Publicado originalmente em inglês em 04/01/2021
Apesar de todo o drama do ano passado, foi difícil superar o desempenho dos mercados financeiros globais. Ainda mais com o resultado da eleição presidencial nos EUA e suas implicações.
O mês de dezembro de 2020 gerou ganhos modestos em comparação com os enormes ralis em abril e novembro. Foram 3,3% para o Dow Jones Industrial (INDU), 3,7% para o S&P 500 (SPX) e 5,7% para o Nasdaq Composto (COMPX).
Os desempenhos de dezembro foram suficientes para permitir que o Dow e o S&P 500 fechassem em níveis recordes no fim do ano: 30.606 no Dow e 3.756 no S&P 500. O fechamento de fim de ano na Nasdaq a 12.888 ficou apenas 11 pontos abaixo do fechamento recorde a 12.899 ocorrido em 28 de dezembro.
No ano, o Dow se valorizou 7,25%, enquanto o S&P 500 subiu 16,3%.
O Nasdaq disparou 43,6%, seu melhor desempenho desde a recuperação de 43,6% do traumático crash de mercado em 2008.
Risco da covid e bolha de mercado ainda em jogo
Mas, para obter esses resultados em 2020, os mercados tiveram que enfrentar outro drama: a pandemia de covid-19, que infectou milhões de pessoas e causou mais de 350.000 mortes nos EUA e pelo menos 1,8 milhão ao redor do mundo, mas depois voltaram a subir. Uma preocupação é que uma bolha de mercado começou a surgir em 2020 e ainda não se dissipou.
A esperança é que o desenvolvimento de novas vacinas para combater o vírus reduzirá o número de infecções e mortes, impulsionando as economias ao redor do mundo. Mas os estresses de 2020, como o da eleição presidencial nos EUA, podem acabar cansando alguns investidores.
Quando a pandemia deu as caras pela primeira vez na Ásia no início de 2020, os governos isolaram suas populações, principalmente na Europa e partes dos Estados Unidos.
A resposta dos mercados foi de pânico. O S&P 500 afundou 35,4% entre seu fechamento em 19 de fevereiro até o fundo de 23 de março. Desde então, o índice acumula alta de 71,4%. (Para se ter uma ideia, foram necessários 17 meses para que o S&P 500 caísse 56,8% entre o topo de outubro de 2007 e o fundo de março de 2009).
Os preços do petróleo derreteram. O barril de West Texas Intermediate, referência nos EUA, ficou abaixo de US$ 20 pela primeira vez em anos e adentrou o território negativo por um dia em abril. Somente em julho o WTI voltou a cruzar novamente a marca de US$ 40. Embora os preços tenham subido quase 27% em novembro e 7% em dezembro, seu fechamento de US$ 48,52 na sexta-feira ainda representava uma queda de 21% no ano.
O número de sondas aferido pela Baker Hughes girava em torno de 800 no primeiro trimestre de 2020, quando o pânico se instalou. O volume de plataformas operantes despencou para 244 em meados de agosto. Apesar de ter subido para 351, ainda está 55% abaixo do registrado em março.
Por causa do pânico econômico, o Federal Reserve e os bancos centrais mundiais cortaram os juros e tentaram aumentar o crédito disponível. Os governos, com resultado razoável, tentaram apressar a implementação de pacotes de estímulo.
O rendimento dos títulos de 10 anos do tesouro americano caiu de 1,92%, ao final de 2019, para 0,92% na quinta-feira. (Quando Donald Trump assumiu a presidência, em 20 de janeiro de 2017, o rendimento estava em 2,47%).
Tudo indica que o Fed não elevará sua taxa básica de juros até pelo menos 2022 em razão da fraqueza generalizada na economia americana. A taxa de desemprego de novembro ficou em 6,7%; o relatório referente a dezembro está previsto para esta sexta-feira. Os pedidos de seguro-desemprego totalizaram 787.000 na semana de 20 de dezembro, após atingirem quase 7 milhões em março. Entretanto, antes da pandemia, os pedidos de seguro-desemprego giravam em torno de 200.000 por semana.
Muitas oportunidades de ganho e perda
A pandemia, no entanto, criou muitas oportunidades para as companhias atenderem os clientes não afetados pelo desemprego. Entre elas se destacam:
1. Desenvolvedoras de vacinas para o coronavírus. Foram as poucas empresas cujas ações se sagraram vencedoras. A Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34) encerrou o ano com uma alta de apenas 6%. A AstraZeneca (NASDAQ:AZN) (SA:A1ZN34), gigante farmacêutica britânica, valorizou-se 0,3%.
A razão para a dicotomia é que as grandes farmacêuticas têm toneladas de medicamentos no mercado e mais em produção, mas o poder de precificação tem sido restrito. Mas as ações da BioNTech (NASDAQ:BNTX), parceria alemã da Pfizer no desenvolvimento da vacina, saltaram 140%.
A Moderna (NASDAQ:MRNA), empresa de biotecnologia cuja vacina foi aprovada nos EUA, disparou 434%.
A Novavax (NASDAQ:NVAX), outra empresa de biotecnologia que está desenvolvendo uma vacina para o coronavírus e acaba de iniciar a fase 3 dos ensaios, decolou 2.702%.
2. Tesla. A Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34) estava em outro mundo. As ações da fabricante de veículos elétricos encerraram o ano com uma alta de 743%, superando tanto o índice Nasdaq 100 quanto o S&P 500.
A empresa de Elon Musk entrou cerca de 500,000 novos veículos aos clientes em 2020. A lucratividade parece estar estável, e a Tesla foi recompensada com sua entrada no S&P 500 em dezembro. Seu valor de mercado era de US$ 669 bilhões, quase duas vezes o da Toyota (NYSE:TM), Honda (NYSE:HMC) (SA:HOND34), General Motors (NYSE:GM) (SA:GMCO34) e Ford (NYSE:F) (SA:FDMO34) juntas. Esse valuation já inclui os ganhos de 24% em dezembro e de 46% só no quarto trimestre. Parece ser uma ação imperdível, mesmo sendo negociada a 1.398 vezes seus resultados nos últimos 12 meses.
3. Ações de varejo online. Essas ações decolaram. Muitos compradores, tentando evitar a exposição ao vírus, passaram a fazer seus pedidos pela internet. A Amazon.com (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34) declarou que suas vendas para o quarto trimestre devem alcançar entre US$ 112 e 124 bilhões. A Target (NYSE:TGT) (SA:TGTB34) e o Walmart (NYSE:WMT) (SA:WALM34) também registraram maiores vendas online no segundo semestre.
As ações da Target saltaram 18% em novembro e encerraram o ano em alta de 37,7%. Os papéis do Walmart se valorizaram 21%.
4. Empresas de entregas de remessas. A FedEx (NYSE:FDX) (SA:FDXB34) foi uma grande beneficiária do boom das vendas na internet. Suas ações saltaram quase 72% no ano, ficando em 20º lugar no S&P 500 e em 1º lugar no índice Dow Jones de Transporte. Sua concorrente United Parcel Service (NYSE:UPS) (SA:UPSS34) subiu 43,9%. As ações ferroviárias também se saíram bem, principalmente no segundo e terceiro trimestres.
5. Empresas de serviços online. A Etsy (NASDAQ:ETSY), empresa fornecedora de soluções de marketplace, subiu 300% em parte por conta da sua entrada no S&P 500 em setembro. A DoorDash (NYSE:DASH), que presta serviços de entrega de comidas, abriu seu capital em 8 de dezembro a US$ 102 e atingiu US$ 195 em sua estreia. As ações corrigiram, mas parecem ter se estabilizado acima de US$ 140, uma alta de quase 40%.
A Airbnb (NASDAQ:ABNB), operadora de marketplace de aluguéis de férias, abriu seu capital em 10 de dezembro a US$ 68, indicando um valor de mercado de US$ 100 bilhões. Os papéis da empresa saltaram para quase US$ 175, mas recuaram até US$ 146,80 na sexta-feira, uma alta de 116% no primeiro mês de negociação. A corretora imobiliária online Zillow (NASDAQ:ZG) subiu 47%.
6. Grandes ações de tecnologia. A Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34) subiu 81%, graças à boa recepção dos investidores aos seus aparelhos 5G. A estabilidade dos seus lucros gera segurança em ciclos de baixa. A ação atuou como porto seguro na pandemia. A Advanced Micro Devices (NASDAQ:AMD) (SA:A1MD34) basicamente dobrou de valor. A fabricante de processadores Nvidia (NASDAQ:NVDA) (SA:NVDC34) subiu quase 122%. A Amazon fechou em alta de 76% e a Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34) subiu 41%.
7. Ações metálicas. Essas ações vêm subindo com a esperança de que as vacinas para a covid-19 permitirão uma forte recuperação econômica no mundo.
A Freeport-McMoRan Copper & Gold (NYSE:FCX) (SA:FCXO34) subiu 98%, pois o cobre, seu principal produto, saltou mais de 25% para US$ 3,519 por libra.
O ouro, clássico ativo de segurança, saltou 24% para US$ 1895,10 por onça. A prata se valorizou 47%. A fabricante de alumínio Alcoa (NYSE:AA) caiu 71% no primeiro trimestre, por causa do vírus, mas já recuperou todas as perdas. Mesmo assim encerrou o ano em alta de 7,2%. No quarto trimestre, teve valorização de 98%.
Entre as ações perdedoras estão as empresas diretamente afetadas pelo coronavírus. Entre elas se destacam:
1. Empresas de energia, principalmente produtores de óleo e gás. Essas empresas encerraram o ano com forte desvalorização, apesar do repique dos preços do petróleo no último semestre do ano.
A Exxon Mobil (NYSE:XOM) (SA:EXXO34) caiu 46% no primeiro trimestre. Também sofreu a humilhação de ser removida do Dow após 82 anos. Mas conseguiu subir 41% no quarto trimestre.
A Occidental Petroleum (NYSE:OXY) (SA:OXYP34) saltou 58% no ano. Graças à alta do petróleo, seus papéis subiram quase 10% em dezembro e 73% no quarto trimestre.
2. Companhias aéreas. As companhias aéreas foram arrasadas pela pandemia, bem como pelos problemas com o avião 737 MAX da Boeing (NYSE:BA) (SA:BOEI34).
Mesmo que a economia registre forte recuperação e as ações do setor de viagens acelerem, as viagens comerciais devem continuar em lenta recuperação, já que as reuniões passaram a ser realizadas pelo Zoom ou Microsoft Teams. Mas algumas empresas, como Alaska Airlines (NYSE:ALK) (SA:A1LK34) e Ryanair Holdings (NASDAQ:RYAAY), já fizeram novos pedidos do 737 MAX, agora que os órgãos reguladores recertificaram a aeronave.
Sua esperança é que as pessoas não veem a hora de voltar a viajar. As ações da Alaska tiveram leve valorização em dezembro, mas saltaram 41% no quarto trimestre, com os investidores elevando suas apostas na recuperação.
3. Boeing. A gigante aeroespacial viu suas reservas colapsarem. Ao final do ano, havia centenas de aviões 737 MAX encalhados em todo o oeste americano à espera de recertificação.
Para a empresa sediada em Chicago, a pandemia piorou uma situação que já era ruim. Mas as ações da Boeing subiram 1,6% em dezembro, além de 46% em novembro, mas ainda registram queda de 34% no ano e de 52% em relação à máxima histórica de US$ 446,01 no início de 2019.
O que esperar daqui para frente?
Considerando que as pessoas sejam imunizadas, a vida pode começar a voltar a ser o que era antes da pandemia. Ou seja, mais compras pelos consumidores, mais geração de emprego e força no mercado imobiliário residencial nos Estados Unidos e outras partes do mundo.
O Federal Reserve não pretende elevar as taxas de juros no futuro próximo. Provavelmente não antes de 2022.
Tudo isso é favorável para as ações.
Um grande risco é a possibilidade de o mercado de juros elevar os juros mesmo assim, por causa do enorme déficit fiscal para combater o vírus Por isso, é preciso ficar de olho no rendimento dos treasuries de 10 anos. Ele voltou para 1% com os investidores começando a tirar dinheiro dos Estados Unidos em favor de outros mercados.
Isso também fez o dólar cair, elevando os preços de importação e pressionando a inflação na economia. O Índice Dólar, que compara a moeda americana a uma cesta de divisas, desvalorizou-se 6.4% em 2020 e 12,7% desde o pico de março.
Além disso, é preciso ficar atendo a uma alta exagerada dos mercados. O Índice de Força Relativa do Nasdaq está atualmente acima de 70, um alerta de que as ações podem estar sobreaquecidas. Os níveis do Dow, S&P 500 e Nasdaq 100 estavam um pouco abaixo de 70 na sexta-feira.