Investing.com - A retórica, e não a economia, deverá ser o principal mobilizador de ânimos na semana a seguir, já que investidores observam mais desdobramentos em meio a uma guerra comercial em formação entre os EUA e a China.
Os temores de uma guerra comercial estão fervendo há meses, mantendo os ganhos do mercado limitados.
A semana que se inicia também marca o início da temporada de resultados do segundo trimestre em Wall Street, que analistas esperam que irá desviar o foco do mercado do comércio; esse foco deverá ir para fortes resultados corporativos.
Mercados financeiros globais irão se concentrar nos dados de preços ao consumidor dos EUA, que deverão fornecer sinais mais claros sobre o andamento da inflação e novas indicações sobre a frequência de aumentos das taxas de juros do Federal Reserve até o final do ano.
Além disso, participantes do mercado também aguardam dados mensais sobre a balança comercial da China para ver se a recente disputa comercial com os EUA teve algum impacto sobre as exportações e importações em junho.
Já com relação a bancos centrais, um anúncio de política monetária do Banco do Canadá estará na agenda, com a maioria dos analistas esperando um aumento de 25 pontos base, que seria o primeiro aumento desde janeiro.
Antes da semana que está por vir, a Investing.com compilou uma lista com os cinco maiores eventos do calendário econômico com grandes chances de afetar os mercados.
1. Desdobramentos da "guerra comercial" em foco
Os Estados Unidos e a China implementaram na sexta-feira a tarifas sobre a importação de US$ 34 bilhões em produtos de cada país, com Pequim acusando Washington de desencadear a "guerra comercial de maior escala", já que as duas maiores economias do mundo tiveram uma escalada acentuada em seu conflito.
Nenhum dos lados está mostrando sinais de recuo, alimentando preocupações de que as duas maiores economias do mundo estão em uma guerra comercial que poderia abalar a economia global.
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que outros US$ 16 bilhões de produtos chineses estarão sujeitos a tarifas em duas semanas. Ele também sugeriu que o total tarifário final poderia ultrapassar US$ 500 bilhões, valor que corresponde aproximadamente ao total de importações da China no ano passado.
A mídia estatal chinesa criticou a política comercial de Trump e comparou sua administração a uma "gangue de bandidos".
Washington e Pequim pareciam estar cada vez mais se dirigindo para uma guerra comercial depois que várias rodadas de negociações não conseguiram resolver as queixas dos EUA sobre a política industrial chinesa, o acesso ao mercado do país e um déficit comercial de US$ 375 bilhões.
Enquanto isso, Trump inicia sua visita à Europa em uma cúpula de líderes dos países da OTAN, em Bruxelas, na quarta e quinta-feira, na qual se espera que ele reitere seus pedidos para que outros países gastem mais com defesa. Embora não estejam na agenda oficial da cúpula, os líderes europeus expressarão suas preocupações comerciais a Trump, disseram diplomatas.
Trump deve visitar a Grã-Bretanha na sexta-feira, onde se encontrará com a primeira-ministra, Theresa May, e com a rainha Elizabeth.
Trump prometeu manter suas promessas de proteção às indústrias dos Estados Unidos contra o que ele diz ser concorrência desleal da China, da União Europeia e de outros países, mesmo que muitos analistas afirmem que suas tarifas punitivas devem se voltar contra a economia americana.
Agentes do mercado estão preocupados com o fato de que as ameaças de tarifas mais altas nos EUA e medidas de retaliação por parte de outros países possam inviabilizar um raro período de crescimento global sincronizado.
2. Início da temporada de resultados do 2º tri nos EUA
A temporada de resultados do segundo trimestre começa nesta semana em Wall Street, com os bancos norte-americanos JPMorgan Chase (NYSE:JPM), Citigroup (NYSE:C) e Wells Fargo (NYSE:WFC) divulgando relatórios nesta sexta-feira.
O crescimento dos lucros no segundo trimestre deverá ser de 20,7%, de acordo com dados da Thomson Reuters, em moderação ligeira em relação ao ganho de 26,6% no primeiro trimestre, que foi o mais alto em sete anos, quando os resultados foram impulsionados pelos cortes de impostos.
No entanto, a temporada está sendo obscurecida pelas tensões comerciais e seu impacto sobre os lucros das empresas, com analistas propensos a examinar as declarações de perspectivas para ver se devem ajustar os números para o resto de 2018.
Wall Street deixou de lado as tarifas na sexta-feira; investidores disseram que as tarifas já eram bem esperadas e estavam precificadas. O S&P 500 chegou à máxima de duas semanas, parcialmente impulsionado pelo forte crescimento de empregos nos EUA. Contudo, os investidores disseram que uma escalada significativa na tensão causaria preocupações.
3. Dados da inflação dos EUA
O Departamento de Comércio dos EUA publicará os números da inflação em abril às 09h30 da próxima quinta-feira.
Analistas do mercado esperam que os preços ao consumidor tenham subido 0,2% após o aumento em percentual similar em maio, ao passo que o núcleo da inflação tem projeções de ter subido 0,2%, mesmo percentual do mês anterior.
Em base anual, as projeções para o núcleo do IPC são de aumento de 2,3%, um pouco mais do que o percentual de 2,12 registrado no mês precedente.
O núcleo dos preços é visto pelo Federal Reserve como uma melhor aferição da pressão inflacionária de longo prazo porque exclui as categorias voláteis de alimentação e energia.
A inflação em alta pode ter efeito catalisador para o Fed elevar as taxas de juros em um ritmo mais acelerado do que atualmente se espera.
Além dos dados de inflação, o calendário da semana também traz dados norte-americanos sobre preços ao produtor na quarta-feira, bem como a leitura preliminar da percepção do consumidor de Michigan na sexta-feira.
Dados divulgados no final da semana passada mostraram que a economia norte-americana criou mais empregos do que o esperado em junho, mas ganhos salariais constantes apontaram pressões inflacionárias moderadas que devem manter o Fed em uma trajetória de aumentos graduais neste ano.
4. Balança comercial da China
A China deverá divulgar os números da balança comercial de junho na manhã de sexta-feira.
O relatório deverá mostrar que o superávit comercial do país subiu de US$ 24,9 bilhões em maio para US$ 27,2 bilhões no mês passado.
As projeções para as exportações são de crescimento de 10,2% em comparação ao ano anterior, enquanto se espera que as importações tenham subido 22,0%.
Antes dos dados comerciais de sexta-feira, o país asiático publicará um relatório sobre as reservas cambiais na segunda-feira, seguido por dados sobre os índices de inflação do consumidor e das indústrias na terça-feira.
A China, maior exportador do mundo, até agora escapou de qualquer golpe importante em seu setor de comércio exterior, apesar das crescentes tensões comerciais com os EUA, país que na semana passada alertou que continuaria a impor tarifas sobre as importações chinesas.
5. Decisão do Banco do Canadá sobre taxa de juros
A próxima decisão sobre a taxa de juros do Banco do Canadá tem divulgação prevista para as 11h00 de quarta-feira, com a maioria dos especialistas esperando que o banco central eleve sua taxa de juros de referência em 25 pontos base para 1,5%.
Caso seja confirmado, será o quarto aumento de juros durante os últimos seis meses, já que dados recentes mostraram uma situação mais robusta da economia canadense.
Stephen Poloz, presidente do banco central, disse na semana passada que o próximo movimento seria decidido por dados econômicos.
O Canadá criou 31.800 empregos em junho, enquanto a taxa de desemprego subiu de 5,8% para 6,0% uma vez que mais pessoas procuraram trabalho, afirmou o Statistics Canada na sexta-feira.
O banco central aumentou as taxas três vezes desde julho de 2017, mas não realizou ações em suas três últimas reuniões, já que a incerteza sobre o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA, na sigla em inglês) restringiu o investimento das empresas.
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