Por Jessica Bahia Melo
Investing.com - O mercado aguarda os dados de inflação ao consumidor dos Estados Unidos, que serão divulgados nesta terça-feira, 13, possivelmente indicando os próximos passos a respeito da política monetária do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA. A expectativa de analistas é de uma moderação nos preços da energia, que ajudaram a inflação a atingir a maior alta em 40 anos.
A mediana das estimativas de analistas compiladas pelo Investing.com é de um IPC mensal com queda de 0,1% em agosto, levando o indicador anual a 8,1%. Em julho, o IPC foi de 0%, com indicador em doze meses ficando em 8,5%. O Bureau of Labor Statistics dos Estados Unidos também aponta a mesma projeção, assim como o UBS.
De acordo com nota do Morgan Stanley (NYSE:MS) (BVMF:MSBR34), os preços da energia devem perder força no segundo semestre deste ano, com a maior parte do efeito concentrado em agosto e setembro. No entanto, o UBS pondera que, mesmo com a continuidade da queda do preço da gasolina, os preços dos alimentos e do núcleo devem continuar a subir solidamente.
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, espera que o indicador siga uma tendência de desaceleração devido à política monetária mais apertada iniciada pelo Fed no início do ano. Uma queda no preço de commodities, principalmente energia e combustíveis, deve continuar beneficiando o índice, segundo Rodrigues.
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“No entanto, não vemos a inflação convergindo para a meta tão cedo. O núcleo do IPC, que exclui alimentos e energia (itens de maior volatilidade), deve cair lentamente, em razão do mercado de trabalho aquecido. A escassez de trabalhadores num contexto de forte demanda pelas empresas favorece salários bem acima da produtividade, o que eleva os custos e pressiona preços”. Assim, a expectativa do C6 é de que o Fed promova mais um ajuste de 0,75 ponto na próxima reunião de setembro, no esforço de trazer a inflação para a meta.
Economia dos EUA
Após dois trimestres seguidos de Produto Interno Bruto (PIB) negativo, o mercado aguarda a tomada de decisão sobre os juros pelo Federal Reserve, pois uma política monetária mais contracionista pode tornar o momento ainda mais complicado.
O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2022 dos Estados Unidos ficou em -0,6%, após os -0,9% apresentados anteriormente. Por ser o segundo trimestre consecutivo com o PIB em queda, o cenário é de recessão técnica, mas outros dados econômicos mostram a economia ainda aquecida. O banco central americano deve definir a taxa de juros na sua próxima reunião, agendada em 20 a 21 de setembro.
Em relatório ao mercado, Candace Browning, chefe de Pesquisa Global do Bank of America Corp (NYSE:BAC) (BVMF:BOAC34) (BofA) diz que a expectativa agora é de uma recessão leve no primeiro semestre do próximo ano e meta para os fed funds em uma faixa de 4,0-4,25%, com um aumento de 75bp em setembro e aumentos menores depois.
Efeitos no mercado
Dependendo do indicador, os investidores tendem a alterar suas expectativas sobre a economia e quais os impactos também nos mercados acionários. “Caso o dado venha acima do esperado (em 0% ou acima disso), ou seja, um cenário neutro ou de alta, o dado indicará um cenário de inflação ainda persistente e altista. Tal cenário pressiona o Federal Reserve para possíveis revisões altistas na taxa básica de juros americana, dado que o aumento dos juros é o caminho mais comum para o combate à inflação. Com isso, mais um ciclo de alta de juros fortaleceria o dólar e afetaria negativamente o mercado de ações”, avalia Heitor De Nicola, sócio e assessor de renda variável da Acqua Vero Investimentos.
Para de Nicola, caso o dado venha dentro do esperado ou melhor (menor que 0%), o dado indicaria uma "deflação" ao índice preço do consumidor, mostrando efetividade dos aumentos da taxa de juros ao avanço da inflação. Nesse caso, de acordo com ele, a expectativa sobre novos aumentos começa a diminuir e a expectativa de que o Fed poderia desacelerar o ciclo altista de juros começa a surgir. “Nesse cenário, apenas os próximos dados do IPC poderiam responder a pergunta. Com tal expectativa, o cenário para dólar passa a ser negativo (no sentido de perder força), e o mercado acionário americano se favoreceria”, completa.
A tomada de decisão sobre os juros contempla outros dados complementares, como índice de preços ao produtor (IPP), payroll, vendas no varejo, entre outros.
“A melhor maneira para entender o atual cenário macroeconômico americano é juntando todos esses dados, que são altamente correlacionados e nos passam a perspectiva de inflação real, o nível de atividade econômica, os dados de geração de emprego e nível de gastos da população”, conclui de Nicola.