No último artigo apresentei minha tese de que estamos, definitivamente, diante do melhor momento para entrar no mercado de ativos digitais e criptoativos, pois além do mercado estar atingindo um certo nível de maturidade, a tecnologia está sendo desenvolvida a pleno vapor.
Para responder sobre o porquê acredito ser o melhor momento para entrar nesse mercado, procurei apresentar um ponto de vista de que, exceto se você é um investidor profissional ou trader institucional, o preço NÃO IMPORTA.
Embasei meus argumentos em quatro características: Volatilidade, Ativos não relacionados, Assimetria e Impacto Tecnológico e aprofundarei cada uma em um artigo.
Este artigo aprofunda a primeira característica:
Volatilidade
Volatilidade é uma medida estatística. É calculada através do desvio padrão e usada para que seja possível mensurar o risco de um determinado ativo. Ela mede basicamente a intensidade e a frequência das oscilações nas cotações de um ativo financeiro. Quanto maior a variação do preço de um ativo em um espaço definido de tempo, maior é a volatilidade e por consequência, maior é o risco desse ativo.
O risco é o fator mais comentado quando falamos de investimentos em criptoativos, já que a volatilidade é relativamente alta. Precisamos entender, entretanto, que uma alta volatilidade não é necessariamente ruim, pois quando falamos de volatilidade há o risco para variações negativas ou positivas.
A única forma de dizermos, portanto, se o investimento em um ativo “vale o risco” é analisando o retorno desse ativo e comparando com o resultado esperado em um investimento livre de risco, que geralmente são títulos do governo.
Índice de Sharpe
Um dos indicadores comumente utilizados para se analisar o risco de um ativo é o Índice de Sharpe. O Sharpe simplesmente divide o retorno médio que o ativo com risco obteve acima do livre de risco pela sua volatilidade. A ideia é entender o quanto um investimento vai remunerar seu detentor por ter tomado mais risco de perder dinheiro em comparação a um ativo livre de risco.
É aquela máxima: se sem correr nenhum risco meu dinheiro rende Y, só aceito correr mais risco se receber mais do que Y.
Para entendermos então qual foi o prêmio pago para cada unidade de risco, escolhi uma série de ativos e índices brasileiros e americanos e comparei com o Bitcoin (BTCUSD - Bitfinex), principal criptoativo.
Do Brasil estamos analisando o índice Bovespa (BVSP), Magazine Luíza (MGLU3 (SA:MGLU3)), Itaú (SA:ITUB4), Vale (VALE3 (SA:VALE3)) e dos Estados Unidos temos o índice S&P 500 (US500) e as ações de tecnologia favoritas do mercado: Apple (NASDAQ:AAPL), Google (NASDAQ:GOOGL), Amazon (NASDAQ:AMZN) e Netflix (NASDAQ:NFLX). A ideia aqui foi comparar ativos expostos à mercados bastante diferentes.
O período escolhido para análise foi de Março de 2015 até Fevereiro de 2019, desse modo nenhum ativo foi beneficiado ou penalizado por seu desempenho
Ao analisarmos o Sharpe do Bitcoin, vemos que ele tem uma performance superior a todos os ativos escolhidos e que nenhuma ação remunerou melhor o risco do investidor, nem mesmo as queridinhas do mercado. Além disso, ainda tivemos Sharpe negativo, ou seja, quem colocou dinheiro nesses ativos correu risco e acabou perdendo dinheiro.
O fato é que quando pensamos em risco financeiro de um investimento, o que preocupa é o risco da perda do capital investido e não o “risco” de ganho. No caso do Sharpe, um investimento que sobe muito de valor a cada mês, terá da mesma forma uma volatilidade alta, apesar de ter gerado grandes oportunidades de ganho. “Riscos de ganho” não deveriam ser penalizados e sim incentivados.
Índice de Sortino
Como a volatilidade medida pelo desvio padrão acaba capturando tanto os retornos negativos quanto os positivos, existe um outro indicador que é bastante utilizado quando se trata de medir a relação de risco e retorno de um investimento.
O Índice de Sortino é muito interessante, pois desconta o retorno obtido pelo risco de perda ao penalizar o ativo apenas quando seus retornos são negativos, ou seja, utilizar o desvio padrão apenas nos períodos de baixa. Essa medida é conhecida downside risk (risco de perda).
É normal imaginarmos que na análise desse indicador o Bitcoin seria muito prejudicado por suas grandes quedas. O ponto é que o Sortino parece mais justo quando analisamos de fato o que interessa ao investidor comum, que é comparar os retornos ajustados pelo risco de perda.
Considerando o risco de perda e as intensas variações negativas, o Bitcoin ainda aparece em nossa análise como o que melhor remunerou o capital, compensando o risco tomado pelo investidor nos outros ativos.
Após entendermos essas importantes ferramentas de análise de risco e compararmos ativos tradicionais com criptoativos, podemos concluir que faz sentido estar exposto à essa nova classe de ativos, ainda que com uma pequena fração do portfólio. Os criptoativos podem recompensar melhor os investidores se comparados ao risco de cada investimento.
A outra grande questão que surge é se podemos usar criptoativos como hedge contra o caos, ou seja, usá-los como proteção para uma eventual crise do mercado tradicional. O principal argumento em favor dos criptoativos nesse caso é que são ativos não relacionados e no próximo artigo vou tentar explicar um pouco mais sobre essa questão.