2021 começou numa sexta-feira, feriado, prolongando o fim de semana e adiando para hoje o início das negociações deste ano no mercado financeiro mundo afora. Mas depois de um 2020 sem precedentes, com as ações entrando em colapso e alcançando níveis recordes no período, os investidores já estão calejados para o que vier nos próximos 360 dias.
A expectativa é de continuidade da tendência de alta dos ativos de risco, amparada pela ampla liquidez internacional e pela manutenção das taxas de juros globais perto de zero ainda por algum tempo. Ao que tudo indica, será mais um ano do touro (bull market) - ou do boi, no calendário zodíaco chinês, que será celebrado apenas no mês que vem.
Na volta das festividades, os mercados na Ásia começaram o ano em alta, embalados pelas máximas históricas em Wall Street no último pregão de 2020, na quinta-feira (31), quando os índices Dow Jones e S&P 500 alcançaram novos topos. As bolsas de Xangai e de Hong Kong subiram 0,9%, cada, mas Tóquio caiu 0,7%, diante do aumento de casos de covid-19.
O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, considera declarar estado de emergência na capital. Mas os investidores mantêm o otimismo em relação à vacina contra o coronavírus, apostando que a imunização irá garantir o impulso necessário à economia global para retornar ao normal. Esse sentimento sustenta Nova York no azul, animando a Europa.
Nos demais mercados, o petróleo sobe, com o barril do tipo WTI se aproximando da marca de US$ 50, enquanto o dólar segue fraco, perdendo terreno de forma generalizada para as demais moedas, na contramão da alta no rendimento dos títulos norte-americanos. O ouro também avança, negociado nos maiores níveis em quase dois meses.
Fake News
O noticiário político não faz preço, apesar do negacionismo sem fim dos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro. Enquanto o republicano tentou levar a reeleição no “tapetão”, conforme conversas reveladas em que pressiona por votos e fazem Watergate parecer “fichinha”; o brasileiro garantiu popularidade na praia paulista através de um flash mob.
Mas ao menos em Washington a farsa tem data para acabar. O novo Congresso dos Estados Unidos assumiu as funções ontem. A Câmara dos Representantes, que manteve maioria democrata, reelegeu Nancy Pelosi como presidente. No Senado, a maioria será definida amanhã, quando ocorre a eleição das últimas duas vagas no estado da Geórgia.
No dia seguinte, o Legislativo dos EUA deve selar a vitória do presidente eleito Joe Biden. A posse está marcada para o dia 20. Já no Brasil, as eleições no Congresso acontecem apenas em fevereiro e, até lá, o Palácio do Planalto deve usar o capital político para eleger o deputado Arthur Lira, desbancando o bloco de apoio ao presidente Rodrigo Maia.
Aliás, 2021 começou sem que a Lei Orçamentária Anual (LOA) fosse aprovada, o que limita a capacidade de gastos do governo. O início do ano também foi marcado pelo fim do auxílio emergencial e demais programas criados para combater o impacto econômico da pandemia, como o que permitia redução de jornada e suspensão de contratos de trabalho.
Ameaça Viral
Enquanto isso, o coronavírus segue fazendo vítimas no país, com as mortes superando 196 mil. O total de infectados é de quase 8 milhões. Portanto, a interrupção do benefício aos mais vulneráveis pode ter efeito real na popularidade do presidente - ainda mais se ele mostrar compromisso com o ajuste fiscal - o que joga contra as intenções de 2022.
No mundo, já foram registrados mais de 1 milhão de novos casos da covid-19 apenas neste início de 2021. Mas, como dito, a esperança pela vacina continua conduzindo os mercados, em meio à falta de novidades relevantes e à espera de uma agenda econômica mais forte nos próximos dias, com dados de atividade pelo mundo e emprego nos EUA.
A China abriu a semana de indicadores, ao anunciar perda de tração da atividade. Ainda assim, o índice dos gerentes de compras (PMI) da indústria seguiu em território expansionista pelo nono mês seguido. O dado oficial desacelerou a 51,9 em dezembro, de 52,1 em novembro, enquanto o calculado pelo Caixin passou de 54,9 para 53, no período.
Enquanto o PMI oficial da manufatura saiu do maior nível em três anos, o indicador industrial do Caixin estava no patamar mais alto em uma década. No setor de serviços, o PMI recuou a 55,7 ao final de 2020, de 56,4 no mês anterior, mas segue acima da linha divisória de 50 pelo décimo mês seguido e perto das máximas em mais de dez anos.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações nacionais do dia, a saber, o boletim Focus (8h25), do Banco Central, e dados consolidados da balança comercial em 2020 (15h). No exterior, saem dados sobre a atividade no setor industrial nos EUA e na zona do euro
Terça-feira: A agenda econômica doméstica traz os dados sobre a inflação ao produtor (PPI) em novembro. Lá fora, são esperados novos indicadores sobre o desempenho da indústria norte-americana e chinesa.
Quarta-feira: Mais uma publicação tradicional do dia preenche a agenda doméstica, com o BC informando os dados fechados de 2020 do fluxo cambial. No exterior, dados sobre a atividade no setor de serviços nos EUA e na zona do euro dividem a atenção com os números sobre o emprego no setor privado norte-americano (ADP)
Quinta-feira: O calendário no Brasil está sem destaques, enquanto lá fora sai mais um indicador sobre o desempenho dos serviços nos EUA. Na Europa, serão conhecidas novas leituras sobre a confiança do consumidor e o índice de preços no varejo (CPI).
Sexta-feira: A agenda econômica doméstica ganha força, trazendo o resultado de dezembro do IGP-DI e o desempenho da indústria em novembro. Lá fora, o destaque fica com o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos EUA (payroll).
*Aviso: A partir da próxima segunda-feira, dia 11 de janeiro, A Bula do Mercado volta a ser diária.