Ao longo das últimas semanas, discutimos que, ao mesmo tempo em os mercados avançavam de forma aparentemente “irrefreável”, níveis técnicos extremos eram alcançados.
Esse é o problema em confiar nas manchetes da mídia, em vez de prestar atenção ao que está acontecendo no mercado subjacente.
Na quarta-feira, o título de capa era o seguinte:
Manchete sobre o S&P, quarta-feira: “S&P500 Dispara e tem melhor fechamento diário em quase dois meses.”
Na quinta, a manchete já era esta:
Manchete sobre o S&P, quinta-feira: “Ações têm maior queda desde junho; Dow Jones despenca 865 pontos, Nasdaq, 5%.”
A quinta-feira não foi uma surpresa, como observamos em “O Inverno está chegando”:
"O mercado encontra-se atualmente em extremos históricos. Eu expliquei esse conceito de forma muito mais detalhada aqui.
No entanto, o ponto mais crítico do artigo era o extremo desvio em relação às médias de longo prazo. Como observamos, as linhas de tendência e as médias móveis tendem a agir como 'gravidade’. Quanto mais o mercado se afasta da linha de tendência, maior é a probabilidade de correção”.
Desvio-padrão do S&P 500 em relação à MM 200 Semanas
Quando os mercados ampliam os extremos, tudo leva a crer que se trata de um cenário “impossível de perder” para os investidores. É nesses momentos que “vender alto” se torna uma oportunidade, o que é muito difícil de realizar em razão do "medo de ficar de fora".
A questão agora? Será que foi um derretimento pontual ou o início de um processo de correção mais significativo?
Sinais, sinais e mais sinais por todas as partes
Nas últimas três semanas, não paramos de publicar “sinais de exuberância” que variavam desde a especulação incrivelmente alta em opções até o posicionamento dos investidores. Alguns desses indicadores encontram-se agora em níveis só vistos em 1999.
Se você tem três minutos, este vídeo aborda algumas das indicações atuais que sugerem que o risco continua superando a expectativa de retorno.
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Eu gravei esse vídeo na quinta-feira pela manhã antes da abertura do mercado.
Então, a liquidação no S&P 500 ocorrida na quinta e sexta-feira reverteu a maioria desses excessos a níveis em que a expectativa de retorno supera o risco?
SP500-Gráfico Diário
A resposta breve é “não”.
Em todos os níveis, o mercado continua sobrecomprado e extremamente esticado em relação às médias móveis intermediárias. Uma correção de um ou dois dias não irá reverter esse cenário a patamares que representem uma “oportunidade de compra”.
No entanto, ainda há um forte “sentimento altista” no mercado, que pode levar a diversas tentativas de operações do tipo “caiu, comprou” antes que a correção se concretize, como vimos na sexta-feira.
Essa é a correção de 5% sobre a qual falamos na semana passada?
“Nenhum desses dados significa que o mercado está prestes a afundar.
Seu real sentido, como discutimos em “O inverno está chegando”, é que uma correção de 5-10% se mostrava cada vez mais provável nos próximos dois meses. Se bem que uma correção de 5-10% não pareça ser demais, a sensação será muito pior em razão do nível de complacência dos investidores atualmente.
Todos os dados sugerem que “O Inverno Está Chegando”. É por isso que estamos adicionando “valor” às nossas carteiras para nos prepararmos para o clima mais frio”.
Não por acaso, a liquidação de quinta e sexta-feira chocou muitos investidores inexperientes que pensavam que isso não poderia acontecer.
Liquidação nas ações de tecnologia
É difícil acabar com o momentum
Um aspecto crucial do mercado que não podemos perder de vista é que é extremamente difícil de acabar com o “momentum”.
Muitos investidores de varejo e parte da mídia vão imediatamente encarar a liquidação da quinta e sexta-feira como uma oportunidade para aproveitar “ações mais baratas”. O viés geral no curto prazo é que você deve comprar qualquer “correção” e, por um breve período, pode ser que estejam certos.
Podemos validar essa visão observando a especulação dos compradores de calls que, apesar da correção, aumentaram suas apostas alavancadas no mercado. Além disso, esse nível especulativo não encontra precedentes na história. O eventual resultado quando tudo isso se desenrolar é óbvio.
Gráfico do S&P 500
Gráfico – cortesia de Sentiment Trader
Entretanto, no curto prazo, o mercado recuou até um brevíssimo suporte. Suspeitamos que o repique atrairá diversos compradores de impulso e aqueles que “ficaram de fora” e querem embarcar no movimento. É bem provável que o repique na próxima semana represente uma oportunidade de venda à luz das negociações pós-feriado.
SPX – Gráfico Diário
Ademais, como notamos anteriormente em “A História de Dois Mercados de Alta”, os desvios de longo prazo ainda são problemáticos. As extensões são tão grandes que exigirão uma correção de vários dias ou semanas para que esses extremos sejam sanados. Como mostramos, o declínio da semana passada praticamente não é notado e contribuiu pouco para reverter as condições sobrecompradas de mais longo prazo.
Índice de Large Caps do SP500 – Atualização de mercado
Composição de carteira
Atualmente, estamos em uma armadilha.
No longo prazo, os mercados estão sobrecomprados, supervalorizados e esticados em relação ao arrefecimento econômico, possível reviravolta política e perspectivas de resultados ruins.
Por outro lado, temos um mercado fortemente altista, um momentum extremo e uma tendência de alta de curto prazo.
Então, o que fazer? O mesmo que você faz com um “porco-espinho”.
Você lida com ele com muita cautela.
Na sexta-feira, aproveitamos as mínimas do início do pregão para incrementar algumas das nossas posições de tecnologia cuja redução discutimos recentemente:
“Consequentemente, em vista das condições extremas de sobrecompra no curto prazo e aos desvios, o risco de uma breve reversão em aumentaram. Por isso, passamos essa semana colhendo parte do nosso lucro em AAPL, MSFT, CRM, ADBE, AMZN e plantando algumas sementes para nosso jardim de outono (VIAC e T).
Isso não significa, entretanto, que vendemos tudo e formamos caixa. Continuamos mantendo alguma exposição em ações nos mercados. Só estamos ajustando algumas posições, bem como a duração dos nossos títulos e adicionando mais nomes ‘defensivos’ à nossa alocação acionária”.
As adições na sexta-feira só estão nos fazendo voltar aos pesos-alvo em alguns dos nossos investimentos que estavam com peso reduzido antes da correção.
Vale lembrar que continuamos otimistas com os mercados com o atual momentum nos mercados. Entretanto, reconhecemos o grande volume de risco existente em razão dos valuations excessivos, extensões e desvios.
Se a tendência de curto prazo do mercado mudar da alta para a baixa, realizaremos as devidas alterações em nosso posicionamento.
O problema para a maioria dos investidores é a falta de disciplina na gestão de capital e a indisposição de reconhecer que o que estava funcionando parou de funcionar.
Preferimos reconhecer a mudança e ter a disciplina de lidar com ela.