Nada poderia ser mais constrangedor do que o que estamos vivenciando no cenário político do Brasil (ou de Brasília). De um lado, um presidente que renega a vacinação e administra, de forma desastrosa, a pandemia; do outro, um sempre “candidato”, envolvido no maior esquema de corrupção da história moderna, virando “ficha limpa”. Pesquisas recentes indicavam ele na frente do presidente atual num segundo turno. Ou seja, 2022 está distante ainda (faltam 18 meses), mas as eleições prometem. Vamos em frente.
Nesta quinta-feira (dai 15) os mercados domésticos resolveram focar mais na economia norte-americana, com as bolsas de valores de NY embaladas pelos bons resultados corporativos, indicadores de crescimento em bom desempenho e sem pressões inflacionárias “preocupantes” no horizonte (para o Fed), o que derrubou os Treasuries de 10 anos ao menor patamar em um mês, 1,54%.
Nas bolsas de NY o dia foi de euforia. A Dow Jones avançou 0,9% a 34.036 pontos, a S&P 500 +1,1%, a 4.170 pontos e a Nasdaq +1,3%, a 14.038 pontos. Como já dito acima, já os T Bonds 10 anos foram a 1,547% e os de 30 anos 2,2322%.
Nos indicadores, as vendas de varejo nos EUA vieram bem robustas, crescendo 9,8% em março contra fevereiro, contra estimativa de 6,1%, e o seguro desemprego caiu a 576 mil, contra previsão de 710 mil, o que reforça esta boa retomada, ainda mais com quase US$ 5 trilhões em estímulos fiscais e política monetária acomodatícia. O risco aqui é uma inflação excessiva de ativos e a formação de bolhas, a estourarem a qualquer movimento em falso do Fed.
Como resultado, o dólar perdeu para os emergentes, e um considerável fluxo de recursos segue para estes mercados, com destaque para aqueles com maior liquidez e oportunidades de “carry trade”. O Brasil estaria neste grupo, mesmo com toda a instabilidade política e o risco fiscal no nosso dia a dia.
Realmente. Continuamos engolfados pelos constrangimentos de sempre (realmente, viver no Brasil tem sido constrangedor). O Orçamento de 2021 continua em impasse, enquanto que o PLDO para o ano que vem, 2022, já está nos gabinetes do Congresso. Deve ser avaliado pela CAE nos próximos dias. Sim senhores, o Orçamento deste ano ainda não foi sancionado, mas já ingressamos com a proposta do Orçamento de 2022. Piada pronta? Talvez.
O que trava o OGU deste ano é que, elaborado pelo Congresso, veio “recheado” de emendas (R$ 31 bilhões) compensado pelo corte de despesas obrigatórias (que não podem ser cortadas). Se Bolsonaro deixar passar isso, será inevitável a reprovação do TCU e o risco de “crime de responsabilidade”. Se for pelo que defende o ministro Paulo Guedes, rejeitando, de forma integral as emendas, corre o risco de “perder o apoio integral do Centrão”, que “lavará as mãos” sobre as várias pressões contrárias. Temos a CPI da Covid 19 já instalada, devendo começar os trabalhos nas próximas semanas, e uma grande quantidade de pedidos de impeachment na gaveta, contra o presidente Bolsonaro. Indo para um lado, ou para o outro, Bolsonaro está bem implicado. Até o dia 22 ele decide.
Sobre o PLDO de 2022, enviado ao Congresso, a meta fiscal é de déficit de R$ 170,4 bilhões, 1,9% do PIB, crescimento da economia em torno de 2,5%, inflação de 3,5% e salário mínimo passando de R$ 1,1 mil a R$ 1.147 (+4,3%). Alguém considera crível esta peça orçamentária? Mais uma peça de ficção...
Em paralelo, o STF trabalhou bastante ontem a tarde, por uma “injunção territorial” anulando todo o processo contra o ex-presidente Lula da Silva (placar foi de 8 a 3). O processo está lá, todas as provas documentadas, não faltam acusações de malversação de recursos públicos, mas Lula teve sua “pena anulada”, porque estes processos tramitaram na “zona” errada das comarcas do Judiciário. Tinha que ter sido avaliada em Brasília. Agora vai para a capital federal e, naturalmente, pelo fato de Lula já ser idoso, acabará em prescrição. Na semana que vem o STF deve avaliar se mantém, ou não, a suspeição contra o ministro Sergio Moro. Alguém tem dúvida sobre o que deve acontecer?
Mesmo assim, na economia uma boa notícia foi o bom ritmo de crescimento do setor de Serviços, mas mais uma vez olhando pelo retrovisor, vemos que toda a instabilidade, desencontros e atrasos nas vacinas deve impactar no ritmo de retomada da economia, que não deve se sustentar em março e abril. Temos o primeiro trimestre perdido, muito fraco, o segundo, “vacilante”, dadas as tantas crises políticas e desencontros, e, com otimismo, alguma retomada no segundo semestre, desde que a população adulta seja vacinada. A torcida é para que isso aconteça até setembro.
No mercado, o Ibovespa fechou na quinta-feira meio tímido, não incorporando tanto a euforia em NY. Avançou 0,34%, a 120.700 mil pontos, mas giro financeiro baixo ainda, R$ 30,5 bilhões, melhor do que em janeiro (R$ 23,5 bilhões em média), mas ainda insuficiente para pensarmos num rally. Na semana, a bolsa sobe 2,6%, no mês 3,5% e no ano 1,4%.
Nosso mercado segue muito interessante para os investidores estrangeiros, mas o ambiente político institucional e o “empacamento fiscal”, são uma barreira. Com a queda do dólar no mercado global, o real deu mais uma respirada, a terceira seguida, com o dólar recuando a R$ 5,6281 (-0,75%). Contribuiu para isso, o bom drive exportador de commodities agrícolas e o ingresso de investidores externos.
Nos mercados globais, este virada de quinta para sexta-feira foi promissora com uma série de indicadores chineses. O PIB/1TRI veio crescente em 18,3% na comparação com o 1TRI/2020 (previsão de 19,2%), ligeiramente abaixo das expectativas; as vendas no varejo dispararam 34,2% em março, na base anual, contra março de 2021, superando as expectativas de crescimento de 28%; e a produção industrial cresceu 14,1% em março, perdendo a previsão da Reuters de crescimento de 17,2%. Isso nos ajuda a explicar, ou entender, o super ciclo de commodities em curso.
Nesta sexta-feira, no futuro as bolsas de valores de NY operavam na linha d`água, as bolsas da Europa em alta e os futuros de petróleo em suave valorização, mas pouca sustentação.
Boa sexta-feira e bom fim de semana a todos!