Olá pessoal! Alguns de vocês devem ter notado que não publiquei a coluna na semana passada. Conforme divulguei em minhas redes sociais (@carlosheitorcampani), por conta de muitos compromissos profissionais tive de remanejar a publicação da coluna para quinzenal (mantendo sempre às sextas-feiras). Não me sentiria confortável em escrever textos rapidamente e sem algo que realmente fizesse valer o tempo de leitura de cada um de vocês. A decisão visa me permitir manter o que julgo ser a alta qualidade dos conteúdos que divido aqui com vocês.
Na última coluna, terminei a série de oito textos sobre Valuation de empresas, projetos e ativos em geral. Se você tem interesse no assunto e não acompanhou, sugiro fortemente a leitura dos oito textos, ao seu tempo. Há conteúdo ali que você não encontrará em livros, pois é fruto de minhas pesquisas e experiência profissional. Hoje, depois de algum tempo, volto a apresentar a análise dos melhores e piores papéis da bolsa em 2020. Para quem está chegando agora na coluna, eu costumo fazer tal análise periodicamente por aqui.
Trabalho com o universo dos 100 ativos (ações e units) que compõem atualmente o IBrX 100. Este índice é mais abrangente do que o Ibovespa e escolhe seus 100 constituintes pelos maiores índices de negociabilidade, funcionando como um ótimo filtro de liquidez. Qualquer análise de ações que não estejam neste índice precisa ser feita com extrema atenção, pois a baixa liquidez esconde riscos que retornos diários não conseguem capturar. É assunto quiçá para outro texto por si só!
A análise parte do preço de fechamento do último pregão em 2019 e vai até o fechamento da última quarta-feira, dia 18 de novembro. É importante notar que utilizo retornos totais, ou seja, que incorporam eventuais dividendos, JCP, desdobramentos, bonificações etc. Com isso, alguns dos retornos apresentados abaixo não serão exatamente iguais à variação da cotação do papel no período em análise. Para aqueles que quiserem a planilha com a análise completa (com todos os 100 papéis), basta acessar meu website (disponível no meu perfil no Investing.com) e procurar pela notícia desta coluna na seção “Na Mídia” (se não funcionar via smartphone, tente via desktop ou laptop). Espero que seja bacana e útil para todos vocês!
Como critério de performance, sempre utilizo o índice Campani. Como explicado em meus textos aqui de 8, 15 e 22 de maio, este índice tem a mesma interpretação que o famoso índice Sharpe (retorno médio por unidade de risco), mas utiliza métricas de retorno e risco conceitualmente corretas e bem fundamentadas (nos textos citados explico claramente porque o Sharpe é fundamentalmente equivocado e pode, muitas vezes, melhorar artificialmente a performance de maus gestores, prejudicando os bons gestores). Listo abaixo os 15 melhores e os 15 piores papéis e, para efeito de análise e comparação, o Ibovespa, o índice SMLL de small caps da B3 (SA:B3SA3) e ainda uma carteira fictícia igualmente ponderada (1/n) com todos os 100 papéis que constituem atualmente o IBrX 100.
Com cotações mais do que dobradas em 2020, duas ações se destacam: Weg (SA:WEGE3) e Magazine Luiza (SA:MGLU3). Quem apostou nesses papéis em 2020 está bastante feliz. Do pelotão dos 15 melhores, outros dois papéis chamam a atenção pela baixíssima volatilidade: Cteep (SA:TRPL4) e Taesa (SA:TAEE11). Esses papéis são os de menores volatilidades dentre todos os analisados! Isso leva a performance lá para cima, ainda mais com retornos agradavelmente positivos (em que pese serem os dois menores retornos da lista dos 15 melhores).
As performances obtidas por esses 15 papéis tornam-se ainda mais significativas quando comparadas ao Ibovespa, que reflete uma performance média de mercado. Este ainda não recuperou o patamar do final de 2019, assim como a maioria dos papéis analisados: mais precisamente 64 deles ainda estão com rentabilidade negativa no ano. Note que a performance do índice de small caps (SMLL) está ligeiramente abaixo do Ibovespa, o que indica que o efeito tamanho (size) apresenta impacto pouco significativo em 2020.
Por sua vez, o índice igualmente ponderado praticamente voltou ao patamar do final de 2019, com índice de performance 4% acima do Ibovespa (1,04 vs. 1,00). Esta maior performance de carteiras igualmente ponderadas (normalmente chamadas de carteiras 1/n) é bastante frequente e amplamente analisada na literatura acadêmica: decorre da maior diversificação em relação a índices ponderados por valor de mercado. Estes últimos, tal como o Ibovespa, são concentrados nas empresas maiores. Além disso, estratégias 1/n seguem o racional de “vender na alta e comprar na baixa”, pois vendem um ativo quando este sobe de preço e compram quando cai de preço. Se você quiser entender mais sobre carteiras igualmente ponderadas (1/n), acesse esse texto da coluna.
Na parte inferior do ranking, o IRB (SA:IRBR3) continua na última colocação (tal como em outras análises que fiz antes por aqui), com uma perda total superior a 80% de seu valor ao final de 2019. Sua volatilidade está altíssima neste ano, sendo a quarta maior dentre todos os 100 papéis analisados (perde apenas para Azul, Gol e CVC). Aliás, a ação da CVC (SA:CVCB3) chama a atenção porque possui a segunda pior rentabilidade com a terceira mais alta volatilidade e ainda assim está à frente de outras sete companhias além do IRB: isso se explica por conta da assimetria dos seus retornos. O papel da CVC tem obtido altas significativas em momentos de subida do mercado, mesmo quando comparadas com as quedas. O problema é que ainda há muito mais quedas do que altas, mas o IC desse papel mostra que se o mercado continuar tendo altas fortes, ele tem maior potencial relativo de recuperação pelas características apresentadas ao longo do ano. Os fundamentos e tudo que temos vivido neste ano explicam esse comportamento e performance.
Algo a ser destacado em relação a análises que fiz anteriormente é a ausência das duas companhias do setor aéreo, Gol (SA:GOLL4) e Azul (SA:AZUL4), da parte inferior do ranking. Elas atualmente estão bem no meio da tabela, entretanto ainda com perdas significativas (de pouco mais de 40% no ano) e as mais altas volatilidades: ao redor de 117%! Mas, tal como no caso da CVC, essa altíssima volatilidade tem assimetria e não pode ser considerada por si só. Devemos sempre lembrar que há dois tipos de volatilidades, que representam dois tipos de risco: o bom e o ruim. Saber “separar o joio do trigo” é fundamental para se analisar corretamente o comportamento de um papel (leia este texto para aprofundar este ponto, que já discuti em diversos momentos diferentes por aqui).
Uma vez mais, para aqueles que desejarem acessar a análise completa, acesse meu site, seção “Na Mídia”, procure a notícia relacionada a este texto e baixe a planilha. A ideia é dividir informação para ajudar a todos! Por fim, fica o convite para me seguir nas redes sociais, nas quais publico bastante conteúdo de educação financeira e de investimentos.
Forte abraço a todos vocês.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor Pesquisador do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência e finanças pessoais, corporativas e públicas. Ele pode ser encontrado em seu site pessoal e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.