Na semana passada, discutimos como os investidores estavam deixando de lado a cautela e falamos sobre a necessidade de assumir um posicionamento defensivo. Uma semana depois, touros e ursos se enfrentam na linha da média móvel de 200 dias (MMD 200) para ver quem vai assumir o controle.
Ao longo das últimas semanas, vimos repetindo uma frase simples:
“As reversões ocorrem de forma muito rápida”.
Na atualização técnica que fizemos na terça-feira, demos especial atenção à condição extremamente sobrecomprada do mercado. E dissemos o seguinte:
“O número de setores e mercados operando em níveis extremamente sobrecomprados confirma essa extensão. O gráfico abaixo mostra uma raridade de mercado. Todos os setores e mercados, exceto os títulos públicos, estão extremamente sobrecomprados."
Setor e mercado sobrecomprado e sobrevendido
“A última vez em que isso aconteceu foi na segunda semana de abril, que precedeu uma correção de 4%, e depois acabou se consolidando por um mês. O ponto de entrada seguinte aconteceu em meados de maio. O nível de preço estava relativamente estável, e o risco-retorno no aumento da exposição ao risco havia melhorado muito."
Risco vs. retorno
Assim como na última vez, não levou muito tempo para que a correção desse as caras. Como ressaltamos anteriormente, a correção rapidamente mitigou os parâmetros negativos de risco-retorno anteriores.
“Essa correção aconteceu rapidamente na quinta-feira. A disparada de casos de covid-19 nos EUA minou a ideia de recuperação econômica em forma de ‘V’. Como havíamos salientado, o mercado foi de encontro com uma resistência superior, e a correção encontrou suporte na MMD 200."
Gráfico do SPY diário
Quando o mercado atingiu o pico há duas semanas, dissemos que a probabilidade de uma correção até a MMD 200 seria de 70%. Na última quinta-feira, esse patamar foi atingido. Os parâmetros atuais de risco-retorno melhoraram um pouco graças à correção, mas continuam negativos de maneira geral.
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-6,6% para a MMA 200 vs. +5% para máximas históricas. Negativo (70% – Alvo atingido)
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-11,2% para a MMA 50 vs. +5% para máxima histórica. Negativo (20%)
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-14,4% até as mínimas da consolidação anterior vs. +5% até as máximas históricas. Negativo (5%)
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-18,3% até o pico do repique de março vs. +5% até as máximas históricas. Negativo (5%)
A liquidação vista na última quinta-feira é um bom lembrete da brutalidade com que os mercados podem se comportar quando há uma completa falta de liquidez.Também foi um bom lembrete da importância de protegermos nossas carteiras contra eventos dessa natureza.
Briga entre touros e ursos
Na segunda-feira, touros e ursos brigaram sobre a MMD 200. Na abertura, parecia que os ursos iriam assumir o controle do mercado. Entretanto, o jogo virou de repente. Com os mercados afundando novamente na abertura e em vista da notícia de que Jerome Powell tem uma fortuna pessoal investida com a Blackrock, o Fed tomou uma ação rápida:
Este é o oportuno informe à imprensa que fez os touros voltarem com tudo.
O anúncio do Fed era desnecessário, na medida em que apenas repetia a missão original da linha de crédito corporativo para o mercado secundário (SMCCF, na sigla em inglês). Não foram feitas alterações no programa, mas, com a forte queda dos preços na segunda-feira pela manhã, parecia que o Fed precisava de uma "solução rápida" para evitar um derretimento maior.
A boa notícia é que os touros conseguiram defender a MMD 200 mais uma vez. Mas os ursos ainda não estão prontos jogar a toalha.
Argumentos de alta
Os argumentos para a alta do mercado são bastante tênues.
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Alta expectativa para uma reabertura total da economia;
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Uma vacina;
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Um rápido retorno à normalidade econômica;
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Os resultados corporativos de 2022 serão tão altos que justificam os preços “atuais”. (Permita-me esclarecer esse ponto: são dois anos de NENHUM crescimento dos preços);
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O Fed.
Na realidade, os primeiros quatro pontos são racionalizações. É a liquidez do Fed que está impulsionando o mercado.
Balanço patrimonial do Fed Vs S&P 500
Argumentos de baixa
Os ursos se posicionam com visões fundamentalistas mais sólidas.
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Possibilidade de uma segunda onda viral;
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Recuperação econômica mais lenta do que o esperado;
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Uma segunda onda de infecções pode corroer a confiança do consumidor, desacelerando a retomada do mercado de trabalho;
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O alto desemprego afeta o consumo pessoal;
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As taxas de inadimplência e as falências estão aumentando mais do que o esperado;
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Tudo isso se traduz em resultados e lucros corporativos muito menores.
Como já discutimos antes, os resultados e lucros corporativos sempre são relevantes. (Historicamente, os resultados nunca correm atrás dos preços).
“Ao longo da história, os resultados são bastante previsíveis. Com base nas análises acima, podemos ‘apostar’ no declínio dos resultados e dos preços das ações, em linha com os valuations. O gráfico abaixo é a tendência de longo prazo dos resultados em comparação com sua tendência de crescimento exponencial."
Revisões de resultados do SP500
Como ressaltamos naquela oportunidade, apesar de a frase “não brigue com o Fed” ser uma simples fórmula para o argumento de alta, o desvio entre “fundamentos” e “fantasia” acabará se mostrando relevante.
O que a covid-19 começou e ainda não terminou é o processo de “retorno à média”, que sempre ocorreu após as altas dos mercados. Isso não deveria ser uma surpresa para ninguém, na medida em que os preços dos ativos eventualmente refletem a realidade subjacente dos resultados e lucros corporativos.
Touros no curto prazo, ursos no longo prazo
De uma perspectiva puramente técnica, os touros continuam no controle, por enquanto. Como mostramos abaixo, o mercado conseguiu equacionar parte da condição sobrecomprada no curto prazo, sem a confirmação de um rompimento abaixo da MMD 200. É importante notar que a correção também respeitou a linha de tendência de alta que vem desde o início do gap de alta a partir da mínima de 23 de março.
Gráfico diário do ETF do SP 500
Porém, o MACD mais baixo e o Oscilador de Momentum de Preço apresentam claros sinais de venda, o que representa um risco para os touros no curto prazo. Com resistência na abertura em “gap de baixa” de quinta-feira um pouco acima do fechamento de segunda-feira, o risco-retorno para os mercados no curtíssimo prazo é muito ruim.
Se o mercado romper a linha de tendência de alta, a MMD 50 e a consolidação nas mínimas de maio serão as próximas linhas na areia.
Vale a pena notar que ambos os sinais de venda primários continuam intactos no período SEMANAL. Isso sugere que ainda não superamos a fase de bear market. Embora isso não signifique necessariamente que haverá um crash de mercado, historicamente os retornos têm sido menores com uma volatilidade muito maior.
Gráfico semanal do SPX
Cautelosamente otimista
Do ponto de vista dos fundamentos, continuamos baixistas. No entanto, também reconhecemos que, com a injeção intravenosa de liquidez do Fed nos mercados, não podemos deixar de participar. Como afirmamos na semana passada:
“Como gestores de portfólio, compramos ‘oportunidade’ porque devemos fazer isso. Se não fizermos isso, nossa carreira fica em perigo. Mas você não precisa fazer isso. Se você é um investidor de longo prazo, precisa questionar o risco assumido para alcançar retornos maiores no atual mercado."
Como ressaltamos, os fundamentos, uma hora ou hora, vão pesar. Só não sabemos quando isso vai acontecer. O que podemos dizer é que há sinais mais do que suficientes que estamos perto do pico:
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Empresas de Wall Street usam resultados operacionais prospectivos de 2 anos para justificar valuations;
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Investidores estão em busca de empresas falidas;
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Empresas usam o endividamento indiscriminado para melhorar a liquidez;
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Uma completa falta de liquidez nos mercados;
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Investidores confiantes demais;
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Exuberância do investidor de varejo;
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Crescimento dos resultados futuros superestimado.
Você entendeu a ideia.
Jogando na defensiva
O que os investidores não percebem é que podem estar indo em direção a uma “armadilha”.Como Carl Swenlin afirmou no fim de semana passada:
“Na quarta-feira, apontamos as similaridades entre a ação dos preços neste ano e a ocorrida durante o crash de 1929 e o rali que se seguiu. Independente de já termos visto o topo do rali ou não, acredito que em breve haverá um topo, e ele se parecerá com isso.”
Gráfico do Índice INDU
Não importa se você acha ou não que esse é o caso. O importante é considerar a “possibilidade” em seu processo de tomada de decisão. Carl concluiu sua declaração da seguinte forma:
“Os investidores estão ‘olhando além do vale’ para os bons momentos que nos esperam por lá. Eles parecem acreditar que vamos sair levitando através desse vale. Mas não conseguimos levitar. Temos que descer o vale e nos defrontar com as dificuldades que teremos pela frente. As pessoas não pararam para imaginar a tempestade que vamos enfrentar.”
Independente da política monetária do Fed, os mercados em algum momento terão que lidar com a realidade como ela é. Para os investidores, é possível haja muita decepção nos próximos meses à medida que se desenrola a pior recessão em décadas.
Como afirmamos na semana passada, às vezes jogar na defensiva é melhor do que atacar.