Semanalmente, venho aqui comentar sobre temáticas de mercado que possam ajudar você a se tornar um investidor melhor. É por isso que eu falo de assuntos diversos, passando por seleção de fundos, pegadinhas do mercado, construção de portfólio etc.
Falei até mesmo de comportamento de investidor, processo de tomada de decisão, vieses do investidor, entre vários outros temas. Espero que cada um deles tenha ajudado você a, no mínimo, refletir sobre o assunto e buscar melhorar sua maneira de investir.
Porém, muitas vezes gastamos bastante tempo falando de assuntos mais complexos no mundo dos investimentos, mas esquecemos de tratar de alguns tópicos que são mais básicos.
Chamarei de quatro princípios de investimentos para a vida investidora (uma cópia lavada de um texto da Vanguard que li esses dias).
São princípios básicos, sim, porém o grau de importância de cada um é gigantesco. Não podemos negligenciá-los, até porque você não terá sucesso na sua construção de patrimônio se falhar em seguir algum deles.
1º – Torne-se um poupador compulsivo
Conversando com as pessoas, se tem algo que eu percebo que muita gente ainda tem dificuldade é em construir uma poupança mensal.
Dan Ariely, economista comportamental da universidade de Duke, disse que temos dificuldade de fazer poupança porque nosso autocontrole é baixo. É como se fôssemos programados para viver o presente (YOLO!), como se o futuro valesse tão pouco que não compensasse esperar por ele.
Então, em primeiro lugar, você precisa ter controle dos seus gastos.
(Inclusive, gastar menos do que se tem de renda vale também para organizações governamentais, afinal, não é isso que está sendo discutido no mercado dia sim, outro também?)
Digo isso pois, se você não consegue organizar suas finanças, você jamais conseguirá construir um patrimônio relevante à frente, mesmo considerando retornos extraordinários.
Em outras palavras, a sua capacidade de poupar influencia diretamente nos resultados que você tem à frente.
Abaixo, fiz um comparativo dos níveis de poupança de quatro diferentes tipos de indivíduos, cada um começando com um salário de 5000 reais.
Pessoa I: poupa 20 por cento do salário ao mês, com retorno de 15 por cento ao ano (linha cinza);
Pessoa II: poupa 30 por cento do salário ao mês, com retorno de 15 por cento ao ano (linha amarela);
Pessoa III: poupa 40 por cento do salário ao mês, com retorno de 15 por cento ao ano (linha laranja);
Pessoa IV: Poupa 50 por cento do salário ao mês, com retorno de 15 por cento ao ano (linha verde).
A primeira constatação é óbvia: quanto maior seu nível de poupança, proporcionalmente maiores serão os seus resultados.
A segunda não é tão óbvia. Muitas pessoas acreditam que ter um mínimo inicial alto é determinante para o sucesso de longo prazo, ou seja, o seu ponto de partida é primordial.
Isso é verdade, mas em partes. Ter um mínimo inicial bom é 50 por cento do jogo, mas não vence a partida. Se você se tornar um bom poupador, é possível começar com pouco e conquistar mais dinheiro que quem já começou com muito – exatamente o que mostra no gráfico acima
Em vista de tudo isso, digo-lhe o seguinte: poupe dinheiro, seu futuro agradece.
2º – Invista com equilíbrio
O que eu vejo nas redes sociais é que as pessoas estão mal-acostumadas. Elas seguem fortemente posicionadas em ações, como se essa fosse a única classe de ativos que merecesse espaço em suas carteiras.
De fato, olhando a última janela de 5 anos, nada bateu a bolsa brasileira. NTNBs, S&P500, dólar, fundos multimercados… pode escolher o que quiser, nada bateu nosso glorioso Ibovespa.
A questão é que precisamos lembrar que essa carteira focada 100 por cento em ações funciona bem em um Brasil de bonanças, o que não acontece sempre. A realidade é que, na maior parte do tempo, nós somos um país mais complicado do que isso.
Na minha visão, quem explicou melhor essa dicotomia entre os diferentes “Brasis” foi a Atmos, em sua última carta:
… o Brasil dos últimos anos:
“Por uma obra do destino e competência de alguns poucos abnegados, um sopro reformista nos atingiu como uma lufada de ar fresco. Enfileiraram-se reformas estruturais importantes, como a reforma trabalhista, o novo marco do saneamento, nova lei das falências, lei das estatais, teto dos gastos, nova lei geral de Telecom, entre outras. Além disso, avançou-se em algumas privatizações e novas concessões, e direcionou-se à sonhada reforma da previdência, finalizada no governo de um populista caricato.
O Brasil de sempre...
“O Brasil tem lutado por muito tempo. Sobreviveu a uma democracia claudicante, sete golpes institucionais desde a independência, crises sucessivas de suas commodities principais, uma industrialização induzida por um Estado ineficiente e sem disciplina, a hiperinflação pós-milagre econômico e até mesmo uma tentativa rudimentar de um novo-keynesianismo petista que deixou cicatrizes substanciais na economia. Após tudo isso, ainda assistiu a um segundo impeachment na recente redemocratização, uma investigação combatendo a corrupção endêmica e um presidente grampeado pessoalmente pelo corruptor-estrela do último ciclo. A década passada acabou sendo perdida e a produtividade, principal alavanca de crescimento per capita, continuou caindo sem que fosse decifrada.”
Não queira achar que você precisa construir um portfólio que tenha bons retornos somente para o Brasil dos últimos anos. Num piscar de olhos, ele pode deixar de existir e você precisa estar preparado.
O questionamento que vem a seguir é sobre como se preparar. É importante entender que a bolsa não vai ser imbatível em todos momentos, com outros ativos gerando melhores resultados (exatamente como mostra a imagem abaixo).
Veja que, a cada ano, um ativo se destaca em detrimento de outros, mas não é possível determinar um vencedor absoluto. Você pode dizer que é a carteira de dividendos, uma vez que ela vence em 4 dos 9 anos, mas o resultado consolidado perde para os demais.
Dito isso, como se preparar para os próximos 10 anos sem saber quais são os cenários que vão prevalecer?
A minha resposta é: combine as estratégias! Ao fazer isso, você constrói um portfólio que é melhor do que qualquer outro individual (trazendo mais retorno com menos risco).
3º – É a longo prazo que se ganha o jogo
Você, investidor, precisa ter em mente que não há fórmula para ter sucesso rápido na vida. Você não fica forte aparecendo duas vezes na academia ou consegue correr 21km fazendo um treino na vida e outro na morte, não é mesmo?
Por que seria diferente com os seus investimentos? Não é! As estratégias mostram seu real valor ao longo do tempo. O preço das ações seguem os lucros das empresas de anos.
Os resultados dos fundos também aparecem em janelas mais longas, com as teses dos gestores nos diferentes mercados demorando a se materializar (a depender do fundo, de 3 a 5 anos).
Um título de renda fixa (com um Tesouro IPCA), por exemplo, rendeu 50 por cento recentemente, mas foi um processo que custou 4 anos.
Nenhum grande avanço na sua carteira virá de uma grande tacada de curto prazo, mas sim de uma construção de longo prazo. Quanto antes você perceber isso, mais tempo terá para focar no mais importante.
Deixemos a diversão e a jogatina para os dias no cassino e, em relação aos investimentos, vamos focar no que realmente faz sentido.
4º – Saiba o que você está comprando
É inacreditável como as pessoas investem somas relevantes do seu patrimônio pessoal sem saber no que estão investindo. É curioso porque, em outras áreas da vida, fazem o extremo oposto, sendo extremamente dedicadas em pesquisas para se informar a respeito do assunto.
Em viagens, elas escolhem meticulosamente o roteiro para tentar otimizar custos com os benefícios de cada lugar. Estudam, medem a quantidade de dias suficiente para cada lugar, pensam em quais lugares vão jantar, quais pontos querem visitar etc.
O mesmo vale para as pesquisas em eletrônicos. Elas pesquisam os benefícios de cada aparelho, avaliando o custo/benefício de cada companhia vs. o preço pago em cada uma delas.
De novo, por que tratam os investimentos com certo “relaxo”? Afinal, estão investindo o patrimônio de uma vida de trabalho, não pode ser assim.
Você se identificou com a descrição acima? Minha sugestão é: estude o ativo que você quer investir antes de realizar o investimento. Em ações, leia um relatório de research, mantenha-se informado, estude a companhia por conta… faça tudo, menos pegar a dica do seu vizinho no final de semana.
Para os fundos de investimento ou renda fixa, vale a mesma ideia. Você nem imagina o quanto conseguirá melhorar a sua carteira buscando as melhores oportunidades e fugindo das furadas.
Vamos juntos!
Eu não tenho dúvidas de que, ao aplicar esses princípios à sua vida, certamente você se tornará um investidor melhor e conseguirá ter um caminho mais claro para a construção do seu patrimônio.
Um abraço