Trump está de volta, agora ameaçando (ou seria melhor dizer “aplicando”) tarifas por todos os lados.
A postura mais gradual sugerida por sua equipe parece ter desaparecido, dando lugar a uma presidência que promete mais volatilidade do que a anterior. Isso faz sentido: com o controle da Câmara e do Senado, Trump tem o poder necessário para implementar uma agenda mais agressiva, em suas próprias palavras, “agora ou nunca”.
Neste cenário, ele parece determinado a ditar as regras, com pouco a perder.
Lições de 2016 e a repetição de padrões no mercado
Para entender o que esperar, é útil revisitar 2016. Embora o contexto global tenha mudado, as políticas de Trump seguem na mesma direção. E, como se diz, a história pode não se repetir, mas muitas vezes rima.
Um gráfico comparativo destaca os índices de Sharpe das sete operações com melhor desempenho ajustado ao risco nos 45 dias seguintes à vitória surpresa de Trump em 2016.
Optamos por retornos ajustados ao risco em vez de absolutos para evitar vieses em favor de ativos altamente voláteis, como o Bitcoin, que em condições favoráveis tende a liderar em retornos absolutos.
Essas sete operações faziam sentido no contexto macroeconômico da época:
- O mercado acionário, particularmente small caps e bancos, beneficiou-se da agenda econômica e de desregulamentação de Trump.
- Os rendimentos dos títulos americanos subiram, refletindo expectativas de maior crescimento nominal.
- O dólar fortaleceu-se frente a moedas de baixa rentabilidade e de países impactados por tarifas.
- O Bitcoin emergiu como o ativo ideal para um ambiente favorável à desregulamentação.
2024 versus 2016: comparando os “Trump trades”
Revisamos o desempenho dos principais “Trump trades” em 2024, começando do “dia 0” – o momento em que as chances de uma vitória republicana superaram 50% no Polymarket, uma situação semelhante a 9 de novembro de 2016, quando ficou claro que Trump havia vencido.
Algumas observações:
- O rali em ações, especialmente nos EUA, é mais moderado do que em 2016.
- O mercado de câmbio também parece indiferente.
- O Bitcoin concentrou os ganhos de 2016 em um período muito mais curto.
Esses padrões levantam questões importantes: ainda há potencial de alta em operações como USD/MXN ou ações? E o Bitcoin, já completou seu ciclo?
No caso das ações, os altos múltiplos de P/L em 2024 podem ser um dos motivos para o desempenho inferior. Em 2016, o S&P 500 tinha valuations bem mais atrativos, e as apostas em ações dependiam menos de uma entrega robusta de lucros.
No mercado de câmbio, USD/JPY está limitado pela intervenção do Ministério das Finanças japonês, mas por que USD/MXN não disparou como em 2016? Parece que os mercados de câmbio acreditam que as tarifas serão usadas mais como ferramentas de negociação do que como medidas amplas e permanentes.
Essa leitura pode subestimar o impacto potencial da “Trump 2.0” e a volatilidade que ele trará.
Além do curto prazo: macroeconomia versus política
Embora os movimentos iniciais no mercado sejam influenciados por mudanças políticas, as condições macroeconômicas acabam prevalecendo.
Um olhar mais amplo sobre os 180 dias após as vitórias de Trump em 2016 e 2024 revela:
- Bancos e small caps estabilizaram após o entusiasmo inicial, enquanto o S&P 500 continuou avançando.
- A posição vendida em títulos de 10 anos gerou perdas após os ganhos iniciais.
- O longo em USD/MXN terminou com prejuízo após 180 dias.
- O Bitcoin manteve sua tendência de alta, com o maior rali ocorrendo mais tarde.
Em 2017, as economias globais surpreenderam com um crescimento sincronizado em meio à desinflação. Já para 2025, é improvável que esse seja o caso.
Acreditamos que Trump 2.0 priorizará a política externa, com tarifas desempenhando um papel central na agenda macroeconômica por um período prolongado. Se confirmado, o cenário será de maior inflação no curto prazo, mas com crescimento mais fraco.
Nesse ambiente, espera-se que o Federal Reserve “ignore” a pressão inflacionária vinda das tarifas para proteger a economia dos EUA. O resultado provável? Muitos ativos financeiros sofrem, os títulos podem apresentar desempenho neutro, e o dólar serve como hedge.
Reflexão final
Se os cenários acima se concretizarem, será um ambiente desafiador para os mercados financeiros. Compartilhe este artigo com um amigo ou colega interessado em entender as dinâmicas dos “Trump trades” na nova era. Obrigado por ler!