Por Jessica Bahia Melo
Investing.com - Economistas esperam uma nova deflação no indicador oficial em setembro, o que seria o terceiro mês consecutivo de inflação negativa. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nesta terça-feira, 11 de outubro. A média das estimativas de analistas compiladas pelo Investing.com é de uma deflação em 0,39% em setembro, levando o acumulado do indicador em 12 meses a 7,10%. Nos meses anteriores, os recuos foram de 0,36% em agosto e de 0,68% em julho, com o início do impacto da política fiscal de corte nos impostos dos combustíveis. Agora, a expectativa é de que outros segmentos apresentem baixa, como alimentação.
No entanto, mesmo com a expectativa de retração na inflação em 2022, as estimativas são de manutenção da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) no mesmo patamar até o final do ano. Isso ocorre porque a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de uma inflação de 3,5% ao final deste ano, com 1,5 ponto percentual de tolerância, ou seja, um limite superior em 5%.
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Alimentação dentro de casa deve apresentar recuo – incluindo o leite
O efeito maior do corte de impostos em combustível e energia já ficou para trás, dizem os especialistas. Tatiana Nogueira, economista da XP (BVMF:XPBR31), projeta deflação de 0,33%. “Perde força o efeito do corte dos impostos, bem forte em julho e em agosto. Agora, as maiores contribuições para as deflações ainda estarão ligadas ao combustível, mas não tanto com o corte de tributos, e sim aqueles que foram feitos pela Petrobras (BVMF:PETR4). A dinâmica do mercado internacional permitiu o corte do preço nas refinarias e isso está sendo repassado pelo consumidor final”. A XP vê uma queda no preço da gasolina em torno de 8%. Além disso, acredita em um recuo na alimentação nos domicílios, com leite, feijão e arroz. Para telecomunicação, espera queda de 2,3% em setembro. Serviços e bens industrializados devem ter variação positiva, mas bem mais baixa do que apresentada no primeiro semestre.
Segundo relatório macro da XP, a desinflação global, os cortes de impostos e os juros altos no país devem manter a inflação em trajetória de queda, de forma gradual. A XP estima altas de 5,6% em 2022 e 5,2% em 2023.
Já a Fundação Getulio Vargas aguarda uma deflação mensal de 0,33%. André Braz, coordenador do IPC do FGV/IBRE, concorda que a novidade da vez será a retração nos preços da alimentação.
O leite, que é um dos grandes “vilões” da inflação deste ano, vai dar uma trégua. Com a chegada das chuvas, os preços já começaram a cair, afirma Braz. Além disso, a gasolina ainda deve aparecer com queda de preços. “A gasolina compromete 6% do orçamento familiar. Para cada 1% de recuo, o IPCA encolhe 0,06 ponto percentual”, detalha o economista. Braz pontua que alguns serviços começam a desacelerar gradualmente, mas ainda com um número tímido, pois a inflação está difundida, principalmente em itens como comer fora de casa, viajar e comprar passagens aéreas.
Fernanda Mansano, economista-chefe da IRIS3P e colunista do Investing.com Brasil, estima recuo de 0,25% no mês de setembro e que a inflação caia para 5,49% ao final deste ano. “O principal motivo da deflação continuará sendo observado na queda de preços dos combustíveis, verificado pelo grupo de transportes. Contudo, o grupo de alimentação, o mais representativo da cesta do IPCA, também deverá contribuir com o resultado, explicado pela melhora dos preços do leite longa vida”, concorda Mansano. Conforme aponta a economista, pelo lado das altas, o destaque poderá ser observado no vestuário, assim como o grupo que compõe a inflação de serviços, tendo em vista que o mercado de trabalho brasileiro segue resiliente, com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicando desemprego em 8,9% e a melhora da renda real da população.
Já o Banco Modal (BVMF:MODL11) espera uma queda no indicador oficial de inflação de 0,31% em setembro. Segundo Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do banco e colunista do Investing.com Brasil, a queda seria puxada pela leitura de transportes, com expectativa de recuo de 1,71%. “Estamos incluindo corte de 25 centavos no preço da gasolina, com impacto de 28 pontos-base. Fora isso, estamos vendo uma leitura negativa para alimentação e comunicação”. O Modal espera deflação de 0,72% na alimentação dentro do domicílio, mas avanço nos preços de 0,39% na alimentação fora do domicílio.
Mesmo com três meses seguidos de deflação, Sichel avalia que a condução da política monetária deve ficar inalterada até o final do ano. “O Comitê de Política Monetária (Copom) vai ter que manter a taxa muito alta por muito tempo”, reforça.
O Modal espera inflação ao final do ano em 5,8% e Selic no mesmo patamar atual, em 13,75%. A última alta na taxa de juros básica da economia brasileira ocorreu em agosto deste ano, quando o Copom elevou a Selic de 13,25% para 13,75%.
No último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (03), economistas consultados pelo Banco Central reduziram as estimativas para o IPCA neste ano de 5,88% para 5,74%. No entanto, a taxa Selic não sofreu alterações, com a expectativa para 2022 permanecendo em 13,75% pela 15ª semana seguida.
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