Investing.com - Os indicadores econômicos do exterior vão guiar os mercados na semana entre os dias 29 de setembro e 4 de outubro. A virada de mês é sinônimo de dados do mercado de trabalho nos EUA, especialmente agora que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) está com enfoque sobre os números da geração de empregos e da taxa de desemprego, um dos objetivos do mandato da autoridade monetária (junto com a estabilidade de preços).
O indicador de inflação preferido do Fed, o índice de preço de gastos dos consumidores (PCE, na sigla em inglês), registrou números abaixo do esperado ontem (27) no índice cheio e no núcleo, no qual são excluídos preços de itens voláteis como alimentos e energia. O índice cheio anual registrou alta de 2,2% na base anual, próximo da meta de 2% ao ano, embora o núcleo ainda esteja um pouco mais distante da meta, registrando um avanço anual de 2,7%.
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Dessa forma, notícias negativas no mercado de trabalho podem facilitar o trabalho na reunião de 7 de novembro. Os investidores estão divididos se o Fomc (sigla em inglês do Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed) vai prosseguir o atual ciclo de flexibilização monetária com um corte menor, de 25 pontos-base, ou com uma continuidade de queda de meio ponto-percentual na taxa Fed Funds.
Caso indicadores como Ofertas de Emprego JOLTS e a geração de empregos no Relatório de Emprego Não-Agrícola (Payroll) vierem abaixo do esperado, junto com uma taxa de desemprego acima das projeções, as apostas do mercado devem se encaminhar para um corte de meio ponto percentual.
Mas, este jogo não é simples e binário. Isso porque vários dirigentes do Fomc vão realizar discursos ao longo da semana, mas antes dos dados oficiais do payroll e da taxa de desemprego, que serão divulgados na sexta-feira (4). Está previsto, inclusive, discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, responsável pelo direcionamento da condução da política monetária dos EUA.
As falas das autoridades do Fed começaram nesta última semana, muitas delas justificando o corte de meio ponto percentual no encontro de 18 de setembro. É possível que essa linha discursiva continue, preconizando o conservadorismo da autoridade monetária ante à sinalização clara de trajetória futura da taxa de juro.
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O quadro se torna mais complexo com os dados robustos de atividade. Embora o mercado trabalhe com a narrativa de que a economia se encaminha para um “pouso suave”, ou seja, uma desaceleração econômica mantendo uma atividade saudável com estabilidade de preços, os dados de atividades ainda não estão apontando para isso. O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA avançou 3% na taxa anualizada, e continua rodando nesse patamar robusto no terceiro trimestre, segundo previsões do GDPNow do Fed de Atlanta.
Se o mercado de trabalho estiver apontando maior número de demissões e menor geração de emprego mesmo com a atividade se mantendo aquecida, é provável que a economia dos EUA esteja crescendo com ganhos de produtividade. O forte crescimento de 3,5% nos lucros corporativos no 2º trimestre - revertendo a queda de 1,4% no trimestre anterior - apontam essa tendência, um dos motivos que ajudaram o S&P 500, principal índice de ações de Wall Street, a registrar nesta última semana novos recordes de pontuação.
Mas, liga um sinal de alerta de uma maior probabilidade de crescimento menor nos próximos trimestres, já que o consumo das famílias é o carro-chefe da atividade econômica dos EUA. O quadro da renda e gastos dos consumidores já apresentaram desaceleração em agosto, com um número, inclusive, abaixo do esperado. Se essa tendência se confirmar, o corte de meio ponto percentual do Fed em novembro deve se concretizar, mesmo com uma atividade econômica forte, já que um dos mandatos do Fed é sobre o mercado de trabalho.
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No outro lado do Atlântico, o quadro de desaceleração é realidade. As prévias dos PMIs da zona do euro e das principais economias do bloco (Alemanha e França) se aprofundaram nesta última semana no território de contração (abaixo de 50) e com o número menor do que a projeção do mercado.
A semana que se inicia vai confirmar esses números negativos, e as atenções sobre a prévia da inflação ao consumidor de setembro devem levar o mercado a precificar novo corte da taxa de juros pelo Banco Central Europeu (BCE) na reunião de 17 de outubro, mesmo com dirigentes sinalizando cautela. A cautela é, neste caso, a espera em relação aos próximos passos do Fed, embora apostas de novo cortes de meio ponto percentual do banco central dos EUA ajudem os europeus a acelerar os cortes do seu lado para estimular a economia da zona do euro.
Em meio a uma semana corrida no exterior, a expectativa no Brasil se concentra nos indicadores a serem conhecidos na segunda-feira (30). O Banco Central vai divulgar o Boletim Focus, com economistas provavelmente atualizando a deterioração da expectativa de inflação para 2025 e 2026 e aumento da projeção da taxa Selic para este ano, 2025 e 2026, após o próprio Banco Central piorar suas estimativas do índice de preços no Relatório de Inflação divulgado na última quinta-feira (26).
Fatores para essa piora nas expectativas são as mesmas: atividade econômica acima do projetado inicialmente e mercado de trabalho mais apertado; efeitos da seca no preço dos alimentos e na energia elétrica; alta do dólar; e risco fiscal. O quadro das contas públicas também será focado na segunda-feira: o Banco Central divulga seus números sobre a situação fiscal, apresentando os dados de agosto dos resultados primários e nominal, além da trajetória do endividamento público, e deve evidenciar o distanciamento do cumprimento do objetivo de déficit primário zero do governo.
Com isso, os economistas estão revisitando a velocidade e a taxa terminal neste atual ciclo de aperto monetário. Se as projeções da taxa terminal variavam entre 11,25% e 12% antes do início da alta da Selic, neste momento 12% está se tornando o piso. Há economistas elevando suas projeções para uma taxa terminal de 13,75%. Resta saber se o tom duro do Copom sinalizado na ata, além da deterioração de suas projeções sobre inflação, condiz com essa expectativa de mercado em meio a um ciclo de flexibilização monetária nas principais economias avançadas.
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Confira abaixo os principais eventos econômicos entre os dias 29 de setembro a 4 de outubro:
Domingo (29 de setembro): Prévia da produção industrial de agosto e vendas no Varejo no Japão; PMIs Composto, Industrial e de Serviços de setembro na China.
Segunda-feira (30 de setembro): Feriado na China; PIB do 2º trimestre do Reino Unidos; Boletim Focus e dados do setor público no Brasil; PMI de Chicago e Discursos de Michelle Bowmann e Jerome Powell do Fed nos EUA; Discurso de Christine Lagarde, presidente do BCE; taxa de desemprego de agosto e PMI Industrial de setembro no Japão.
Terça-feira (1º de outubro): Feriado na China; PMIs Industrial de setembro no Reino Unido, na Zona do Euro, nos EUA e no Brasil; prévia da inflação ao consumidor de setembro na Zona do Euro; Ofertas de Empregos JOLTs de agosto, Discusos de Raphael Bostic, Lisa Cook, Susan Collins e Thomas Barkin nos EUA.
Quarta-feira (2 de outubro): Feriado na China; Taxa de desemprego de agosto na Zona do Euro; Reunião da Opep; Produção industrial de agosto no Brasil; Variação de Empregos Privados ADP de setembro e discursos de Bowmann e Barkin nos EUA; PMI de Serviços de setembro do Japão.
Quinta-feira (3 de outubro): Feriado na China; PMI Composto e de Serviços de Setembro de Reino Unido, Zona do Euro, EUA e Brasil; inflação ao produtor de agosto e atas do BCE na Zona do Euro; Demissões Anunciadas Challenger de setembro, pedidos iniciais por seguro-desemprego e discurso de Bostic nos EUA.
Sexta-feira (4 de outubro): Relatório de Emprego Não-Agrícola (Payroll), taxa de desemprego, pagamento de salários de setembro e discurso de Bostic nos EUA; balança comercial de setembro no Brasil; Reservas Internacionais no Japão.