Tônica da Semana: Isso Aqui Tá Bom Demais

Publicado 29.07.2019, 14:40
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Não sei se é porque toco e gosto muito de música, mas volta e meia ela me ajuda nas tônicas. Tento variar usando outros assuntos para mesclar com esse tema chamado investimentos. Mas tem vezes que a coisa gruda na cabeça!

Pois essa semana, a música de Dominguinhos grudou. Não sou fã de Dominguinhos, apenas respeito-o como expoente que é para música brasileira. Tampouco gosto de festa junina ou julinas, mas o que acontece é: com quem converso sobre a percepção e o sentimento acerca do investimento em bolsa é um tal de:

Olha, que isso aqui tá muito bom

Isso aqui tá bom demais

Olha, quem tá fora quer entrar

Mas quem tá dentro não sai

Pois é

“Olha a cobra”…é mentira!

Resumindo o sentimento: não vejo motivos para pessimismo com quem eu converso! Não estou dizendo que estão todos eufóricos. Não! Muitos partem para o “moderadamente otimista”. Tipo, “não sei o que vai acontecer nos próximos 30 dias, mas olhando 12 meses pra frente, dá pra ficar otimista".

Os riscos seguem sendo os mesmos:

  • Uma possível e recessão nos EUA;
  • Alavancagem chinesa;
  • A Europa que não cresce;
  • O Executivo que tem um talento para falar bobagem e inventar polêmicas.
  • “Realizei um pouco e estou estudando outros ativos”; “parece que agora vai”; “se olhar agora tem muita coisa no preço, mas tem inflexão com retomada da atividade”. Estas são algumas das expressões usadas.

    Não vejo ninguém dizendo: “to saindo fora porque vai dar M”!

    É bem verdade que me preocupo com essa ideia de olhar apenas um lado, mas de fato, tem sido difícil arranjar motivos para não voltar para festa.

    Mundo parece bastante calmo. O índice VIX voltou para patamares bastante baixos:

    Gráfico VIX - Powered by TradingView

    E nos EUA onde supostamente haverá uma recessão em algum momento, tal qual muitos predizem, o S&P alcança novas máximas:

    Gráfico S&P500 - Powered by TradingView

    Sustentado por aquilo que interessa: Lucro! (vide Ações e a Regra de Ouro). As empresas tem mostrado surpresas positivas nos lucros nessa atual safra de balanços: 76% das empresas do S&P500 que reportaram seus números supreenderam positivamente as expectativas dos analistas, apresentando um crescimento de lucros de ~5,5%.

    Ganhos Scouting Report

    Olha a cobra…é mentira!

    Agarre pelo chifre

    Pra ser feliz num lugar

    Pra sorrir e cantar

    Tanta coisa a gente inventa,

    Argumentos a gente arranja para defender a tese….rs

    Itaú soltou um relatório muito bem feito no qual ressalta que num Bull Market é melhor não enfrentar o touro, mas sim agarra-lo pelos chifres.

    Relatório Itaú

    Olhando internamente vários são os motivos. vou citar alguns que considero mais relevantes.

    O primeiro é algo que já comentei aqui: a nova realidade da Renda Fixa, ou seja, a realidade de juros menores. Itaú (SA:ITUB4) estima uma Selic em 5%, na semana passada o BofA (Bank of America Merril Lynch) projetou juros em 4,75%! Com uma inflação entre 3,5% a 4%, estamos falando de juros reais de no máximo 1,5%!! Um número ainda mais baixo que o do gráfico que postei aqui alguns dias atrás usando o Focus da época (Tônica de 08/07/2019 e o vídeo que fiz em fevereiro de 2019):

    Histórico dos Juros Reais no Brasil

    O segundo é a baixa alocação de bolsa nas carteiras dos agentes. Como resultado dos juros, mais e mais agentes terão necessariamente que buscar retornos em outros tipos de ativos. Atualmente o investimento em ações representa uma parcela pequena e haveria um bom espaço para expansão disso.

    Percentual de Ações nos Portfólios brasileiros

    A conta do Itaú é bem interessante. Existem atualmente aproximadamente R$ 6,4 trilhões alocados em renda fixa de acordo com a divisão do gráfico de barra a esquerda. Se 10% dos valores alocados hoje em ativos de renda fixa migrassem para bolsa, teríamos uma chuva de R$ 636 bilhões entrando, algo como 25% do free float das empresas da bolsa. Mais que isso, uma força compradora monstruosa – bolsa negocia hoje em média cerca de R$ 12 bilhões diariamente.

    Potencial de transferência de portfólio com juros baixos

    O terceiro é a potencial reavalição dos múltiplos que o Brasil negocia. Algo que já comentei algum tempo aqui quando comparei com o que aconteceu na Índia (Tônica de 12/11/2018). E semana passada trouxe novamente a discussão de reprecificação – Investir na Bolsa agora é um ato de fé?.

    A ideia é simples, se o Brasil fizer seu dever de casa e as propostas/projetos hoje aventados (reforma tributária e fiscal, privatizações, choque de energia barata com o gás) saírem do papel, há um espaço para melhora de lucros das empresas e consequentemente uma avaliação menos pesada sobre a bolsa brasileira. Tal qual comentei semana passada, seria possível se chegar a múltiplos mais altos que a média histórica que o Brasil possui.

    O quarto. Cenário externo ajuda. Juros no mundo seguem em patamares muito baixos. Atingimos a marca de US$ 14 trilhões alocados em títulos com juros negativos. Os motivos fogem ao escopo dessa Tônica, mas o fato é que não há yield por aí! Então, se o que comentei acima acontecer, passamos a ser um hub interessantíssimo de atração de capital para o investimento estrangeiro.

    Gráfico Total de Títulos de Dívida com yield negativo

    Vamos embora

    Vamos embora de repente,

    Vamos embora sem demora,

    Vamos pra frente

    Que pra trás não dá mais

    Olhando a realidade que nos cerca não dá pra ver esse otimismo, pois números ainda são bem ruins. Todavia crescer parece nosso destino, não dá mais para ir para trás. E com juros menores temos menos despesas financeiras com juros e só isso já dá certo impulso de lucro para empresas mais endividadas. Isso, aliado a um pouco de confiança tende a fomentar investimentos e consumo, puxando também os lucros.

    Itaú estima Ibovespa em 132 mil pontos olhando o fim de 2020, 28% de alta considerando o fechamento de sexta.

    Projeção Ibovespa Itaú

    Pra acabar

    Nada de significativamente novo no que eu comentei aqui. Aprovamos a reforma da Previdência e precisamos seguir caminhando. Como comentei 2 semanas atrás, “O show tem que continuar”: investir na bolsa nos atuais patamares, como comentei semana passada, segue sendo um exercício de fé.

    Mas, o fato é que se quem tá dentro não quer sair e quem tá fora quer entrar, temos mais gente querendo comprar do que gente querendo vender, não é? Então porque teríamos uma realização maior na bolsa? E se tivermos, será que haverá mudado de fato essa tônica positiva? Difícil ver isso, por isso me parece que:

    Olha, que isso aqui tá muito bom

    Isso aqui tá bom demais

    Olha, quem tá fora quer entrar

    Mas quem tá dentro não sai

    Era isso.

    Aquele Abs.

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