Temos o início da primavera no Brasil e do outono na Europa. É um momento de “lenta adaptação” para o ápice, o verão e o inverno. Podemos dizer que são estações de transição que nos preparam para o calor de rachar no Brasil e o frio rigoroso no Hemisfério Norte. Retornando ao “mundo real”, no Brasil, na semana, tivemos reunião do Copom, nos EUA, do FOMC e na China, alguma discussão sobre a renegociação da astronômica dívida da China Evergrande Group (HK:3333). Em todos os eventos, observamos a preparação para algo. Nesta sexta-feira, Powell tem mais uma chance de relativizar sobre a expectativa do tapering, já sinalizado para novembro, com os treasuries em escalada, o mesmo ocorrendo no Brasil, com o câmbio. Por aqui, estejamos atentos para o IPCA-15 de setembro, devendo chegar a 1,0%, em 12 meses próximo a dois dígitos.
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Na reunião do Copom, a leitura é de que é preciso fazer o mal de uma só vez, logo, para trazer a inflação para próxima do centro da meta de inflação no ano que vem. É o BACEN se preocupando em se antecipar à curva de juro, ancorando as expectativas dos mercados, e mostrando estar “mobilizado”. E isso acontece num momento em que o mundo se debate sobre a “inflação transitória”, fenômeno na qual a reabertura da economia gera um choque de preços, pois faltam insumos em diversas cadeias produtivas. Por este viés, a inflação repica, mas depois perde fôlego. No Brasil, no entanto, isso não acontece, pois além desta transição, ainda se tem muita volatilidade cambial, o que se reflete em reajustes de vários insumos agrícolas (trigo) e combustível (gasolina e diesel). Temos também os impactos no reajuste da energia elétrica, dada a crise hídrica em curso. Portanto, nossa inflação, de transitória nada tem, sendo muito é permanente, piorando ainda mais com as confusões políticas de sempre.
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Diante deste cenário, o IPCA ameaça chegar a 10% neste ano, patamar perigoso e que pode propagar mecanismos defensivos pelos agentes e mais indexação na economia. Por isso, a atitude hawkish do BACEN, mesmo que o seu objetivo seja o ano que vem, ou seja, trazer a inflação para o centro da meta. Hoje temos o IPCA-15 de setembro, previsto em 1,0%, depois de 0,89% em agosto, e 9,3% nos 12 meses (deve ir a 9,8%). O problema aqui é que o fantasma do racionamento segue assustando a todos. O presidente da ONS, no entanto, nega esta possibilidade, nem no ano que vem, embora o ambiente seja de muita incerteza.
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Sobre a ata do Copom da semana que vem (dia 28) espera-se uma inflação menos pressionada no ano que vem, dada a leitura do BACEN neste ano, de antecipar as elevações da Selic, mas também pela perspectiva de menos dinamismo nas economias da Ásia, e chances de alívio nos preços da energia.
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Uma boa notícia é a arrecadação federal de agosto, R$ 146,4 bilhões, recorde para o mês, crescendo 7,2% contra o mesmo mês do ano passado, mas recuando 15,2% contra julho. O problema, bom que se diga, é que este bom desempenho da arrecadação se dá pela “normalização” da economia, é conjuntural, e não por mudanças estruturais.
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Nos EUA, estejamos atentos aos novos passos do Fed, possivelmente, devendo anunciar algo em novembro, sobre o timing ideal para o tapering, talvez com o juro elevado ao longo de 2022 ou até em 2023. Jerome Powell, que deve ser reconduzido a mais uma temporada de quatro anos na presidência do Fed, segue no seu mudismo, nada esclarecendo sobre os próximos passos e mantendo a tese da inflação transitória. De fato. Os indicadores de atividade divulgados por lá não mostram uma economia voando, mas sim, retomando, de forma errática, de olho nos novos surtos do Covid.
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Na China, toda atenção para o plano de recuperação da mega incorporadora, China Evergrande Group (HK:3333). Temos calotes à vista? Com certeza, mas é objetivo do Banco Popular da China incorporar esta empresa por várias estatais, e também irrigar de liquidez este mercado, ofertando US$ 17,9 bilhões. Atraso na entrega de apartamentos, não pagamento pelos insumos de obra, perda de receita, tudo isso contribuiu para uma empresa que opera num mercado que mais cresceu nos últimos anos.
Mercados
Fechando a semana, alguma correção nos mercados, norte-americano e doméstico, pelas incertezas na China. Credores da Evergrande não receberam o que esperavam na quinta-feira.
No Brasil, o Ibovespa subiu pelo terceiro pregão seguido, reforçado pela melhora do mercado externo, alta das commodities e avanço de negociações no Congresso sobre precatórios e reformas. Na quinta-feira (dia 23) fechou em alta de 1,59%, a 114.064 pontos, reagindo aos bons ventos externos e o acordo sobre precatórios. Já o dólar avançou 0,12%, a R$ 5,3094.
Nesta madrugada (05h05), dia 24/09, na Ásia, os mercados operaram entre altas e baixas. Nikkei +2,06%, a 30.248 pontos; KOSPI, na Coréia do Sul, -0,07%, a 3.125 pontos; Shanghai Composite, -0,80%, a 3.613 pontos, e Hang Seng,-1,55%, a 24.130 pontos.
Nesta madrugada do dia 24/09, na Europa (04h05), nos futuros os mercados operavam em queda. DAX (Alemanha) recuando 0,67%, a 15.539 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), +0,27%, a 7.059 pontos; CAC 40 (França), -0,58%, a 6.663 pontos, e Euro Stoxx 50 -0,66%, a 4.167 pontos.
Nos EUA, as bolsas de NY no mercado futuro, operavam às 05h05, dia 24/09, da seguinte forma: Dow Jones recuando 0,24%, a 34.562 pontos, S&P 500, -0,29%, a 4.425 pontos, e Nasdaq -0,47%, a 15.245 pontos. No mercado de Treasuries, US 2Y avançando 0,89%, a 0,2613, US 10Y +1,19%, a 1,427 e US 30Y, +0,64%, a 1,936. No DXY, o dólar avançava 0,12%, a 93,138. Petróleo WTI, a US$ 73,31 (0,01%) e Petróleo Brent US$ 77,41 (+0,21%).
Na agenda desta sexta-feira, o IPCA-15 de setembro como destaque. Temos também as contas externas e a Aneel define a bandeira tarifária de outubro. Nos EUA, o presidente do Fed participa de evento sobre a recuperação da economia; na Alemanha, temos o IFO de expectativa de negócios.