Por Ana Carolina Siedschlag
Investing.com - A ausência de comentários do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a interferência do governo na administração da Petrobras (SA:PETR4) é um dos pontos que mais tem incomodado o mercado desde o anúncio da mudança no comando da estatal, na última sexta-feira (19), disseram analistas ao Investing.com.
Estatais despencam com risco de intervenção política após Petrobras
Para eles, o anúncio da indicação do general Joaquim Silva e Luna, no lugar de Roberto Castello Branco, e as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre possíveis interferências nas tarifas de energia e no comando de outras estatais atestam que a agenda liberal prometida pelo governo parece ter sido definitivamente deixada de lado.
“Se [Bolsonaro] não estava sendo liberal, pelo menos não estava sendo populista. Mas agora inverteu a mão. Guedes não deu nenhum tipo de declaração, não tentou apaziguar os ânimos. Fica difícil cravar quando isso pode acabar”, diz Luis Sale, estrategista-chefe da Guide Investimentos.
Para ele, a reação do mercado desta segunda-feira (22) representa uma ruptura na confiança que ainda era depositada na equipe do Ministério da Economia. Perto das 12h, o Ibovespa recuava 4,96%, a 112.587 pontos, enquanto o dólar avançava 1,98%, a R$ 5,493.
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Para João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos, o receio é que o governo tome um viés similar ao do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, muito criticada durante a gestão pela interferência nos mercados de energia e de petróleo.
“Bolsonaro soltou falas bem provocativas e o silêncio de Guedes acaba incomodando bastante. Esse viés completamente populista dá margem para medidas parecidas com o governo Dilma, de até segurar tarifa de energia”, aponta.
Durante o final de semana, Bolsonaro prometeu, em comentário sobre a saída de Castello Branco a apoiadores, mais mudanças na próxima semana e declarou que "vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também."
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“Do jeito que o governo vem vindo, até que as intervenções demoraram”, aponta Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos. Para ele, a mudança de postura parece ser geral, não só em relação às estatais. “Uma intervenção no mercado de petróleo, por exemplo, desorganiza todo o setor de açúcar e álcool. Isso tem repercussões no emprego e na inflação”, aponta.
Os papéis das estatais lideravam as quedas da bolsa de hoje, com quedas de 20% para as ações da Petrobras e de 11% e 8% para o Banco do Brasil (SA:BBAS3) e a Eletrobras (SA:ELET3), respectivamente.