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ENTREVISTA - UBS-BB: BC só deve retirar forward guidance na reunião de março

Publicado 15.01.2021, 18:10
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Por Ana Carolina Siedschlag

Investing.com - Às portas da eleição para o Congresso e de mais dados sobre a inflação do país, além de dúvidas sobre o impacto do fim do auxílio emergencial, o Banco Central deve, na próxima semana, alterar marginalmente a comunicação da decisão de política monetária em relação a dezembro, se alterar, disse o economista Fabio Ramos, do UBS BB (SA:BBAS3) em entrevista ao Investing.com nesta quinta-feira (14).

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Para ele, fora a incerteza que ronda a vacinação nacional, que já está de certo modo precificada pelo mercado, a principal dúvida continua sendo a política brasileira, e como as reformas necessárias ao país serão negociadas por este caminho.

Ramos, que assina um relatório do UBS desta semana sobre as perspectivas para a América Latina, menciona que as políticas monetária e fiscal do Brasil conseguiram controlar o impacto da pandemia no PIB no curto prazo, mas, na comparação com os pares, o desempenho veio às custas de um aumento do déficit e da dívida pública. Para ele, o cenário só vai mudar quando o país conseguir um consenso político em torno dos temas mais relevantes para a economia.

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Para 2021, as expectativas do UBS são de IPCA a 3,4% no final do ano, mas passando dos 6% entre maio e junho antes de desacelerar; Selic em 4%, com altas começando em junho; PIB de 3,5%, com queda de 0,7% no primeiro trimestre; e câmbio a R$ 4,95 no final do ano.

Confira a entrevista completa a seguir:

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Investing.com: O que podemos esperar do Banco Central na reunião da semana que vem?

Fabio Ramos: O BC está entrando naquela fase de normalização de juros, mas não acreditamos que isso deva acontecer agora. A reunião da próxima quarta deve manter a taxa Selic em 2% e, se houver alguma mudança, vai ser uma calibragem na comunicação, sendo o mais esperado em relação ao forward guidance.

O forward guidance consiste em comunicar sobre o futuro da taxa de juros, pré-anunciar os juros para as reuniões seguintes, enquanto certas condições forem ou não satisfeitas. No caso do Brasil, até então, a taxa de juros ficaria ou parada ou em queda enquanto as expectativas de inflação para o médio prazo não estivessem na meta.

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Inv.com: O que mudou?

FR: Antes, a inflação estava muito abaixo da meta, principalmente durante a pandemia. O que aconteceu de uns dois ou três meses para cá foi que a economia mostrou mais sinais de aceleração, a inflação em tempo real, do dia a dia, subiu mais que o esperado e, principalmente, as expectativas de inflação para frente começaram a subir um pouco e a diminuir a diferença em relação à meta oficial. As expectativas para 2022 estão na meta e as de 2021 começaram a ficar mais próximas.

Em janeiro, talvez já fosse o tempo para remover esse forward guidance, só que achamos que não será agora e que acontecerá somente em março. E por que não agora? Porque apesar de os números de inflação terem ficado um pouco acima do esperado, teremos desenvolvimentos importantes acontecendo durante o primeiro trimestre que são relevantes para o BC, e não só na área econômica, mas na área política também.

Inv.com: Quais são esses eventos relevantes?

FR: Vamos ter uma nova liderança no Congresso, há discussões sobre os gastos fiscais, sobre a volta, ou não, das transferências emergenciais - o que também depende do avanço da pandemia, da segunda onda, que pode colocar mais restrições sociais, e aí questionar quais os impactos potenciais no crescimento do primeiro trimestre.

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Em princípio, sem o auxílio emergencial, o país pode mostrar taxas do PIB mais fracas, talvez alguma queda no primeiro trimestre. Isso porque as transferências emergenciais foram muito importantes em controlar o recuo do PIB durante a pandemia, principalmente no começo. O Brasil foi um dos países, entre os emergentes, que teve uma das performances menos ruins em 2020 por conta da forte reação por parte do governo, do lado fiscal, e, do lado monetário, pelo Banco Central. Agora chegou a hora de começar a avaliar qual o impacto do fim disso.

Inv.com: E em relação à política?

FR: O BC, em março, vai ter mais informações se as transferências vão ser retomadas ou não, se haverá formação de comissão para as reformas, se a votação final do Orçamento de 2021 vai sair ou não, a eleição no Congresso. Tem tudo isso para ver pela frente, além dos efeitos do real nos R$ 5,30, mais ou menos, em vez de R$ 5,70 que chegou entre o terceiro e o quarto trimestre, que vai mostrar uma inflação desacelerando, ou não.

Inv.com: Como o mercado olha para as eleições no Congresso, que acontecem agora no início de fevereiro?

FR: É sempre complicado falar de política, mas o recado mais importante é que um candidato estar mais alinhado ou menos alinhado ao governo não necessariamente indica que será um presidente mais pró-reformas ou menos pró-reformas, assim como se vai ou não trabalhar institucionalmente com o governo. Dependendo das alianças que um deles tenha para conquistar votos, pode ser que surjam pautas com consequências para o mercado, como renovação dos estímulos fiscais, as transferências emergenciais ou um eventual pedido de impeachment, que podem causar poluição para a discussão de outras reformas.

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Mas isso depende muito mais das votações do que do candidato em si que ganhar. No final, vai depender também se o Planalto está alinhado com pautas pró-mercado ou pró-ambiente de negócios. A orientação econômica ampliada do governo, incluindo Executivo, Legislativo e Judiciário, é muito mais importante do que eventualmente se um candidato A ou B ganhar.

Inv.com: Qual a expectativa em relação às reformas? O que sai agora no primeiro semestre e o que não sai?

FR: Timing é complicado e o próprio governo admite isso. Conversamos com representantes do governo e eles mesmo não têm data específica para reformas. Contam com aprovações, que é o nosso cenário-base também. Só que além das datas e do tamanho delas, o importante é conseguir reunir 3/5 do Congresso em volta de temas que melhorem a estrutura da economia e favoreçam o crescimento econômico no médio e longo prazo. Reunir deputados e senadores em torno das reformas é o mais importante. É um fato que sugere governabilidade efetiva muito mais do que uma reforma em particular.

Inv.com: Qual parece ser a mais urgente?

FR: A principal, ao nosso ver, é a PEC Emergencial, porque ela cria instrumentos imediatos para lidar com, por exemplo, os gastos do governo superando a regra do Teto. É um instrumento de curto prazo. As outras reformas, como a Administrativa, a Federativa e a Tributária, são reformas mais estruturantes e de impactos de médio e longo prazo. Todas elas devem avançar de alguma maneira este ano, seja em comissões ou em votações finais.

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Inv.com: Além das reformas, o que mais precisamos para o investidor estrangeiro voltar de vez?

FR: A entrada do estrangeiro já vem melhorando desde o segundo semestre. No final do ano, pós-eleições dos EUA, finalmente resolvida, houve uma volta geral para os emergentes. O Brasil performou melhor em dezembro porque, talvez, tenha piorado mais em relação a isso que os pares, por já estar numa situação ruim diante do investidor estrangeiro antes da pandemia. Isso torna o Brasil muito mais vulnerável a problemas externos.

Inv.com: O que o mercado está esperando em relação às vacinas no Brasil?

FR: Talvez tivesse otimismo demais em dezembro, mas a vacinação deve começar em coisa de duas semanas. Agora, no mundo, vai variar um pouco. Os EUA têm uma população 1,5x a do Brasil. Lá, a vacinação está na ordem de 3%, e isso falando da maior economia do mundo. Alguns países que estão com a vacinação acelerada, como Israel, que passou dos 30% da população, só devem ter toda a população vacinada na segunda metade do ano.

No Brasil, tendo um tamanho continental e sendo um país de renda média, é mais comparável com Índia, África do Sul e México. Esses países também estão engatinhando. Estamos um pouco atrasados, mas é só questão de controlar o otimismo do final do ano passado.

O que está acontecendo já está precificado e o que mostra isso é o próprio real, que não está muito melhor, mas já é um avanço em relação ao terceiro trimestre. A economia também está melhor. O principal não é a vacinação, já que isso já está no preço e em vias de começar. A principal dúvida continua sendo a política.

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