Após moderada realização de lucros que se acumularam em oito sessões, na terça-feira, o Ibovespa abriu ontem e sustentou hoje novo trecho positivo, atingindo o nível dos 110 mil pontos, que não era visto em fechamento desde 2 de fevereiro, então aos 110.140,64. Nesta quinta-feira, entre mínima de 108.864,44 e máxima de 110.205,74 pontos (+0,68%), fechou em alta de 0,59%, aos 110.108,46, com giro financeiro a R$ 25,5 bilhões. Na semana, sobe 1,52% e, no mês, 5,44%, passando ao positivo também no ano (+0,34%).
Tendo mostrado indecisão até o meio da tarde, o índice conseguiu se firmar em alta e buscar a marca psicológica dos 110 mil que, considerando a média móvel de 200 dias, deve se mostrar um nível de consolidação até que o Ibovespa defina tendência, observa Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos. "Graficamente, é uma região em que o índice tende a ficar mais lateralizado", diz.
A partir do meio da tarde, a acentuação de ganhos no índice de materiais básicos (IMAT +1,65%), que reúne as ações de commodities, em que preços e demanda se formam no exterior, e no índice de consumo (ICON +2,04%), exposto ao ciclo econômico doméstico, levou o Ibovespa às máximas da sessão, mais do que compensando o desempenho fraco do setor financeiro e das utilities - que, por sinal, também melhorou em direção ao fechamento.
Na ponta do Ibovespa, destaque para BRF (BVMF:BRFS3) (+11,48%), Minerva (BVMF:BEEF3) (+6,92%) e Via (+5,69%), com BB Seguridade (BVMF:BBSE3) (-2,03%), Eletrobras (BVMF:ELET3) (PNB -2,03%, também) e SLC Agrícola (BVMF:SLCE3) (-1,69%) no canto oposto. Entre as blue chips, Petrobras (BVMF:PETR4) teve leve avanço de 0,45% (ON) e de 0,58% (PN), enquanto Vale (BVMF:VALE3) (ON) virou e também fechou em alta, de 0,14%. Entre os grandes bancos, o desempenho foi de -0,37% (Itaú (BVMF:ITUB4) PN) a +0,32% (Bradesco (BVMF:BBDC4) PN) no encerramento da sessão.
"Dia de alta para a Bolsa, mas também para a curva de juros e o dólar. Lá fora, a perspectiva de solução, em breve, para a elevação do teto da dívida americana ainda contribui para o apetite por ativos de risco, como as ações, e continua a ser o principal 'driver' no momento", diz Dennis Esteves, sócio e especialista em investimentos da Blue3.
"Por outro lado, o número de pedidos semanais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, abaixo do esperado para a leitura de hoje, mostra a resiliência do mercado de trabalho americano, o que afeta a percepção sobre os juros por lá, abrindo margem para que o Federal Reserve se mantenha incisivo, inclusive quanto a elevar a taxa de referência", acrescenta. Assim, em relação à abertura do dia, chegou a haver alguma perda de fôlego em Nova York, mas os principais índices de ações ainda encerraram a sessão entre ganhos de 0,34% (Dow Jones) e 1,51% (Nasdaq).
No plano doméstico, "o dia foi bastante embasado em expectativa de inflação mais baixa pela frente e de votação do arcabouço fiscal, ainda que algumas mudanças tenham ocorrido na calada da noite, pelo relator na Câmara, que incluiu duas linhas que depois foram melhor compreendidas pelo mercado", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, referindo-se à possibilidade de gastos a mais, da ordem de R$ 80 bilhões, para os anos de 2024 e 2025.
"Em momento nenhum existe qualquer ação nesse meu relatório que coloca R$ 80 bilhões a mais. É absolutamente fantasiosa essa informação", disse nesta quinta-feira o relator do arcabouço, Cláudio Cajado (PP-BA). Técnicos da Câmara que assessoram o parlamentar admitem a expansão, mas projetam valor bem menor, ao redor de R$ 42 bilhões. O deputado afirmou que a Consultoria da Câmara prepara uma nota técnica para "desfazer o ruído".