Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 20/11/2020
Os mercados subiram sem parar desde as mínimas de março. A narrativa altista mudou, ao longo dos meses, da liquidez do Fed para taxas de juros reduzidas, esperanças de vacina e estímulo. Independente da narrativa, tudo leva a crer que as ações sempre encontram uma razão para continuar subindo.
O grande problema enfrentando pelo mercado, enquanto espera pela distribuição de possíveis vacinas, é a desaceleração da economia. Os últimos dados de vendas de varejo e pedidos de auxílio desemprego nos EUA sugerem que o ritmo de recuperação está desacelerando, o que pode interromper a disparada do mercado. Como é pouco provável um acordo para outro pacote de estímulo em breve, o Fed parou de expandir seu balanço. O mercado pode se sentir esquecido e mudar de humor para conseguir o que precisa para continuar subindo.
Um derretimento
O nervosismo do mercado pode fazer com que os preços das ações registrem fortes quedas, ajudando a motivar uma resposta política para a desaceleração econômica ou o temor de uma nova recessão. Até agora, o congresso americano não conseguiu chegar a um consenso sobre um segundo acordo de estímulo. Enquanto isso, os membros do Fed só devem se reunir de novo em meados de dezembro.
A experiência nos mostra que o nervosismo é o método preferido do mercado para conseguir o que deseja. Viradas fortes e repentinas sempre chamam a atenção dos políticos, que rapidamente tentam amenizar as emoções do mercado. A liquidação no final de 2018 ocorreu por causa do nervosismo do mercado com o excesso de aperto monetário do Fed. Enquanto isso, o derretimento causado pelo coronavírus no início de 2020 só arrefeceu quando o Fed concordou em fornecer ampla liquides ao mercado, e o congresso, em aprovar uma histórica política fiscal para responder à crise.
O mercado já está muito esticado
Ainda que seja praticamente impossível prever quando esse nervosismo dará as caras, já há sinais de que o mercado esteja superaquecido e pronto para uma nova narrativa. O S&P 500 tem permanecido relativamente estável desde o início de setembro, enquanto o Nasdaq vem caindo. Além disso, o porcentual de ações acima da sua média móvel de 200 dias no S&P 500 era de 88% em 18 de novembro, nível que não era visto desde meados de 2014. Esse nível costuma estar associado a um recuo no índice acionário.
Além disso, as expectativas de inflação começaram a divergir do mercado acionário nas últimas semanas. As expectativas para 5 anos caíram, enquanto o S&P 500 seguiu em alta. As menores expectativas de inflação sugerem que o mercado de títulos pode estar precificando uma lenta recuperação econômica.
Um catalisador
O Federal Reserve se reunirá em 15 de dezembro, o que pode servir de catalisador para o mercado acionário mais amplo. Se o Fed sugerir que não vai acelerar o ritmo de compra de ativos caso a economia se enfraqueça ainda mais, o mercado pode ficar desapontado.
Se tiver que andar com as próprias pernas, o S&P 500 enfrentará dificuldades, pois os valuations do índice já estão muito elevados. Sem o suporte de um pacto de estímulo ou uma flexibilização maior, o índice P/L pode começar a se contrair, o que fará com que o valor do S&P 500 caia.
Se bem que seja totalmente possível que o mercado de ações continue sua jornada de alta, provavelmente precisará de uma narrativa para seguir em ascensão. A única narrativa que resta no momento é a esperança de uma recuperação econômica mundial. Mas ela deve ser lenta, em vista do tempo necessário para a distribuição de uma vacina pelo mundo.
Assim que isso acontecer, os investidores podem direcionar sua atenção para a situação da economia global, abrindo espaço para que as ações sejam negociadas com base nos fundamentos, em vez de esperanças e sonhos. Até que isso aconteça, o atual mercado de alta precisará de uma narrativa em breve para evitar mais um dos seus ataques de nervos que todos conhecemos e amamos.