Vem mais por aí. Não, não se trata do aviso em tom de ameaça feito pelo presidente Jair Bolsonaro, ao sinalizar mudanças em outros setores, mas sim da queda dos ativos brasileiros, mesmo após o Ibovespa afundar 5% e a ação da Petrobras (SA:PETR4) derreter 20% ontem e ainda que uma recuperação seja ensaiada hoje, diante da melhora do ambiente externo.
O mercado financeiro doméstico ficou assustado com o maior intervencionismo de Bolsonaro, trazendo à tona a ingerência política de outrora, e se prepara para um cenário desafiador até o fim do mandato do atual governo. Os investidores vão, enfim, se dando conta de que vale-tudo pela reeleição, em especial medidas populistas.
Portanto, é preciso ajustar os preços às expectativas menos positivas, que vão na direção contrária da austeridade e das reformas. E isso significa uma valorização adicional do dólar, a não ser que o Banco Central eleve a Selic além do esperado e em um ritmo mais intenso, pois só a intervenção via leilão não deve ser suficiente para segurar o câmbio.
As apostas de que a taxa básica de juros deve subir meio ponto na reunião do Copom em meados do mês que vem ganharam força ontem e tendem a se consolidar ao longo dos próximos dias, com o risco fiscal também crescendo. Afinal, o auxílio emergencial vai vir, com ou sem contrapartidas. A provável duração é de quatro meses e valor de R$ 250.
O temor do mercado é de que o Congresso faça uma manobra nas contas públicas, de modo a incluir gastos sem que seja apresentada uma fonte alternativa de receita na PEC Emergencial, a ser votada nesta quinta-feira no Senado. Dessa forma, o governo não estaria cometendo crime de responsabilidade, mantendo afastado o risco de impeachment.
O mercado financeiro tende a refletir os riscos que os investidores passaram a enxergar em relação ao cenário econômico do país nos próximos anos, ao entender que a recente agitação na cena política sugere mais dois anos de desastres não acidentais, provocados intencionalmente e de forma consciente. Ou seja, vem mais por aí.
Dobradinha Powell-Biden
A sorte é que o cenário externo segue favorável ao apetite por risco e, enquanto a colossal liquidez global continuar reinando soberana, os problemas internos podem ser suavizados - ou até mesmo esquecidos. Assim, só se o ambiente internacional piorar, é que o estrago por aqui tende a ser enorme.
Porém, as falas dos presidentes do Federal Reserve, Jerome Powell, e dos Estados Unidos, Joe Biden, hoje, no Congresso norte-americano tendem a tranquilizar os investidores, com ambos reiterando que os estímulos monetários e fiscais continuarão em curso até que a economia do país entre na rota do crescimento. E ainda que haja inflação no caminho.
Ou seja, os investidores não estão preocupados sobre o momento em que tais programas de emergência começarão a ser retirados, apesar de já projetarem uma firme recuperação econômica global a partir de meados deste ano, amparada também pela desaceleração da pandemia no mundo. Não há, por ora, nenhum gatilho sobre quando isso possa ocorrer.
O depoimento semestral de Powell no Senado está previsto para acontecer a partir do meio-dia. Doze horas depois, Biden faz o tradicional discurso sobre o Estado da União, na Câmara. À espera deles, os índices futuros das bolsas de Nova York apontam para um dia de ganhos, um dia após as ações das tech afundarem o Nasdaq e pesarem no S&P 500.
Essas perdas da véspera não prejudicaram o pregão na Ásia, onde apenas Xangai oscilou em baixa (-0,2%), ao passo que o sinal positivo vindo de Wall Street nesta manhã tenta embalar o início dos negócios nas praças europeias. As commodities continuam sendo a bola da vez, com os investidores fugindo das ações, dos bônus, do dólar e até do Bitcoin.
O cobre amplia os ganhos, enquanto o petróleo WTI busca a faixa de US$ 63 por barril. O juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) segue ligeiramente abaixo de 1,40%, na máxima em um ano, ao passo que a diferença entre o rendimento (yield) do papel de cinco (T-bill) e de 30 anos (T-bond) atingiu o maior nível em mais de seis anos.
Entre os indicadores econômicos, o calendário está fraco, trazendo apenas a inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro em janeiro, logo cedo, e a confiança do consumidor norte-americano neste mês (12h). Também saem índices de preços de imóveis residenciais nos EUA (11h).