Publicado originalmente em inglês em 10/11/2020
O presidente eleito Joseph Biden resumiu corretamente o cenário em sua primeira atualização de status sobre o coronavírus na segunda-feira. “É importante compreender que essa batalha contra a covid-19 ainda levará meses”, afirmou, referindo-se ao tempo necessário para vacinar a população americana, mesmo com a Pfizer (NYSE:PFE) anunciando um importante progresso em seus ensaios clínicos.
Mas as palavras do presidente eleito fizeram pouca diferença, já que os algoritmos capazes de ler manchetes já haviam feito sua aposta: mais risco, menos segurança.
Apesar do alerta de Biden sobre o excesso de euforia com os tratamentos da covid-19 neste momento, os futuros do ouro derreteram US$ 100 por onça na segunda-feira, maior perda diária desde agosto, já que praticamente todos os outros mercados dispararam, das ações ao petróleo.
O colapso do metal amarelo também se deveu à inclinação da curva de 10 anos dos títulos do tesouro americano, com os mercados deixando de precificar uma expansão fiscal pelo congresso em razão de uma liderança política extremamente dividida. Isso jogou por terra um importante fator de suporte do ouro: o diferencial de rendimento. E também impulsionou o dólar, acelerando a venda por pânico, já que os mercados caíram agressivamente.
Mas os investidores do ouro não estavam sozinhos em sua miséria. As ações de tecnologia foram a bola da vez em Wall Street, com o índice Nasdaq caindo mais de 1% no fechamento, após atingir a máxima recorde de 12.108 no início do dia. O índice mais amplo Dow, que também registrou um recorde de 29.934 na segunda-feira, encerrou o dia em alta de quase 3%, a maior em quase seis meses. A lógica para isso foi que as pessoas em breve voltarão a trabalhar em suas baias no escritório em vez do home office, reduzindo muito, com isso, a necessidade de videoconferências.
Recuperando terreno
Nesta terça, o ouro já recuperava parte do terreno perdido. O preço spot, que segue a cotação do lingote à vista, ultrapassava US$ 1.880 nesta madrugada, cerca de US$ 20 acima do fechamento de segunda-feira. Evidentemente, não se pode dizer que essa recuperação será persistente, já que os gráficos sugeriam que o metal e seus contratos futuros negociados em Nova York tinham mais espaços para cair no curto prazo.
Em uma publicação no site FX Street, o grafista Omkar Godbole, referindo-se à mínima do lingote a US$ 1.850,36 na sessão anterior, afirmou o seguinte:
“Apesar de os preços terem repicado em relação às mínimas de seis semanas, o candle de engolfo de baixa na segunda-feira ainda é válido.”
“O viés imediato continuará baixista enquanto os preços forem mantidos abaixo da máxima de US$ 1.965. Pelo lado da baixa, a mínima de 28 de setembro a US$1.848 é um suporte-chave que, se rompido, pode expor a média móvel simples de 200 dias a US$ 1.781."
O ouro terá uma quarta chance?
Em uma publicação no site Daily FX, James Stanley, estrategista especializado em ouro, ponderou se a liquidação havia acabado, já que o metal parecia estar prestes a recapturar as máximas acima de US$ 1.965 que o colocariam rumo a repetir o recorde de agosto acima de US$ 2000.
Stanley disse ainda:
“Os preços estão em uma zona importante, que vai de US$ 1.859 a US$ 1.871 no gráfico, que é a mesma área negociada em agosto, setembro e outubro e que ajudou a definir as mínimas.”
“A grande questão é se o ouro terá uma quarta chance”.
Além disso, Stanley citou o anúncio da Pfizer, dizendo:
“Essa notícia [da vacina] da covid ainda é relativamente nova, e a situação continua fluida: prepare-se para mais volatilidade no ouro e outros mercados macro.”
A Pfizer declarou que sua candidata a vacina para a covid-19, desenvolvida em parceria com a BioNTech SE (NASDAQ:BNTX), apresentou eficácia de mais de 90% nos últimos ensaios. A empresa planeja solicitar à Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos EUA uma autorização de emergência para uma vacina de duas doses no fim deste mês, depois de coletar os dois meses recomendados de informações de segurança.
A gigante norte-americana de medicamentos declarou que espera produzir 50 milhões de doses da sua vacina em 2020 e até 1,3 bilhão em 2021.
Vacinas da covid necessitam de temperaturas ultrabaixas
Mas, como apontou o New York Times na segunda-feira, a ampla distribuição da vacina da Pfizer será um desafio logístico. Por ser feita à base de mRNA, as doses precisarão ser mantidas a temperaturas ultrabaixas. Embora a Pfizer tenha desenvolvido um resfriador especial para transportar a vacina, equipado com sensores térmicos e rastreamento via GPS, ainda não está claro onde as pessoas receberão o imunizante e qual será o papel do governo na sua distribuição.
Considerando as condições de armazenamento de mRNa estipuladas por outra desenvolvedora de uma vacina para a covid-19, a Novavax (NASDAQ:NVAX), ficam claros os riscos de excesso de euforia com essas notícias.
De acordo com uma pesquisa publicada, o mRNA precisa ser mantido a pelo menos 70 graus Celsius negativos.
Amesh Adalja, acadêmico do Centro Johns Hopkins de Segurança em Saúde, afirmou:
“A cadeia de resfriamento será um dos aspectos mais desafiadores da entrega dessa vacina. Isso será um desafio em todos os ambientes, pois os hospitais, mesmo os das grandes cidades, não dispõem de instalações de armazenamento para uma vacina a essa temperatura ultrabaixa".
De acordo com reportagens, até mesmo o famoso Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota, não possui essas instalações.
Movimentos extremos de mercado, como os ocorridos na segunda-feira no ouro, revelam o problema que os operadores e seus algoritmos enfrentam no processamento de possíveis tratamentos relacionados à covid-19, ante a ameaça de infecções do coronavírus em tempo real, que continuam atingindo máximas recordes nos Estados Unidos.
Na segunda-feira, havia um pouco mais de 59.000 pacientes da covid-19 nos hospitais ao redor dos Estados Unidos, país com o maior número de internados para tratamento contra a doença.
Agora, de volta ao ouro: A Análise Técnica Diária do Investing.com mostra que o primeiro importante suporte do ouro está a US$ 1,819.50, seguido de US$ 1.777,15 e US$ 1.703,95. São patamares muito inferiores aos alvos dos analistas citados acima.
Com todas as projeções, siga os gráficos, sem deixar de lado os fundamentos – e a moderação – sempre que possível.
Boa sorte.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.