A CPI da Covid começa a semana com o depoimento hoje do ex-chanceler Ernesto Araújo nesta terça-feira, amanhã é a vez do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. No dia seguinte (20), da sua assessora direta, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã Cloroquina”. São três personagens dos mais esperados nesta CPI, até para esclarecer qual foi (ou é) a lógica de atuação do governo durante a pandemia.
Sobre a CPI da Covid. Pazuello e Mayra Pinheiro requisitaram ao STF o direito de permanecerem calados. Creio que o ex-ministro sim poderá se manter calado, mas apenas na explicação das suas decisões ou ações. Sobre as decisões de terceiros terá que esclarecer as várias dúvidas ao relator Renan Calheiro (MDB-AL) e ao presidente da Comissão Omar Aziz (PSD-AM). Como ele mesmo já afirmou ter sido “meio que um pau mandado” do presidente, “cumprindo ordens”, acabará por ter que prestar muitos esclarecimentos sobre as muitas decisões tomadas, todas “partidas” do presidente.
Terá que esclarecer por que da decisão de teimar pelo tal “tratamento preventivo”, no uso da cloroquina e da ivermectina, se estas drogas não possuíam comprovação científica e nenhum país do mundo havia aderido? Por que não ter observado o que acontecia em outros países, o que o mundo fazia? Por que não ter se organizado e aberto negociações mais concretas e incisivas com todas as farmacêuticas, a começarem a produzir as vacinas? Por que atrasou tanto este processo de aproximação? Por que foi a Manaus entregar cloroquina nos hospitais, quando se sabia que estes estavam prestes a entrar em colapso? Por que não buscou aproximação com os governos estaduais e municipais, para juntos superarem o desafio da pandemia? Por que não montou um comitê de crise? Por que não se aproximou de outras autoridades, para unidos, enfrentarem a pandemia com mais galhardia?
Afinal, são várias indagações que merecem uma resposta plausível. O ex-ministro Pazuello deve isso à sociedade, e a postura de pedir ao STF o direito de ficar calado só conspira contra. Incrível como um governo, que optou por uma estratégia errada, não reconhece seus erros e fica neste joguinho de empurra, de culpar os outros, de ver conspiração em tudo. Realmente incrível.
Mercado na segunda-feira. Foi um dia de alta no mercado doméstico, impulsionado pelas commodities minerais e o petróleo, e de ajustes em NY, pelos receios de inflação e da pandemia em alguns países da Ásia.
No Brasil, segunda-feira foi dia de mais uma alta da bolsa de valores de São Paulo, a terceira desde a queda forte na quinta-feira passada (-2,65%). A corroborar para isso a alta das commodities, com destaque para minério de ferro e petróleo, puxados pela divulgação de bons indicadores chineses. O Ibovespa subiu 0,87%, a 122.937, se aproximando dos 123 mil e superando o recorde de meados de janeiro passado.
Em paralelo a isso, o dólar recuou um pouco frente ao real, -0,09%, a R$ 5,2663, também derrubado pelo movimento das exportações brasileiras que nesta segunda semana de maio chegaram a US$ 7 bilhões. Resultado disso, na bolsa de Chicago as posições compradas em dólar recuaram a 2,5 mil contratos, na primeira vez desde agosto de 2019, sendo que na semana passada estavam em 9,9 mil.
Claro que todo este movimento doméstico se explica por fatores externos e pelo fato de o Banco Central ter partido na frente, contra o recrudescimento da inflação por aqui, já sinalizando que a Selic pode ir a 5,5% ao fim deste ano, o que representa um bom carry trade, na arbitragem dos investidores estrangeiros obterem ganhos com o diferencial de juro. Como no resto do mundo, em especial na Europa e nos EUA, a postura ainda é de espera, ou de política monetária acomodatícia, mesmo tendo ocorrido um forte repique da inflação em abril, este spread acabou favorável ao Brasil, o que vem valorizando o real e ajudando a derrubar a inflação. O IGP-10 de maio veio mais elevado do que o esperado, 3,24%, mas as apostas do mercado são de que os IPCs e, depois, os IGPs devem começar a ceder nas próximas semanas.
Mesmo assim ontem foi um dia de ajustes nas bolsas de NY. Dow Jones recuou 0,16% e S&P 500 -0,7%. Em paralelo, os treasuries bonds operaram “pressionados”, com os de 10 anos a 1,63%. Alguma cautela se faz presente neste momento, no aguardo da ata do Fomc.
A tese do Fed, do seu Chairman e dos diretores, continua a ser a da manutenção de uma política acomodatícia, dada a atividade econômica ainda frágil, o desemprego ainda é elevado, chegando a 8 milhões e muito a ser feito no front dos pacotes de estímulo. Neste caso, o debate recai sobre o timing para o início do ciclo de aperto monetário.
Série Especial – Inflação nos EUA: a Batalha entre Fed e Mercado
Os dados de inflação vieram mais elevados em abril, mas a atividade e o emprego ainda mostram “alguma fraqueza”. Ontem, o Índice de Atividade Empire State veio em suave recuo, de 26,3 em abril para 24,3 pontos em maio.
Soma-se a isso, percebe-se que, sobre a pandemia, no mundo o momento é de transição. Não dá para “liberar a boiada” de forma abrupta. Riscos de uma nova onda continuam no horizonte, ainda mais se houver uma reabertura das atividades de forma muito rápida.
Na Ásia, vários países optaram por restrições de circulação, como Taiwan, Cingapura e Japão, em total lockdown em cidades próximas à Tóquio. E olha que estamos às portas de uma Olimpíada por lá.
Não dá para baixar a guarda. A reabertura deve ser lenta e gradual. Cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Vamos conversando.
Bons negócios!