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Em que medida as sanções à Rússia vão impactar no preço das commodities?

Publicado 06.03.2022, 07:36
Atualizado 06.03.2022, 15:07
© Reuters.
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Por Barani Krishnan

Investing.com -- A história da guerra do petróleo terminou a semana com um suspense político tão emocionante quanto sua movimentação dos preços da commodity - que fez Wall Street ficar tão absorvida como qualquer oscilação no S&P 500.

Pouco antes de os mercados finalizarem as atividades na sexta-feira, a Casa Branca anunciou que estava considerando proibir o petróleo russo, colocando-se novamente na posição arriscada que tentava evitar desde o início da invasão da Ucrânia.

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Todos sabemos porque os EUA - na verdade, qualquer um dos seus aliados - ainda não decretaram um embargo às exportações de petróleo e gás de Moscou, apesar de impôr sanções a quase todas as transações financeiras que o Kremlin e os seus oligarcas tentaram efetuar (o que, indiretamente, afetaram SIM as vendas russas de energia e elevaram os custos para todos nós).

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Com 10% do petróleo bruto do mundo e 40% do gás da Europa vindo dos russos, esta é uma sanção que deve-se ponderar bem antes de sua aplicação, e é por isso que a Casa Branca foi rápida em dizer que ainda não havia se decidido a respeito.

Não se trata de saber se Joe Biden tem os cojones para aplicar sanções ao petróleo russo, por mais que seus detratores políticos quisessem argumentar em contrário. Trata-se de evitar mais sofrimento para as famílias americanas nas bombas de gasolina, onde se espera que, até segunda-feira, o preço médio chegue a US$ 4, nível anterior à crise financeira de 2008; sem falar dos impactos futuros desta situação sobre suas compras de supermercado.

Hoje, os preços do petróleo registram alta de 25% desde 23 de fevereiro, o dia anterior ao da invasão da Ucrânia. Na quinta-feira, teremos a leitura de fevereiro do Índice de Preços ao Consumidor dos EUA, que deverá apresentar um crescimento ano a ano de 7,9%. O crescimento ano a ano de 7,5% registrado em janeiro já havia sido o mais alto desde 1982.

O UBS estima que um salto de US$ 10 no petróleo equivale a algo entre 25 e 40 pontos base de inflação. O mesmo cálculo feito pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, é de dois décimos de inflação.

"Se tivermos um pico no petróleo e ele simplesmente passar, isso não afetará realmente a inflação contínua", diz Powell, que planeja meros 25 pontos base para a primeira elevação das taxas de juros do Fed na era da pandemia, que deverá ocorrer em meados de março. "Mas se for persistente, então é algo diferente. E estamos muito mais preocupados com esta última hipótese".

O presidente do Fed talvez tenha motivos para estar preocupado, pois os analistas dizem que a única maneira de os preços do petróleo baixarem é subindo ainda mais. Não é só o provérbio do mundo das commodities, de que a cura para a alta dos preços é o aumento de preços. Com o petróleo russo praticamente bloqueado pelas sanções existentes, os preços terão de aumentar porque (1) não há fornecimento suficiente para alimentar os 99 milhões de barris diários de demanda global (segundo os dados de 2019) e (2) porque o outro principal produtor - a Arábia Saudita - não deixará de aumentar os seus preços.

Num anúncio de sexta-feira, a Aramco, estatal de petróleo saudita, elevou o preço oficial de venda (OSP, na sua sigla em inglês) do seu petróleo árabe leve para a Ásia num patamar recorde de US$ 4,95 por barril, em contraste com a média de Omã/Dubai que utiliza como base.

A Rússia exportou 10,5 milhões de barris por dia em 2021, sendo que 20% disso foi destinado para os EUA.

Na sexta-feira, durante um debate de áudio no Twitter, Eric Nuttall, gestor sênior de carteira na Ninepoint Partners, firma canadense de investimentos alternativos, estimou que cerca de 1,5 milhão das exportações russas de petróleo já foram afetadas pelas sanções em curso e que outros 4,6 milhões bpd poderiam estar em jogo se fossem impostas novas restrições ao comércio.

"Não precisamos de sanções oficiais à energia russa. Eles estão sofrendo sanções não oficiais nesse momento, pois há muitas incertezas sobre... linhas de crédito", disse Nuttall. "Tivemos BP, Exxon, Shell e várias outras que disseram: ‘Estamos fora da Rússia, não vamos investir mais dinheiro (lá).’ Por isso, haverá um impacto estrutural duradouro a médio e longo prazos".

Enquanto muito se especulou sobre a tentativa de acordo nuclear do Irã com as potências mundiais e o seu retorno ao mercado petrolífero sem sanções dos EUA, Nuttall disse, segundo rumores, a República Islâmica só conseguiria adicionar imediatamente cerca de 500.000 mil bpd em novos barris ao comércio internacional, e mais 200.000 bpd nos próximos seis meses.

Isto acontece porque Teerã - como quase todos os traders de petróleo estão carecas de saber - vem vendendo em segredo, ao longo do ano passado, todo o petróleo que consegue para China, Índia e qualquer outro lugar possível, devido à aplicação pouco rigorosa das sanções da era Trump por parte do governo Biden.

"Todos rezamos para que a paz chegue (à Ucrânia) e o preço do petróleo volte a baixar para US$ 90", afirmou Nuttall. "Mas acho que, em vez disso, será uma crise de longa data".

Com um tom genuinamente preocupado, Nuttall, que em geral é um touro do petróleo, acrescenta:

"Infelizmente, para a economia global, o que isso significa é que o preço do petróleo agora precisa subir o bastante para matar a demanda discricionária, quando viajar de avião e pegar a estrada fica caro demais. E para isso, estamos falando de pelo menos US$ 130 por barril. Não é o preço do petróleo pelo qual torço, porque há implicações econômicas mais amplas, mas não posso ver nenhuma outra alternativa. Há anos que falamos da teoria do mercado bullish plurianual no setor de petróleo e essa foi sempre a conclusão final. Mas a guerra entre Ucrânia e Rússia antecipou a chegada dessa conclusão entre nove meses e um ano".

Nuttall pode ter sido conservador em a sua previsão. Se o petróleo bruto russo for rejeitado, a commodity poderá atingir US$ 150 por barril nos próximos três meses, segundo Damien Courvalin, chefe de pesquisa energética no Goldman Sachs.

Muitas vezes, sou obrigado a ouvir as previsões do Goldman não com um, mas com os dois pés atrás, devido à sua tendência de exagerar a maioria das coisas e depois usar seu megafone em Wall Street para saturar os corredores com suas previsões e tentar fazer com que se tornem profecias autorrealizáveis.

Porém, neste caso, o Goldman não está sozinho. O JPMorgan diz que se a ruptura nos volumes de petróleo russo durar ao longo do ano, o Brent, referência global de preços, poderá encerrar 2022 a US$ 185.

Mas o JPM também afirma que, nesse cenário, poderia haver uma destruição de demanda de cerca de 3 milhões de barris por dia, fazendo alusão ao debate sobre como o preço poderia matar a demanda discricionária.

Os motoristas dos EUA tendem a ficar cautelosos em encher o tanque quando a gasolina atinge US$ 4 por galão, como afirmou uma matéria publicada pela Reuters na quinta-feira disse. Na sexta-feira, segundo a American Automobile Association, a média nacional de preço era de US$ 3,73 por galão. Como eu disse no início desta coluna, essa média provavelmente será superada já na segunda-feira, ultrapassando US$ 4, sendo responsável pelos ganhos totais de 30% nos futuros da gasolina esta semana.

Patrick De Haan, chefe de análise de petróleo do GasBuddy, afirmou nessa matéria da Reuters que quando "virmos US$ 4 por galão, pode haver uma reação adversa". Mas ele também acrescenta que "com uma economia forte e preços que permanecem bem abaixo dos recordes históricos ajustados pela inflação, isso não tem o mesmo ferrão" que teve, por exemplo, em 2008.

O analista sênior da RBC, Mike Tran, disse que, ao se considerar a inflação, se alcançado em 2008, o preço de US$ 4 por galão seria igual a cerca de US$ 5,20 em valores atuais. "A próxima fronteira dos preços do petróleo será definida pelos preços em busca da destruição da demanda, e isso é o mais bullish que o contexto alcança", disse Tran nesse mesmo artigo.

Quanto a mim, tudo o que sei é que o consumidor é rei. É o consumidor - e não o príncipe herdeiro saudita - que determina, em última análise, quanto pode pagar por qualquer coisa.

Nesse âmbito, uma interessante pérola revelada pelos fenomenais dados mensais sobre o emprego nos EUA, divulgados na sexta-feira, foi de que não houve ganhos no valor médio do salário-hora em fevereiro, apesar do acréscimo de 678.000 postos de trabalho não agrícolas contra uma previsão 400.000. E isso, por si só, foi fenomenal, considerando-se que os salários tinham aumentado ininterruptamente nos 10 meses anteriores, à medida que empregadores cortejavam trabalhadores.

Mas já houve na história declínios na pressão salarial nos EUA seguidos por períodos sustentados de aumentos, e uma andorinha só não faz verão, como diz o ditado. No entanto, se os salários não voltarem a registrar fortes aumentos - e talvez não consigam, com o Fed se preparando para uma série de aumentos de juros daqui em diante - o consumidor pode simplesmente ter menos dinheiro para gastar a cada mês. A gasolina a US$ 4, e muito menos a US$ 5, deixa de parecer muito acessível a essa altura.

Por outro lado, o petróleo acima dos US$ 150 pode ser exatamente o que se precisa para acelerar as energias alternativas que estão no centro das políticas de Biden - e que seus adversários diriam serem as responsáveis por nos trazer a este ponto. "O enorme salto nos preços do petróleo e do gás natural irão acelerar a transição para carros elétricos, painéis solares e outras fontes de energia renováveis", disse o geólogo de exploração de petróleo e gás Richard Mason, num comentário publicado no sábado, horas antes da minha coluna sair. Nesse sentido, os sauditas podem, na verdade, estar ajudando os EUA ao se recusar a ceder quanto à produção de petróleo e aos preços.

Resumo das atividades do mercado do petróleo e dos preços de fechamento

Os preços do petróleo registraram ganhos semanais de dois dígitos e fecharam no seu valor mais alto em pelo menos nove anos após a Casa Branca afirmar que estava considerando a proibição das importações de petróleo russo, aumentando as preocupações de um mercado já agitado pelas sanções a um dos maiores exportadores mundiais de energia.

A escalada da guerra na Ucrânia e a retaliação do Ocidente, com mais punições financeiras a Moscou, alimentaram ainda mais o rali do petróleo na sexta-feira. Outro catalisador foi o anúncio da Arábia Saudita de um aumento recorde no preço de venda do seu petróleo bruto.

O petróleo WTI, cotado em Nova York e referência de preço nos EUA, registrou alta de US$ 8,01, ou 7,4%, a US$ 115,03, seu fechamento mais alto desde 2008.

Na semana, o petróleo de referência dos EUA apresentou alta de aproximadamente 26%, seu maior ganho semanal desde março 2020.

O Brent, referência global de preço, teve avanço de US$ 7,65, ou 6,9%, a US$ 118,03 por barril. Na semana, o Brent subiu 21%, seu maior ganho semanal desde abril de 2020.

O WTI aumentou cerca de 53% desde o início do ano, e Brent, 52%.

Petróleo: Perspectivas técnicas

O contrato de um mês do WTI, para abril, teve uma semana de disparada, com uma movimentação de US$ 22 (entre US$ 95,79 e US$ 117,94) que criou uma enorme lacuna no gráfico de 4 horas, ainda por preencher, diz Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico chefe do site skcharting.com.

"Ao longo do tempo, os preços terão de descer a fim de preencher lacuna", afirmou.

Um rali unilateral parabólico tornou o petróleo de referência dos EUA "extremamente sobrecomprado", disse Dixit.

"Ainda podemos ver mais um pouco de upside no contrato, que poderia levá-lo a US$ 120 e US$ 125 na próxima semana. No entanto, a cada dia que passa, o petróleo chega mais perto de desencadear uma queda acentuada, tendo como alvo inicialmente de US$ 105 a US$ 95, com a próxima perna de alta indo até os níveis das máximas históricas de 2008, de US$ 147, enquanto a de baixa seguiria rumo aos US$ US$ 82 - US$ 67, dependendo também dos fatores geopolíticos em torno do petróleo".

Ele disse que leituras estocásticas de 94/87, 97/88 e 97/95 nos gráficos diário, semanal e mensal, respectivamente, indicam o status de sobrecomprado, mas com algum potencial de avanço com alertas de correção próximos.

As leituras de RSI de 80, 81 e 73 nos gráficos diário, semanal e mensal, respectivamente, alertam para um pullback acentuado para a zona de ruptura de US$ 95 nos próximos dias, acrescentou.

Ouro: Atividades & Preços do Mercado

O ouro teve a sua melhor semana em quase dois anos, aproximando-se da cobiçada meta de US$ 2.000 por onça, após o agravamento da agressão russa na Ucrânia suscitar riscos geopolíticos que impulsionaram o metal amarelo.

O notável relatório do emprego nos EUA em fevereiro que, extraordinariamente, não apontou para ganhos nos salários, também ajudou o ouro. Os analistas disseram que o relatório poderia incentivar o Federal Reserve a ser mais contido no primeiro aumento dos juros da era da pandemia, previsto para daqui a duas semanas.

O contrato mais ativo do futuro do ouro na Comex de Nova York, para abril, fechou em alta de US$ 39, a US$ 1.974,90 por onça.

Durante a semana, os futuros de referência do ouro aumentaram 4,2%, seu maior avanço semanal desde julho de 2020, quando a commodity estava a caminho de registar máximas históricas acima de US$ 2.100 em agosto daquele ano. Desde que atingiu esse auge, o ouro caiu para níveis de US$ 1.600 e chegou a subir para US$ 1.976 esta semana, sem conseguir testar a meta de US$ 2.000.

Mas a invasão russa da Ucrânia e a disparada da inflação nos Estados Unidos poderiam mudar isso para os longs do ouro.

"O ouro tem níveis de resistência técnica fundamentais que precisa ultrapassar, mas o argumento a favor do patamar de US$ 2.000 já não parece ser tão absurdo", afirmou Ed Moya, analista da plataforma de negociação online OANDA.

"A procura por portos seguros aumentou depois de os russos terem tomado a maior central nuclear da Europa, no sudeste da Ucrânia. A campanha militar da Rússia continua fazendo avanços e isso está levando a temores de que eles tenham a ambição de assumir o controle de toda a Ucrânia. Com tanto as ações europeias como o euro em queda livre, a procura por portos seguros não irá diminuir tão cedo".

A posição do ouro como uma proteção contra a inflação também tem sido fortemente impulsionada pela escalada dos preços nos EUA, devido a taxas de juros ultrabaixas e trilhões de dólares em gastos relacionados com a pandemia.

O Fed reduziu as taxas de juros dos EUA para quase zero após o surto de Covid-19 em março de 2020, e as manteve nessa região para permitir a recuperação econômica.

Após a contratação de 3,5% em 2020 devido a rupturas forçadas pela pandemia, a economia cresceu 5,7% em 2021, expandindo-se em seu ritmo mais rápido desde 1982.

Mas a inflação cresceu ainda mais. O índice de De despesas de Consumo Pessoal, um indicador da inflação norte-americana acompanhado de perto pelo Fed, aumentou 5,8% no ano até dezembro e 6,1% nos 12 meses até janeiro; ambas as leituras também indicaram o maior ritmo de crescimento desde 1982. A tolerância do próprio Fed para a inflação é de meros 2% ao ano.

Os fluxos de entradas de ETFs na sequência da guerra na Europa e suas repercussões econômicas também podem constituir um pilar de suporte aos preços do ouro, informou a Bloomberg na quinta-feira.

As posições em ETFs com lastro em ouro podem aumentar 600 toneladas este ano se as preocupações com o crescimento dos EUA aumentarem, possivelmente ocasionando um aumento de preços para US$ 2.350 por onça, de acordo com o Goldman Sachs. Os fluxos de entradas em fundos totalizaram pouco mais de 100 toneladas até agora, como mostram os dados da Bloomberg.

Ouro: Perspectivas técnicas

Assim como o petróleo, o preço do ouro spot teve uma semana espetacular, com a tentativa falha da semana anterior de romper US$ 1.974 forçando os preços para US$ 1.879, o que testou os nervos dos longs no mercado, observou Dixit.

"A semana abriu com um enorme gap de fuga à medida que os preços iniciaram a US$ 1.921, que era US$ 32 acima do fechamento anterior de US$ 1.889, levando a negociações instáveis. Mas, ao contrário das movimentações técnicos do WTI, o ouro acabou preenchendo sua lacuna e retomou o impulso de alta", disse.

O gráfico de 4 horas do ouro spot mostra um rompimento acima da formação de triângulos simétricos, que visa US$ 2.034 assim que o alvo de US$ 2.000 for superado, disse Dixit.

Embora a leitura estocástica e o RSI apoiem o upside, qualquer correção a curto prazo para abaixo de US$ 1.968 irá disparar uma correção secundária lateral em direção aos US$ 1.950 - US$ 1.935 - US$ 1.925, afirmou.

"Já que a tendência principal é de alta, é provável que os compradores se reúnam em torno das áreas de valor e as compras com suporte de volume podem reiniciar a dinâmica bullish, que tem como alvo US$ 2.000 - US$ 2.034".

Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan não possui posição nas commodities e valores mobiliários sobre as quais escreve.

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