RECONHECIMENTO...
Bom dia a todos. Quem acompanha essas tônicas que escrevo sabe que não tenho problema de assumir e admitir erros. Também não sou muito dado a ficar “contando vantagem” e fazendo marketing agressivo dizendo que chamamos atenção para “oportunidades de uma vida”. Mas achei válido trazer a memória do leitor de que no dia 23 de março de 2020 preparamos uma Tônica Especial te explicando o momento. Tentando trazer lucidez num momento de paúra do mercado. Para quem não lembra, produzimos um report completo com 19 páginas, gráficos, figuras e tudo mais.
Acaso, sorte ou competência, foi exatamente naquele dia que as bolsas fizeram suas mínimas e de lá para cá tem se recuperado. Daquele dia para hoje o Ibovespa acumulou alta de mais de 26%! Acho que acertamos.
ONDE ESTAMOS – COVID?
Dito isso, vamos nos atualizar. Números do corona seguem mostrando que atingimos o pico em diversos países, aparentemente no Brasil ainda poderíamos ver o pico, mas tem muito erro nessas previsões. A meu ver se não vimos ainda, em breve (próximos dias ou semanas) veremos o pico no Brasil, mas aqui estou dando um chute daqueles de 3 dedos que pode ir parar lá na banderinha do escanteio.
Fato é que diferentemente do que os mais alarmistas pregavam, não vamos ver a economia fechada por 3, 6 meses. Corona não vai acabar com o mundo! É possível que tenhamos ondas e que voltemos a falar dele, mas isso aliado a vacinas e tratamentos que surgirão no caminho, fará com que o tema seja lembrado mas sem a intensidade que acabamos de viver.
ONDE ESTAMOS – ECONOMIA
Obviamente que o corona deixou sequelas na economia…é inegável…spike no número de desempregados…atividade econômica nos EUA tomou um baque só visto anteriormente em 2008. ISM da industria divulgado na sexta (01/maio) mostro recorde no declínio da produção, os novos pedidos as fábricas e estoques caindo as maiores taxas desde a crise financeira (2008) e as expectativas de produção negativas pela primeira vez na história da série.
Não só esse. Na verdade um compilado de indicadores econômicos medidos pelo Citi mostram que os dados tem surpreendidos negativamente.
Esses números acima são dos EUA, mas onde quer quer eu tenha lido a figura é a mesma! O que muda é a intensidade. Tipo mesmo a Índia com seu bônus demográfico, seu porte e tendo sido menos abalada pelo corona (em tese) deve ver seu crescimento definhar para o menor desde 1990! Em geral a expectativa de contração de PIB no mundo é de 4% tendo sido atualizada recentemente para baixo, veja o artigo da bloomberg completo.
No Brasil não foi ou não será muito diferente infelizmente. Sabemos que o Boletim Focus é uma olhar de retrovisor. Ele projeta queda de PIB de 3,3% e outros 3% em 2021. Entendo que a projeção de 2021 seja um chute baseado no carrego estatístico do ano ruim que será 2020 em termos de atividade. Morgan Stanley (NYSE:MS) fala em decréscimo de PIB de 5% para o Brasil esse ano e uma recuperação leve ano que vem de 1% – vide foto abaixo.
All in all, o que o corona e as nossas inconsistências políticas conseguiram foi dar um belo chute no saco das expectativas dos agentes! (ps: perdão pelo palavreado chulo.)
ONDE ESTAMOS – MERCADO
Tivemos um mês de abril atípico com altas expressivas no mercado de acões – vide gráfico abaixo que coloca em perspectiva a alta desse abril no mercado americano. No Brasil a alta não foi maior graças as nossas inconsistências políticas. Ainda assim, tivemos mais de 10% de alta no índice, não é pouca coisa!
Começamos o mês com uma tônica negativa com o retorno da retórica EUA x China. Dessa vez o assunto me soa mais sério. Essa suspeita americana de que o vírus não tenha surgido “naturalmente” mas que teria sido gerado em laboratório é bastante séria. Obviamente como plano de fundo você tem eleições americanas e a necessidade e vontade americana de lutar contra aquilo que parece inevitável e uma questão de tempo, ou seja, uma hegemonia econômica pela China. Para quem não sabe o que estou falando a reportagem da BBC explica – link. E aqui novas declarações, dessa vez do secretário Myke Pompeo corroborando a isso: link.
No Brasil, além dos conflitos políticos, em termos econômicos me preocupa a curva de juros e o prêmio de risco atualmente implícito. Comento mais abaixo quando dou minha visão do mercado…
Mas antes vamos ao título dessa tônica…
SELL IN MAY AND GO AWAY?
Detesto essas “máximas” de mercado. Tal qual essa do mês de maio ou o efeito calendário de janeiro por exemplo.
Esse famoso ditado de do mercado de “venda em maio e esteja fora do mercado” (tradução minha) reside em alguns estudos feitos para o mercado americano que mostram o seguinte: estatisticamente, possuir ações de 1º de novembro a 30 de abril de cada ano e sair do mercado na outra metade do ano (de maio a outubro) se mostrou uma estratégia vencedora quando analisamos o S&P 500 ou o Dow Jones Industrial Average. Estar posicionado de novembro a fim de abril gerou um retorno médio de cerca de 5% contra apenas 2% para quem ficou posicionado de maio a outubro. Aqui um link para mais no assunto.
A ideia é que com o verão no hemisfério norte, traders, gestores e investidores reduziriam suas posições em maio para “curtir suas férias” com menos preocupações. O gráfico abaixo compila dados para mostrar isso (fonte).
Não tenho esse estudo para o Brasil. Se alguém tiver ou quiser se candidatara fazer, será bem vindo. Mas o que acho relevante destacar é que não se trata do desempenho do mês de maio em si, mas dos próximos 6 meses. Não se trata de operar vendido, ou apostar que o mês de maio seja um mês ruim.
MINHA VISÃO:
Como disse me preocupa a inclinação da curva de juros e o seu significado. Basicamente o mercado volta a duvidar da solvência fiscal do país e cobra juros mais caros para o financiamento de longo prazo. Juros altos para longo prazo não é bom para o mercado de renda variável. Abaixo o gráfico do Morgan Stanley para o formato da curva de juros atual no Brasil. Curva ficou mais “embicada”, subindo mais em vértices de 2Y a 5Y e estabilizando em patamares mais altos.
Também é importante olhar isso para termos uma visão do prêmio de risco ao se investir em ações. Tradicionalmente o mercado compara o retorno do Earinigs Yield (o inverso do P/E, ou seja, Lucro/Preço) com o retorno do investimento de uma NTN-B longa. Os lucros tendem a cair. Muitos preços já se recuperaram, logo você tem um earnings yield menor. Logo se o retorno de uma NTN longa for alta, diminui-se a atratividade do investimento em bolsa. Estudo do Morgan Stanley ficou interessante sobre isso:
Equity risk premium atual seria de 3,91% ao investir em ações (retorno real acima do retorno da NTN-B de 2045). Já foi maior e isso tem a ver não só com a queda de lucros, mas também com o movimento da curva e por isso quis trazer aqui para vocês.
O mesmo estudo mostra que o Ibov teria que voltar aos 88 mil pontos para o retorno do investimento em ações vis a vis retorno de um título longo (NTN-B 2045) voltar a sua média, dado o cenário de juros atual. Em outras palavras haveria pouco upside.
São apenas estudos. Existem vários deles por aí. Gosto de ler e passar aqui para trazer visões diferentes. Independentemente deles, tenho minhas visões próprias e meu feeling sobre o mercado.
Começo o mês com uma visão mais cautelosa. Não tanto pelo “sell in may and go away”, mas penso que tivemos um mês de recuperação com os mercados colocando na conta as novidades positivas em relação ao Corona, digerindo a injeção massiva de liquidez em nível global e corrigindo algumas assimetrias. Acredito que ainda exista muito “caroço para ser dissolvido nesse angú” da economia global. EUA e China voltando a brigar; economia reabrindo e ainda deve patinar até voltar a engrenar; ainda temos uma situação longe de estável em relação ao petróleo. Internamente nossa economia apresenta fragilidades que são exacerbadas pelo conturbado momento político que a meu ver só deixa o investidor estrangeiro mais receoso de investir no Brasil. Fora isso, sendo pragmático, depois de um mês forte em meio a um cenário incerto, me parece ser prudente adotar uma postura mais cautelosa.
Era isso.
Aquele Abs.