O último mês de um ano sem precedentes na história começa hoje com uma perspectiva favorável do que vem por aí em 2021. Após um desempenho estelar das ações globais em novembro, com o Ibovespa registrando a maior alta mensal desde 2016 e o Dow Jones voltando a 1987, o mercado financeiro mantém o otimismo em relação a vacinas eficazes contra o coronavírus, lançando luz para a recuperação econômica mundial.
Nem mesmo o risco fiscal no Brasil foi capaz de afetar o desempenho dos ativos locais, com o apetite dos investidores estrangeiros pelas ações domésticas sustentando o Ibovespa próximo aos 110 mil pontos. A entrada recorde de recursos externos por aqui garantiu uma queda de quase 7% do dólar no mês passado, mas as incertezas sobre as contas públicas e a agenda de reformas sustentaram prêmios na curva de juros futuros.
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E a tensão em relação à retomada dos trabalhos em Brasília no pós-eleições persiste, com os investidores prevendo poucos avanços na pauta de votações no Congresso, diante da disputa pelas presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro. Mas o problema não é só o Legislativo. O mercado também espera uma sinalização do governo sobre o rumo dos gastos em 2021 - se será na direção da contenção ou da expansão.
A indefinição sobre as fontes de financiamento para a criação de um programa de transferência de renda mais abrangente, que irá substituir o Bolsa Família, bem como a possibilidade de estender o auxílio emergencial aos mais afetados pela pandemia mantêm o risco de “furar” o “teto dos gastos”. Tais medidas populistas visam a disputa eleitoral em 2022, ainda mais diante da análise de que o “bolsonarismo” foi um dos grandes derrotados do pleito municipal, ficando atrás apenas do PT.
Onda positiva
Enquanto as questões locais não são endereçadas, o mercado doméstico testa o fôlego para continuar surfando na onda externa. O sinal positivo prevalece lá fora nesta manhã, com os índices futuros em Nova York exibindo ganhos firmes, o que favorece a abertura do pregão europeu, após uma sessão de alta na Ásia. O destaque ficou com a valorização em Xangai (+1,8%), após novos dados robustos sobre a atividade chinesa.
O índice dos gerentes de compras (PMI) do setor industrial na China atingiu o maior nível em uma década, subindo a 54,9 em novembro, de 53,6 em outubro, segundo dados calculados pelo Caixin. O avanço reflete a demanda interna e externa, à medida que a contenção de casos de covid-19 na Europa e nos EUA não resgatou medidas bruscas de isolamento do começo do ano, ao mesmo tempo em que a China se recupera da pandemia.
Foi a sétima vez seguida em que o indicador seguiu acima da linha divisória de 50, que separa a atividade entre contração e expansão, com os indicadores referentes às novos pedidos, vendas, estoques e empregos também crescendo ao ritmo mais elevado em quase uma década. Ontem, o PMI oficial da China referente à indústria, mais focado em grandes empresas estatais, subiu ao maior nível em três anos.
A força da economia chinesa ajuda a compensar o mal-estar com o aumento de casos de coronavírus no Ocidente, com os investidores apostando que a segunda maior economia do mundo será o grande motor da recuperação global, apesar da pandemia arrastar o ritmo da atividade econômica dos EUA e da Europa. Nos demais mercados, o petróleo se equilibra na faixa de US$ 45, ao passo que o dólar segue perdendo terreno para as moedas rivais.
Fala, Powell
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, participa de audiência em comissão do Senado dos EUA, a partir das 12h, para falar sobre as medidas adotadas para conter os impactos econômicos da disseminação do coronavírus no país. O secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, também estará presente.
A comissão supervisiona o pacote fiscal de US$ 2 trilhões aprovado em março. Em comunicado divulgado ontem, Powell afirmou que as perspectivas econômicas dos EUA são “extraordinariamente incertas”, após a moderação no ritmo de melhora da atividade, com uma recuperação total sendo improvável até que a população esteja confiante de que a doença está sob controle.
Outro evento de relevo é o segundo e último dia da reunião dos países exportadores de petróleo (Opep) e aliados, que devem optar pela manutenção dos níveis de produção. Entre os indicadores econômicos, saem as leituras finais de novembro de índices (PMI e ISM) sobre a indústria na zona do euro, logo cedo, e nos EUA, por volta das 12h.
Neste horário, tem ainda os gastos com construção nos EUA em outubro. Também pela manhã, serão conhecidos dados preliminares sobre os preços ao consumidor (CPI) europeu. Por aqui, a divulgação da balança comercial foi adiada para hoje (15h) e traz os dados fechados de novembro e no acumulado do ano.