Por Ana Carolina Siedschlag
Investing.com - O Banco Central deve, nesta quarta-feira (20), manter a taxa básica de juros, a Selic, inalterada no piso histórico de 2% e pode começar a sinalizar a provável retirada do forward guidance, ou orientação futura, na reunião de março, disseram analistas ao Investing.com Brasil.
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Segundo eles, o comunicado que acompanha a decisão do Comitê de Política Monetária, conhecido como Copom, não deve trazer grandes alterações em relação a dezembro, mas pode deixar a porta aberta para o fim da estratégia de pré-comunicar o futuro da taxa de juros.
“O cenário desde o último mês está relativamente estável, o que deve fazer com que o BC espere por mais informações sobre o avanço da inflação, os efeitos do fim do auxílio emergencial na atividade e o desenvolvimento da pandemia no país”, diz Fabio Ramos, economista do UBS BB (SA:BBAS3).
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Para ele, o BC está na fase de normalização de juros, mas só deve começar a elevar a taxa, se elevar, a partir de junho, para chegar ao final do ano com 4%.
Inflação no radar
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, cita que o BC pode trazer algum comentário extra sobre o avanço da inflação no mundo, especialmente entre as commodities. Para ele, a preocupação do comitê será em analisar como essa alta de preços será repassada ao mercado doméstico.
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O Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo, o IPCA, mostrou na última semana que os preços do óleo de soja dispararam 103,79% no acumulado de 2020, enquanto o arroz subiu 76,01%. No mundo, metais como o níquel e o cobre subiram 30% e 27%, respectivamente, enquanto o zinco e o alumínio avançaram 10% nos últimos 12 meses, altas repassadas à indústria do país.
O índice IPCA fechou o ano em 4,52%, enquanto a segunda prévia do IGP-M da Fundação Getulio Vargas, divulgada nesta terça-feira (19), mostrou avanço de 2,37% em janeiro, impulsionado pela alta de 26,78% do minério de ferro no período.
Marília Fontes, sócio-fundadora da Nord Research, cita que, apesar dos números da inflação causarem algum impacto à primeira vista, tirado o choque das commodities, os núcleos ainda permanecem controlados.
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“Os índices ainda refletem um choque nos preços de alimentos por conta dos problemas de oferta ocasionados pela Covid-19. Se expurgarmos isso, é possível ver uma inflação ainda está abaixo da meta”, defende.
Segundo ela, o BC pode começar com alguma alta marginal para a Selic a partir do segundo semestre, chegando a 2,5% no final do ano.
Sem pressa, por enquanto
Já Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset, diz que, para um BC menos dovish, ou menos suave com as taxas de juros, o país precisaria passar por uma deterioração das expectativas no front fiscal, uma volta do auxílio emergencial ou uma mudança brusca no exterior na postura, no momento benigna, para com emergentes.
“Com a fraqueza no setor de serviços e o desemprego alto, na casa dos 15%, a economia vai precisar melhorar muito para que o BC comece a se preocupar mais com o avanço da inflação. Esses fatores ainda deprimem as perspectivas para uma recuperação robusta”, aponta.
Para ele, o BC não deve subir a taxa Selic tão rapidamente quanto a pesquisa Focus do BC, com analistas do mercado, precifica, a 3,5%.
O Copom divulga a decisão sobre a taxa e o comunicado a partir das 18h30 desta quarta.