NADA MUDOU…
Bom dia a todos.
Pouco ou nada mudou na minha cabeça em relação à semana passada. Sigo com um pensamento de que temos que ter muita cautela agora.
S&P 500 nas máximas, bolsa brasileira também andou (ainda que não esteja nas máximas), eleições americanas, a meu ver, já são passado, voltamos a falar de pacote de estímulos, sazonalmente essa é uma época favorável para o mercado de ações (bolsa tradicionalmente sobe nos últimos meses do ano), já temos uma vacina para o coronavírus. Aparentemente, todas as nuvens se dissiparam.
VEJAMOS…
Olhando para o mercado, o que vejo… Índice de Volatilidade segue baixo (VIX).
Índice Fear and Greed (medo e ganância) da CNN segue no terreno da ganância, outro sinal que indica que é melhor os investidores terem cautela.
Vimos um inflow muito grande para ações, tal qual comentei semana passada…
E a pesquisa recente da Merril Lynch mostra que o otimismo está elevado entre os investidores.
RECEIO DO QUE NÃO SE VÊ…
O leitor pode comentar: Will, mas e o avanço do coronavírus nos últimos dias… não te assusta?
Certamente é ruim no curto prazo, mas o meu amigo André Prates (@pratesr) resumiu bem no Twitter:
Aparentemente, todas as nuvens se dissiparam… É aí que mora o perigo. Quando só vemos motivos para ter uma postura mais otimista e tudo indica que você deve comprar, a experiência nos ensina a ter um pensamento contrarian quando o assunto é bolsa. Quando só vemos motivos para otimismo nos periódicos, aí que temos que ter cautela!
Ou talvez seja apenas eu: um gato escaldado com medo de água quente.
Semana passada comentei do fluxo massivo para ações, dos mais de 85% papéis do S&P negociando acima de suas médias móveis de 200 dias, do otimismo entre investidores de varejo e do aumento das vendas de ações pelos “insiders” (diretores, CEOs, CFOs, etc).
Mas, para não ficar só em percepção, deixa eu compartilhar um estudo que achei bem legal:
EARNINGS YIELD E VALUATION DAS TECHS
Li uma análise interessante de Dhaval Joshi, estrategista-chefe da BCA Research na Europa.
Ele compara o earnings yield das ações de tecnologia americanas (em suma um indicador que pega o lucro por ação, dividido pelo preço da ação) e compara com o retorno dos títulos de dívida de longo prazo (10 anos) dos EUA. A lógica é aquela do custo de oportunidade: se o retorno do investimento em títulos americanos sobe, o investimento em renda variável (risco) diminui. Portanto, ao passo que as ações se valorizam, temos uma diminuição desse earnings yield. Em outras palavras, o investimento em renda variável fica menos atrativo; ou, se a curva de juros dos títulos longos aponta para um patamar mais alto, também se torna menos interessante investir em ações.
O gráfico abaixo mostra essa diferença (“um menos o outro”) ao longo dos últimos três anos. Ou seja, quando a diferença aumenta, significa que o earnings yields das ações de tecnologia está alto o suficiente para compensa o investimento em ações. Quando essa diferença diminui, o risco passa a não compensar o investimento. O gráfico sugere que estamos perto de um ponto importante de definição.
Traduzo o que ele fala:
“Desde o início de 2018, uma alta nos rendimentos dos títulos americanos causou realizações no mercado de ações em 4 ocasiões: fevereiro de 2018, outubro de 2018, abril de 2019 e janeiro de 2020…Em todas as 4 ocasiões, quando essa diferença se reduziu até as mínimas de 2,25% tivemos um ponto de inflexão no mercado”.
No gráfico dá pra ver que o ponto de cautela/inflexão se dá nos 2,5%. Ali as coisas começam a ficar mais perigosas, digamos assim. Atualmente, estamos em 2,8%, segundo ele. Logo, um aumento de 30 basis nos juros de 10y americanos ou um aumento de ~10% das techs nos levariam a essa região. Dito de outra forma, novas altas nas empresas de tecnologia ou um aumento dos rendimentos dos títulos americanos poderiam levar a realizações no mercado de ações. Isso porque o peso do setor de tecnologia no S&P é elevado, e porque o valuation dessas empresas também se encontra em patamares altos.
Ele compara ainda o valuation (nesse caso o simples Price/Earnings ratio) das empresas tech. Dá para ver que esse negócio “estica” e descorrelaciona preço e lucro, mas não por muito tempo…
CAUTELA É DIFERENTE DE MEDO
Veja bem, cautela e medo são coisas diferentes. A principal diferença, a meu ver, é que o segundo, o medo, leva a tomar atitudes desesperadas e impensadas. Apesar da minha percepção de cautela, não vou sair vendendo todas minhas posições e me preparar para algum desastre. Sair pelas redes sociais pregando o armagedon… rs
O mercado é amplo e cheio de oportunidades! Basta ver que, após a notícia de vacina, tivemos diversas ações de setores que estavam lá combalidas e largadas que performaram muito bem! Abaixo, o gráfico de performance antes e depois das vacinas anunciadas recentemente. Em linha com aquela história de rotation, e em linha com o movimento de alta que vimos nos bancos na bolsa brasileira, por exemplo:
Fora isso, as small caps ressurgiram aqui no mercado americano.
E, em relação ao Brasil, o que mais leio (com certo receio, eu confesso) é um certo consenso de que está barato e atrativo. Credit Suisse elaborou um relatório de 222 páginas com suas predições para 2021. Em vários momentos eles comentam do Brasil como um dos seus Top Picks entre os emergentes. A forte queda do real nos tornou baratos internacionalmente. Abaixo o gráfico de P/Lucro tirando Petro e Vale:
Eles têm um modelo super sofisticado que leva em conta um monte de fatores o qual estão resumidos aqui na tabela abaixo. Em suma, o outcome é: Brasil medalha de ouro!
Enfim... Como disse, sigo cauteloso, sem mudar significativamente carteira. Apenas preparado para as altas, mas também para as baixas. E vocês?
Era isso.
Aquele Abs.