em todo o ano passado. A previsão era de alta de 6,2% no trimestre e crescimento acumulado de 2,1%.

Com o resultado, a China mais que voltou à tendência de crescimento, garantindo uma aceleração econômica global no ano em que o mundo foi atingido pela pandemia de coronavírus. A forte recuperação sob a forma de “V” significa que o governo chinês foi bem-sucedido ao priorizar o controle de casos da covid-19, ao invés de basear a retomada através da injeção de trilhões de dólares em estímulos fiscais e monetários.

Ainda assim, a abertura dos dados chineses mostra que houve uma enorme discrepância entre produção e consumo, com o crescimento impulsionado ainda mais pela demanda no exterior, principalmente por equipamentos médicos e dispositivos para trabalhar em casa, além de investimentos em infraestrutura e no setor imobiliário. O consumo interno, por sua vez, diminuiu, com o crescimento dos salários não voltando aos níveis pré-pandemia.

As vendas do varejo na China, por exemplo, encolheram 3,9% em 2020, puxadas pela queda de quase 17% em alimentação e restaurantes. Em dezembro, o comércio perdeu tração, com alta de 4,6%, em base anual, ante +5% em novembro. Já a produção industrial cresceu 7,3% no mês passado em relação a um ano antes, acumulando expansão de 2,8% em 2020. Os investimentos em ativos fixos avançaram 2,9% em todo o ano passado.

Os números chineses foram suficientes para garantir uma reação em alta das bolsas de Xangai (+0,8%) e de Hong Kong (+1%), na contramão do sinal negativo que prevalece no exterior, em uma sessão esvaziada por causa do feriado nos EUA. As principais bolsas europeias caminham para uma abertura no vermelho, ao passo que o dólar avança, com o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos abaixo de 1,10%. O petróleo cai.

O destaque lá fora fica com a troca de comando da maior economia do mundo. Após a “insurreição” no Capitólio, a segurança nos EUA foi reforçada para a posse do presidente eleito, Joe Biden, também na quarta-feira, quando discursará em frente ao local invadido. Anfitrião da festa, Donald Trump deixa a Casa Branca na manhã do dia 20 e não comparecerá ao evento. A solenidade será restrita, para prevenir atos de terrorismo interno.

Os investidores estão confiantes em relação ao plano de “resgate da América” anunciado por Biden, que pode injetar uma nova rodada de trilhões de dólares em Wall Street, com parte desse recurso também sendo canalizado às empresas e às famílias. Tal estratégia fomenta o consumo e tende a elevar o custo dos empréstimos, tornando iminente uma nova crise à frente: a das dívidas insustentáveis. Mas isso é um assunto para depois...

Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília

Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações nacionais do dia, a saber, o boletim Focus (8h25), do Banco Central, e os números semanais da balança comercial (15h), além do índice de atividade econômica do BC (IBC-Br) em novembro (9h). No exterior, é feriado nos EUA e as bolsas de Nova York não abrem.

Terça-feira: A agenda econômica segue fraca, trazendo o índice ZEW de sentimento econômico na zona do euro neste mês e mais uma prévia de janeiro do IGP-M.

Quarta-feira: A decisão do Copom é o grande destaque do dia, que traz também a leitura final de dezembro da inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro. Na virada do dia, o BC do Japão (BoJ) anuncia a decisão de política monetária. Entre os eventos de relevo, em Washington, o presidente eleito Joe Biden toma posse para um mandato de quatro anos. No Brasil, está previsto o início do plano nacional de vacinação.

Quinta-feira: O calendário econômico no Brasil perde força, enquanto na Europa é a vez da decisão de juros do Banco Central da zona do euro (BCE), que será seguida de uma entrevista coletiva da presidente, Christine Lagarde. Nos EUA, saem mais dados do setor imobiliário e sobre a atividade na região da Filadélfia.

Sexta-feira: A semana chega ao fim com a agenda econômica norte-americana, enfim, ganhando força e trazendo as leituras preliminares deste mês sobre a atividade nos setores industrial e de serviços nos EUA. Os mesmos indicadores serão conhecidos na zona do euro. No Brasil, também sai uma prévia sobre a confiança da indústria.

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