Publicado originalmente em inglês em 23/02/2021
Os investidores estão enfrentando dois dilemas pela alta dos rendimentos dos títulos americanos. O movimento os faz se sentir pressionados a buscar respostas.
Dilema No. 1: a perspectiva de uma recuperação econômica robusta no segundo trimestre, com ou sem estímulo governamental, está desencadeando uma liquidação nos treasuries e outros títulos governamentais.
Com isso, os rendimentos sobem de forma generalizada, já que se movem na direção oposta dos preços. Mas a alta dos rendimentos torna os títulos mais atraentes e aumenta a probabilidade de o banco central elevar os juros – ambos os fatores são uma má notícia para as ações.
Dilema No. 2: outra razão para a alta dos rendimentos dos treasuries é que os investidores estão começando a se preocupar com a inflação e querem que os rendimentos reflitam essa preocupação.
As autoridades do Federal Reserve não parecem compartilhar desses temores e continuam reafirmando (demais?) que manterão os juros no chão. Segundo eles, a deflação ainda é uma preocupação tão grande quanto a inflação. O mais importante neste momento, de acordo com as autoridades do Fed, é reduzir o desemprego. Isso requer que a redução da desocupação chegue aos trabalhadores de todos os setores.
Mas as expectativas de inflação ultrapassaram a meta de 2% do Fed, e um sinal tradicional de inflação mais alta é a piora nesse indicador.
O que os investidores farão diante desses dilemas?
Por enquanto, tudo indica que ainda não sabem. Os rendimentos dos treasuries subiram na segunda-feira, com a nota de 10 anos se aproximando de 1,4%, maior nível em um ano, em comparação com 0,9% no início de janeiro. O mercado acionário medido pelo S&P 500 continuou em queda, e o Nasdaq caiu ainda mais, enquanto o Dow Jones se recuperou das perdas e registrou leve valorização.
Na Europa, o rendimento dos títulos da Alemanha de 10 anos, que serve de referência para os papéis da União Europeia como um todo, continuou em ascensão, ficando um pouco abaixo de -0,33%, após iniciar o ano a -0,60%.
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, afirmou na segunda-feira que o BCE ficará atento aos rendimentos dos títulos públicos, principalmente na ponta longa do mercado, no intuito de manter a recuperação em bom caminho.
Seus comentários fizeram cair os retornos dos títulos da Alemanha e da França (e permitiram que o mercado acionário zerasse as perdas), já que ela pode respaldar suas visões na capacidade praticamente ilimitada do BCE de comprar títulos.
Mohamed El-Erian, especialista de mercado do conselheiro-chefe econômico da Allianz (DE:ALVG), mostra maior ceticismo. “Há boas razões para que os rendimentos subam: atividade econômica. E também há más razões: inflação”, afirmou na segunda-feira à CNBC. O analista afirmou:
“Os economistas, mesmo aqueles que vinham apoiando um grande estímulo fiscal, já estão se mostrando mais cautelosos. Agir grande pode ter consequências grandes demais”.
“Agir grande” é evidentemente o mantra entoado pela Secretária do Tesouro, Janet Yellen, ex-presidente do Fed, já que ela está à frente do plano de estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão do presidente Joseph Biden. Muitos analistas estão com um pé atrás, dizendo que esse estímulo é muito grande, muito custoso e talvez até mesmo desnecessário.
Os democratas no legislativo prometem aprovar o pacote até 14 de março, quando os benefícios de seguro-desemprego expirarem para 11 milhões de pessoas. Mas alguns senadores democratas estão reticentes em seu apoio a algumas cláusulas, e o partido precisa que todos os 50 integrantes da casa votem no mesmo sentido para forçar um voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris contra a oposição republicana.
O presidente do Fed, Jerome Powell, realizará nesta semana seu depoimento semestral em ambas as casas congressuais, e os investidores temem que ele adote um tom mais veemente e indique um aperto monetário ou, talvez pior, mostre-se muito complacente com a alta dos rendimentos dos títulos.