Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com.
- Governos podem adotar a tecnologia blockchain, mas odeiam as criptos
- Sanções a uma exchange: ajudando e instigando ataques cibernéticos
- Cortina de fumaça para proteger o controle - China proíbe a classe de ativos, novamente.
- SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, lançou um míssil contra a Coinbase
- Mais ataques regulatórios tentando acabar com a maior ameaça ao status quo
As criptomoedas estão ganhando cada vez mais popularidade. Mais e mais empresas as estão aceitando como forma de pagamento, e instituições financeiras começaram a permitir alguma porcentagem das moedas digitais em suas alocações de portfólio, além do fato de que um país centro-americano resolveu adotar a cripto líder como sua divisa nacional.
Os defensores defendem que a revolução das criptos é a evolução da tecnologia financeira. Enquanto seus opositores dizem que as moedas digitais carecem de qualquer valor intrínseco e são mais úteis para quem deseja violar as regras, normas e legislação. Warren Buffett chamou o bitcoin e as outras criptomoedas de “ilusão sem valor” e “veneno de rato financeiro ao quadrado”, além de dizer que elas "basicamente não têm valor”.
Seu sócio, Charlie Munger, foi mais longe, afirmando que o bitcoin e as outras criptos eram “nojentas e contrárias aos interesses da civilização”.
Por outro lado, Jack Dorsey, cofundador do Twitter (NYSE:TWTR) (SA:TWTR34) e CEO da Square (NYSE:SQ) (SA:S2QU34), chamou as criptos de moedas da internet. Em um comentário irônico, Elon Musk, da Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34), revelou o que sente em relação às criptos:
“Eu posso incentivar, mas não prejudicar os ativos.”
Ainda que o apoio ou resistência às criptomoedas possa ser uma questão de geração, o conflito transcende os comentários de alto perfil em ambas as direções.
O controle da oferta monetária é um aspecto central do poder governamental. A ideologia das criptomoedas é libertária e contrária ao status quo financeiro. As criptos transferem o controle dos governos de volta para a coletividade composta por indivíduos. Se as criptos substituíssem as moedas fiduciárias, os governos não poderiam expandir ou contrair a oferta monetária nem estimular ou desestimular o crescimento, instrumento importante de poder e controle.
Temos visto governos e agências regulatórias disparando mísseis contra a classe de ativos nas últimas semanas. Esse pode ser apenas o início de ações com o objetivo de evitar que a classe de ativos supere seu valor de mercado atual de US$2 trilhões.
Governos podem adotar a tecnologia blockchain, mas odeiam as criptos
O apoio à tecnologia blockchain é praticamente unânime, na medida em que a tecnologia financeira oferece velocidade e eficiência para realizar transações. Não se sabe quem nasceu primeiro: o bitcoin ou a blockchain?
Muitos sistemas e empresas são capazes de gerar controvérsia ou mesmo consequências maléficas. A indústria farmacêutica salva vidas, mas o vício e o abuso de drogas também custam vidas.
Os governos abraçaram a tecnologia blockchain, mas as criptomoedas são outra história.
Uma das raízes do poder político vem do controle orçamentário. A capacidade de expandir e contrair a oferta de dinheiro é crucial para a função governamental. O atual estímulo que estabilizou os EUA e a economia global durante a pandemia é o exemplo perfeito.
As criptomoedas são ativos libertários, na medida em que removem o controle dos governos sobre a oferta monetária. O valor de uma criptomoeda é determinado pelas ofertas de compra e venda no mercado a qualquer momento.
A maioria das criptos têm ofertas fixas. Elas voam abaixo do radar dos governos, autoridades monetárias e bancos centrais. A alta das criptomoedas é um desafio ideológico direto ao controle e poder governamental. Por isso, enquanto os governos apoiam a blockchain, no que se refere às criptos, a história é completamente diferente.
Sanções a uma exchange: ajudando e instigando ataques cibernéticos
Soou o alarme entre as potências quando El Salvador resolveu adotar o bitcoin como sua moeda nacional no início de setembro. Na semana passada, o Tesouro americano sancionou uma exchange de criptomoedas por sua atuação na lavagem de dinheiro de ataques cibernéticos.
O órgão alega que a exchange Suex facilitou transações envolvendo atos ilícitos em pelo menos oito variantes de ransomware. Provavelmente veremos os advogados do governo usando as regras de “conheça seu cliente” e normas para sancionar a exchange.
Como ressaltam muitos opositores, as criptos são as moedas perfeitas para empreitadas criminosas e nefastas. Charlie Munger as chamou de “nojentas”. Embora o Tesouro americano tenha ido atrás de uma exchange por violações lógicas, a razão ideológica para os obstáculos também chama a atenção.
Cortina de fumaça para proteger o controle - China proíbe a classe de ativos, novamente.
Acredito que veremos um número cada vez maior de ações regulatórias contra as criptomoedas, numa tentativa coordenada de preservar o status quo. É mais fácil tentar conter legalmente o avanço das criptos antes que seu valor de mercado – e aceitação como meio de troca popular – cresçam. Uma quantidade crescente de sanções e ações regulatórias não passa de uma cortina de fumaça para manter o status quo. Se as moedas digitais dominarem os mercados nos próximos anos, os governos certamente vão querer dominar as criptomoedas disponíveis para negociação e investimentos.
O cerne da questão é se os EUA, Europa e todos os outros governos farão de tudo para manter o controle sobre a oferta monetária. O gestor de hedge fund, Ray Dalio, disse recentemente que se o bitcoin realmente se tornar bem-sucedido, os órgãos reguladores “iriam matá-lo”.
Em 24 de setembro, em outro movimento contra a classe de ativos, a China declarou que todas as transações com criptomoedas eram ilegais.
SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, lançou um míssil contra a Coinbase
O último movimento do Tesouro americano foi o segundo míssil regulatório lançado nas últimas semanas. A SEC enviou à Coinbase Global (NASDAQ:COIN) uma notificação informando à exchange americana que pretende tomar ações para evitar que seu produto “Lend” permita que os clientes realizem empréstimos com criptotokens.
A SEC argumenta que se o produto fizer a securitização de criptos, entraria no âmbito regulatório da agência. A COIN cancelou seus planos de lançar o produto após receber a notificação.
Gary Gensler é o presidente da SEC. Como diretor do CFTC, ele permitiu que a CME lançasse os contratos futuros de bitcoin. Quando deixou o cargo e se afastou das agências regulatórias americanas, Gensler passou a lecionar um curso sobre tecnologia financeira no MIT. Muitos participantes do criptomercado acreditavam que ele apoiaria a classe na SEC.
Na semana passada, ele declarou que não vê muita viabilidade para as criptomoedas no longo prazo, comparando-as à época em que os bancos atuavam nos EUA sem uma regulação federal, entre 1837-1863.
Mais ataques regulatórios tentando acabar com a maior ameaça ao status quo
El Salvador é um lobo solitário, ao adotar uma cripto como moeda nacional. Enquanto isso, a China tornou ilegais essas moedas, prometendo aplicar várias penalidades para quem desafiar a lei.
Os EUA estão usando o Tesouro, a SEC e outras agências regulatórias para “proteger" investidores e empresas, mas o objetivo é proteger seu controle sobre a oferta monetária.
Minha expectativa é que ações regulatórias e declarações anticriptos cresçam com o avanço da sua capitalização de mercado. Ray Dalio deu seu parecer em relação à atuação dos governos para “matar” o bitcoin e outras criptomoedas.
Tudo indica que veremos vários outros “mísseis” regulatórios. O problema é a ideologia, que é contrária ao status quo e ao poder governamental. Quando estiverem plenamente reguladas, as criptos não mais devolverão o poder do controle do dinheiro aos indivíduos, justamente o aspecto que as torna atraentes aos muitos devotos.