Não sei se é porque toco e gosto muito de música, mas volta e meia ela me ajuda nas tônicas. Tento variar usando outros assuntos para mesclar com esse tema chamado investimentos. Mas tem vezes que a coisa gruda na cabeça!
Pois essa semana, a música de Dominguinhos grudou. Não sou fã de Dominguinhos, apenas respeito-o como expoente que é para música brasileira. Tampouco gosto de festa junina ou julinas, mas o que acontece é: com quem converso sobre a percepção e o sentimento acerca do investimento em bolsa é um tal de:
Olha, que isso aqui tá muito bom
Isso aqui tá bom demais
Olha, quem tá fora quer entrar
Mas quem tá dentro não sai
Pois é
“Olha a cobra”…é mentira!
Resumindo o sentimento: não vejo motivos para pessimismo com quem eu converso! Não estou dizendo que estão todos eufóricos. Não! Muitos partem para o “moderadamente otimista”. Tipo, “não sei o que vai acontecer nos próximos 30 dias, mas olhando 12 meses pra frente, dá pra ficar otimista".
Os riscos seguem sendo os mesmos:
“Realizei um pouco e estou estudando outros ativos”; “parece que agora vai”; “se olhar agora tem muita coisa no preço, mas tem inflexão com retomada da atividade”. Estas são algumas das expressões usadas.
Não vejo ninguém dizendo: “to saindo fora porque vai dar M”!
É bem verdade que me preocupo com essa ideia de olhar apenas um lado, mas de fato, tem sido difícil arranjar motivos para não voltar para festa.
Mundo parece bastante calmo. O índice VIX voltou para patamares bastante baixos:
E nos EUA onde supostamente haverá uma recessão em algum momento, tal qual muitos predizem, o S&P alcança novas máximas:
Sustentado por aquilo que interessa: Lucro! (vide Ações e a Regra de Ouro). As empresas tem mostrado surpresas positivas nos lucros nessa atual safra de balanços: 76% das empresas do S&P500 que reportaram seus números supreenderam positivamente as expectativas dos analistas, apresentando um crescimento de lucros de ~5,5%.
Olha a cobra…é mentira!
Agarre pelo chifre
Pra ser feliz num lugar
Pra sorrir e cantar
Tanta coisa a gente inventa,
Argumentos a gente arranja para defender a tese….rs
Itaú soltou um relatório muito bem feito no qual ressalta que num Bull Market é melhor não enfrentar o touro, mas sim agarra-lo pelos chifres.
Olhando internamente vários são os motivos. vou citar alguns que considero mais relevantes.
O primeiro é algo que já comentei aqui: a nova realidade da Renda Fixa, ou seja, a realidade de juros menores. Itaú (SA:ITUB4) estima uma Selic em 5%, na semana passada o BofA (Bank of America Merril Lynch) projetou juros em 4,75%! Com uma inflação entre 3,5% a 4%, estamos falando de juros reais de no máximo 1,5%!! Um número ainda mais baixo que o do gráfico que postei aqui alguns dias atrás usando o Focus da época (Tônica de 08/07/2019 e o vídeo que fiz em fevereiro de 2019):
O segundo é a baixa alocação de bolsa nas carteiras dos agentes. Como resultado dos juros, mais e mais agentes terão necessariamente que buscar retornos em outros tipos de ativos. Atualmente o investimento em ações representa uma parcela pequena e haveria um bom espaço para expansão disso.
A conta do Itaú é bem interessante. Existem atualmente aproximadamente R$ 6,4 trilhões alocados em renda fixa de acordo com a divisão do gráfico de barra a esquerda. Se 10% dos valores alocados hoje em ativos de renda fixa migrassem para bolsa, teríamos uma chuva de R$ 636 bilhões entrando, algo como 25% do free float das empresas da bolsa. Mais que isso, uma força compradora monstruosa – bolsa negocia hoje em média cerca de R$ 12 bilhões diariamente.
O terceiro é a potencial reavalição dos múltiplos que o Brasil negocia. Algo que já comentei algum tempo aqui quando comparei com o que aconteceu na Índia (Tônica de 12/11/2018). E semana passada trouxe novamente a discussão de reprecificação – Investir na Bolsa agora é um ato de fé?.
A ideia é simples, se o Brasil fizer seu dever de casa e as propostas/projetos hoje aventados (reforma tributária e fiscal, privatizações, choque de energia barata com o gás) saírem do papel, há um espaço para melhora de lucros das empresas e consequentemente uma avaliação menos pesada sobre a bolsa brasileira. Tal qual comentei semana passada, seria possível se chegar a múltiplos mais altos que a média histórica que o Brasil possui.
O quarto. Cenário externo ajuda. Juros no mundo seguem em patamares muito baixos. Atingimos a marca de US$ 14 trilhões alocados em títulos com juros negativos. Os motivos fogem ao escopo dessa Tônica, mas o fato é que não há yield por aí! Então, se o que comentei acima acontecer, passamos a ser um hub interessantíssimo de atração de capital para o investimento estrangeiro.
Vamos embora
Vamos embora de repente,
Vamos embora sem demora,
Vamos pra frente
Que pra trás não dá mais
Olhando a realidade que nos cerca não dá pra ver esse otimismo, pois números ainda são bem ruins. Todavia crescer parece nosso destino, não dá mais para ir para trás. E com juros menores temos menos despesas financeiras com juros e só isso já dá certo impulso de lucro para empresas mais endividadas. Isso, aliado a um pouco de confiança tende a fomentar investimentos e consumo, puxando também os lucros.
Itaú estima Ibovespa em 132 mil pontos olhando o fim de 2020, 28% de alta considerando o fechamento de sexta.
Pra acabar
Nada de significativamente novo no que eu comentei aqui. Aprovamos a reforma da Previdência e precisamos seguir caminhando. Como comentei 2 semanas atrás, “O show tem que continuar”: investir na bolsa nos atuais patamares, como comentei semana passada, segue sendo um exercício de fé.
Mas, o fato é que se quem tá dentro não quer sair e quem tá fora quer entrar, temos mais gente querendo comprar do que gente querendo vender, não é? Então porque teríamos uma realização maior na bolsa? E se tivermos, será que haverá mudado de fato essa tônica positiva? Difícil ver isso, por isso me parece que:
Olha, que isso aqui tá muito bom
Isso aqui tá bom demais
Olha, quem tá fora quer entrar
Mas quem tá dentro não sai
Era isso.
Aquele Abs.