Já começo respondendo e talvez frustrando o leitor…a resposta para tal pergunta, a meu ver, é:
NINGUÉM SABE AO CERTO!
Escutei esses dias algo que é engraçado, mas que cai como uma luva sobre a percepção de alguns do atual momento:
"É bolha quando eu tô de fora….quando eu tô comprado é fundamento!”
Mas por que estou falando disso?
Não sei dizer se é bolha ou não… Minha ideia aqui é sempre trazer uma reflexão pra vocês, e vocês que tirem suas conclusões. Meu trabalho aqui é dividir alguns pensamentos, angústias, dúvidas e meus achismos. Então vou colocar alguns pontos que me fizeram/fazem refletir sobre o assunto.
PRIMEIRO: prezo pela prudência e pelo bom senso! Logo, a hora de nos questionarmos sobre o mercado, a hora de pensarmos em ter cautela ou de avaliarmos o que se passa é quando vemos o mercado alcançando novas máximas!
SEGUNDO: achei esse gráfico bem interessante. Mostra que muitas pessoas vêm procurando no Google sobre esse termo. Ou seja, esse é um tema do momento. Mais e mais pessoas vêm se fazendo essa pergunt ! Fonte.
TERCEIRO: o S&P 500 e o Nasdaq atingiram novas máximas essa semana. Desde o Halloween, no final de outubro, temos 18% de alta no índice!
Aliás alguém aí lembra o que escrevi logo após o ocorrido (queda do final de outubro)?
QUARTO: porque as altas recentes têm sido observada não só em ações, mas diversos ativos… Inclusive suscitando algumas brincadeiras, como essa do Investing.com. A ideia da bolha de tudo! Algo que também tenho escutado/lido por aí.
QUINTO: li o artigo “Investidores estão como 'sapos na água fervendo,' diz gestor de US$ 30 bi…” – Fonte
Seth Klarman é um dos gurus do value investing e merece muito respeito! Ele não diz que é bolha, mas traz algumas ressalvas.
Junto a isso, recentemente o Michael Burry – o cara do Big Short – comentou a respeito da Tesla (NASDAQ:TSLA): ‘Big Short’ investor Michael Burry predicts Tesla stock will collapse like the housing bubble: ‘Enjoy it while it lasts’
SEXTO: os insiders vêm vendendo. Isso não é uma prova de bolha… Os diretores, CEOs e executivos da empresa vendem por diversos motivos. É algo totalmente normal! A questão é que quando vemos o ratio (relação) entre aqueles que vendem e os que compram saltar como mostra o gráfico abaixo, acabo ficando com uma pulga atrás da orelha! Concomitantemente, na escassez de ideias de investimento ou alternativas de alocação de capital, quando se trata da decisão do dinheiro de terceiros (entenda-se nesse caso o caixa da empresa), eles seguem colocando mais e mais recursos em buybacks! Vale a pena ler a matéria: Fonte.
SÉTIMO: a realização de operações de venda (apostar na queda) é algo normal no mercado. É uma forma de ajuste, de arbitragem, digamos assim… Saudável até. A questão é que, com mais e mais altas no mercado e com a liquidez abundante existente hoje, os níveis de “short” no mercado se mostram bem baixos.
E por consequência as taxas de aluguel de ativos, como mostra o gráfico abaixo. Aqui tem um efeito de taxa e juros subjacente também, mas não dá para ignorar o impacto de menos pessoas fazendo. Calou a venda?
OITAVO: mais e mais dinheiro vem sendo colocado no mercado. Uma pesquisa recente da Merril Lynch mostra que os níveis de caixa pelos gestores se mostra bastante baixo, cerca de 1 desvio abaixo da média.
E que mais e mais investidores vêm aumentando suas “margin debts” o que no bom português significa: aumentar sua alavancagem! Fonte.
Ou seja, mais e mais gestores e investidores aceitando tomar mais e mais risco para buscar algum retorno.
NONO: e obviamente os níveis de valuation vão entrando em territórios bem elevados, historicamente falando. Tem vários gráficos mostrando isso, volta e meia recebo um. Mas achei interessante a tabela abaixo porque ela agrega diversos indicadores (múltiplos) e os compara com algumas classes de ativos mostrando que, dentro de uma janela de 15 anos, a maioria deles se encontra no percentil mais alto da amostra.
DÉCIMO: vale citar que temos tido um número grande de IPOs aqui nos EUA. 2020, mesmo com a crise, mostrou-se um ano excepcional para a captação de novas empresas vindo a bolsa
In all, it was the best IPO year in terms of deal count and capital raises since the 1990s, according to data compiled by PricewaterhouseCoopers, with 183 traditional IPOs and 242 SPAC deals raising slightly more than $150 billion in total. Fonte
Ao todo, foi o melhor ano para IPOs em termos de contagem de negócios e aumento de capital desde os anos 1990, de acordo com dados compilados pela PricewaterhouseCoopers, com 183 IPOs tradicionais e 242 negócios SPAC levantando pouco mais de US $ 150 bilhões no total.
E o pipeline de novas empresas abrindo seu capital na bolsa americana segue elevado. Enfim, mais uma coisa que me chamou atenção.
CONCLUSÃO
Sinceramente, poderia seguir aqui citando alguns gráficos e notícias que me chamam atenção... que me deixam de “orelha em pé”. Mas não quero ser enfadonho tampouco alarmista.
Como disse, não tenho resposta à pergunta que fiz no título. O investopedia traz uma definição do que é bolha. É didático, mas também não vai te dar a resposta. Sigo refletindo.
No final do dia, o que tem segurado esse mercado é a liquidez abundante e “infinita” que os executores de política monetária têm posto em prática (os donos das chaves do cofre). Seguimos dançando ao ritmo do TINA (there is no alternative) e do FOMO (fear of missing out).
E nunca é demais lembrar os ensinamentos do mestre Peter Lynch… mais dinheiro foi perdido tentando adivinhar a nova crise ou bolha do que nas próprias crises ou bolhas.
E PARA A SEMANA…
Antes de acabar, deixe-me chamar atenção a 3 pontos aqui, mais ligados à semana:
RESULTADOS
Teremos uma semana cheia e intensa em termos de resultados corporativos. Isso que, a meu ver, vai dar o tom do mercado: a capacidade das empresas de surpreender o mercado, além de dar guidance sobre o futuro.
VACINAÇÃO
Com exceção de Israel, a vacinação parece andar em ritmo lento – Fonte.
E, quanto mais lento for, maiores são os receios com o desenvolvimento e a melhora da economia. Esse é outro ponto de atenção dos mercados daqui pra frente.
BRASIL
2 semanas atrás tinha escrito que vivemos uma certa festa no mercado, com muita liquidez, e os ativos de risco todos performando bem pelo mundo. Mas o engraçado, ou triste, nisso tudo é que o Brasil parece não se encaixar tão bem nessa festa.
Apesar de todo o apetite a risco, e contrariamente ao que muitos apostavam, o Real segue underperformando ante o dólar!
As privatizações não caminham (hoje o presidente da Eletrobras (SA:ELET3) anunciou renúncia, inclusive), as reformas me parece estacionadas, ainda ouvimos comentários de políticos relativizando teto de gastos... Temos experiência com vacinação em massa, mas só precisamos mostrar que conseguimos.
Enfim, vários desafios que justificam, a meu ver, a realização recente da bolsa e a underperform da moeda.
Era isso.
Aquele Abs.