Vamos lá senhores e senhoras: mais uma dobradinha do Bugg. Eliseu teve a ideia de escrever esse pretensioso texto sobre o imponderável: o tempo de recuperação do mercado. Apesar de sabermos da nossa limitação em prever qualquer coisa, achei o desafio interessante e espero que o resultado seja satisfatório. Então vamos lá…
Crises anteriores e tempo de recuperação
Nessa ano de 2020, com a crise do coronavírus, tivemos a queda mais rápida de nossa história. O tempo de transição do bull market para o bear market foi de apenas 16 dias! Essa é a queda mais rápida da história, como já mostrei em artigos anteriores. Por bear market entende-se uma queda de 20% desde o pico atingido. Abaixo, o tempo de queda no mercado acionário e o tempo necessário para recuperação do patamar anterior, pré-crise:
Diferentemente de outras crises, essa aconteceu muito rapidamente e deve também ter uma recuperação parecida com a velocidade da queda. Tivemos um choque na oferta e demanda, algo que pode ser restabelecido, já que os bancos centrais mundiais vêm dando estímulos de cerca de 10% do PIB e alguns trilhões de dólares no mercado. Não só isso: os BCs vêm se esforçando para que o dinheiro chegue efetivamente para quem precisa, de uma maneira mais rápida, já que alguns bancos, querendo ou não, são mais seletivos, ainda mais em momentos de crise.
Você sabia?
Deixe-me fazer um parenteses aqui. Não sabemos como e nem quando teremos uma recuperação na economia e até mesmo na bolsa, mas olha que interessante: você sabia que da mínima de fechamento do S&P para o atual patamar o índice americano já subiu 24%?!
E que o IBOV já teve alta de 22%?
Sim, nós não vamos e nem devemos ter a pretensão de acertar mínimas do mercado, até porque elas ainda podem ser feitas (bate na madeira), mas é no mínimo curioso não? Lembro a você que aqui no Bugg sempre chamamos atenção ao pensamento contrário e desvinculado de notícias na hora de se investir em ações. Escrevi no dia 16/03/2020 sobre a imunização racional, usando a música do nobre Tim Maia. Uma semana depois, no dia 23/03/2020, eu e Breno entregamos um report completo chamando atenção para discrepâncias e assimetrias na bolsa.
Enfim, creio que o mercado deu a maior resposta e lição.
Vol alta é bom?
Uma das lições talvez seja a de que uma volatilidade alta possa ser positiva para o investidor.
A queda recente, além de rápida, trouxe uma volatilidade em níveis muito altos. Em março de 2020 tivemos o mês mais volátil para vários índices mundiais, em que o VIX (Volatility Index) atingiu mais de 80 pontos, um recorde! Quanto maior a volatilidade, maior é o risco? Sim, porém também melhor a oportunidade de comprar algo mais barato no mercado financeiro. Volatilidade alta significa na prática “sangue nas ruas”, “trovões” no mercado, economias caindo, pessoas instáveis emocionalmente e o mercado bipolar pendendo para o extremo pessimismo, ou seja, tudo o que é perfeito para quem quer aumentar os retornos no longo prazo, comprando ativos com uma margem de segurança maior (ativos que estão abaixo do patrimônio líquido e que tenham lucros ou outras métricas de margem de segurança).
Dê uma olhada no gráfico abaixo, que compara os picos de volatilidade com o desempenho do S&P 500. As linhas vermelhas são apenas para ajudar a visualização.
Mas e qual o tempo para recuperarmos dessa queda?
Essa é uma pergunta simples, mas com 1 milhão de respostas, e todas elas meras suposições.
Levando em conta pesquisas de vários jornais, alguns deles como o The Wall Street Journal, é possível dizer a recuperação de uma recessão (definida como 2 ou mais trimestres de um crescimento negativo do PIB) tende a se dar em média em 3 anos , já ajustados dividendos e inflação.
Mas isso é a recuperação da Economia. Sabemos que no mercado de ações o timing é bem diferente. Como frisamos acima, o IBOV e o S&P já tiveram uma boa recuperação desde as mínimas, e o impacto econômico ainda não foi nem sentido em seu todo! Cabe salientar também que um bear market não é o mesmo que uma recessão. O gráfico abaixo mostra o desempenho do S&P desde 1926 e a duração de cada ciclo de alta e baixa. Difícil traçar uma média, meta ou paralelo, mas vale com informação:
Uma das principais falácias de mercado que ouvimos por aí é que, quando o PIB sobe, a bolsa tende a subir! Ainda que seja verdade que o crescimento econômico é algo favorável e importante para o ambiente de negócios, a verdade é que a bolsa antecipa movimentos.
A tabela abaixo nos ajuda a ver o desempenho da bolsa pós recessão. Nos Estados Unidos, em momentos de crise, o PIB, na média, teve uma queda histórica de -2,40%, e o retorno do S&P 500 foi de 15,33% médio já um ano após a queda do PIB; 45,84% após 3 anos e 120,33% após 5 anos, como podemos ver na tabela que segue:
Não temos o mesmo estudo para o Brasil, mas olhe que interessante os resultados dessa tabela que mostra o tempo de recuperação dos últimos circuit breakers por ano. Vale lembrar que, somente em março, foram 8 de um total de 24 ocorridos desde 1967 no Brasil:
Recessões e suas etapas
A última recessão que tivemos nos EUA foi a de 2008-2009. Ainda que tenham motivos totalmente distintos, alguns esperam e estimam forte recessão na economia americana pelo impacto do corona. A última crise durou 17 meses. Não temos como saber exatamente quanto tempo essa irá durar, se vai ser menos ou mais rígida, qual o percentual de queda nos mercados de capitais, qual a taxa de desemprego, ou seja, tudo isso pode variar e ser diferente de crise para crise. Porém, uma coisa é certa: as crises têm um fim e elas passam!
Podemos dividir uma crise em 4 etapas principais: reconhecimento, pânico, estabilização e antecipação. Abaixo podemos ver essas etapas nas crises de 1987 e de 2008:
Vamos, agora, entrar num campo especulativo aqui (ou do chute mesmo).
Acreditamos que já tivemos um momento de reconhecimento no mercado de ações, que começou em fevereiro. A parte do pânico se deu em março, quando tivemos o pior março da história, com queda de mais de 30% do IBOV em apenas um mês. E acreditamos que agora estamos em um momento de estabilização. Botando no gráfico:
Difícil aqui é dizer se já não entramos na fase de antecipação. Eu diria que essa coincidiria com a estabilização de casos na Itália, na Espanha e nos EUA, principalmente, com o Brasil correndo por fora. Nesse sentido, olha que interessante os dois gráficos que tuitei ontem e que mostram exatamente essa estabilização:
O que fazer para evitar quedas fortes ANTES que crises ocorram?
Essa é uma outra pergunta simples de difícil resposta!
Investidores em sua maioria procuram por proteções em quedas, como seguros, compras de puts, vendas de índice ou de ativos específicos quase sempre nos piores momentos, no auge da crise! Muitos correram para o ouro, por exemplo no auge da crise em março. E o fato é que essas “proteções” normalmente ficam muito caras quando o mercado cai. É aquela ideia de comprar guarda-chuva quando esta chovendo. Eu lembro no centro de Porto Alegre, os caras subiam uns 20%, 30% no preço quando estava chovendo. Jogando com o desespero. O mesmo acontece no mercado!
O ideal é comprar uma proteção quando o mercado estiver em calmaria, quando poucos esperam que ocorra algum stress de modo geral nos investimentos. O problema aqui é que é muito difícil prever o timing exato para a compra dessas proteções! Seria o mesmo que comprar o guarda chuva num belo dia de sol e carregá-lo por vários dias na mochila sem usar, só sendo peso mesmo. Muitos não gostam, mas é mais ou menos esse o conceito do hedge, em especial o feito com opções.
Uma outra forma é a diversificação. Diversificar carteira é uma forma de se proteger. Abaixo podemos ver os ativos que mais subiram e caíram ao longo de anos. Interessante que nenhuma classe de ativo foi, por dois anos seguidos, o de melhor retorno:
E olha que bacana se compararmos o retorno de duas classes de ativos, renda fixa e as 500 maiores ações dos EUA. A figura abaixo mostra a sua evolução. Mostrando o andar diferente entre esses ativos, enquanto muitas vezes um está caindo o outro sobe, mostrando a importância da diversificação, protegendo de quedas e nos propiciando com um “tiro extra” para aproveitarmos momentos como o atual:
Esse texto foi escrito por William Castro Alves e Eliseu Mânica Junior.
Era isso.
Aquele Abs.