A inflação ao consumidor da economia americana (CPI, na sigla em inglês) surpreendeu as expectativas e voltou a acelerar. O CPI dos EUA subiu 1% em maio, o que pressionou o índice anual de 8,3% em abril para 8,6% em maio. O núcleo da inflação, que exclui preços voláteis de alimentos e combustíveis, também registrou alta de 0,6%, acima do esperado no último mês, puxado por automóveis, vestuário e custos de moradia.
A reaceleração do índice cheio de inflação foi citada pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, na entrevista após a decisão de junho como o risco a ser monitorado, algo que justificaria o aumento do ritmo de aperto monetário.
Diante desse quadro, o Banco Central americano decidiu acelerar a alta da taxa de juros para 75 pontos-base (pbs), de 0,75%-1% para 1,5%-1,75%, na reunião de junho. Na coletiva de imprensa, Powell indicou que este ritmo pode não se repetir no próximo encontro, mas condicionou o ajuste à evolução do cenário.
Nossa avaliação é que a inflação e o mercado de trabalho continuarão demandando uma resposta rápida do Fed. Diante disso, esperamos uma nova elevação de 75 bps na reunião de julho, com os juros encerrando o ano com uma taxa de 4%.
A opção por uma curva de reação mais tempestiva é a resposta do Fedàs surpresas de inflação e levará a taxa para 2,25%-2,5% a.a. na próxima reunião, o que colocará a política monetária em campo restritivo mais cedo que o esperado. Nas projeções divulgadas na reunião de junho, o FED estima que o número chegue a 3,4% a.a no final de 2022 e 3,8% a.a. em 2023.
Na Europa, o Banco Central Europeu decidiu durante reunião extraordinária que os recursos recebidos dos títulos do programa de compra de ativos atual deverão ser usados para estabilizar os juros dos países membros da Zona do Euro. A decisão foi tomada a fim de preservar o funcionamento do mecanismo de transmissão da política monetária. Os dirigentes do BCE seguem com discurso mais duro, sinalizando o início de um ciclo de alta em julho e a saída da antiga política no 3° trimestre de 2022.
No Brasil, a inflação parece ter atingido o pico em abril e a trajetória de queda deve se consolidar a partir de maio. O Banco Central tem sinalizado a continuidade do aperto, e por isso um aumento adicional de 25 pbs em agosto não pode ser descartado, mas consideramos a taxa Selic em 13,50% a.a. suficientemente contracionista em termos reais para produzir a convergência da inflação para as metas em 2024.
Na renda fixa doméstica, a trajetória de queda da inflação acumulada em 12 meses e o apreçamento da alta de 50 bps na reunião do Copom em agosto colocam um prêmio em relação ao nosso cenário na parte curta da curva. Isto, em tese, justifica uma posição aplicada no contrato futuro com vencimento em janeiro de 2023 e janeiro de 2024.
Por outro lado, os riscos fiscais ainda elevados e o aumento da inclinação da curva de juros com o fim do ciclo de elevação da taxa no Brasil justificam uma posição tomada no vértice do contrato futuro de janeiro de 2027. No caso dos títulos indexados à inflação de médio prazo (NTN-B 2030), a expectativa de redução dos cupons desses títulos juntamente com a proteção para inflação mantém a perspectiva favorável para investir nesses títulos.
No mercado de renda fixa global, mantemos a expectativa que o Fed deverá elevar os juros até 4,0% a.a. no final de 2022, o que reforça a posição tomada nas Treasuries de 2 e 10 anos.
A expectativa de fortalecimento do dólar frente às moedas das principais economias com o Fed apertando a política monetária prossegue. No caso do real, a aproximação da eleição e o fim do ciclo de aperto de juros pelo Banco Central deverão limitar a apreciação do real e colocam um viés de enfraquecimento da moeda.
Na renda variável, a reabertura e a expectativa de medidas de estímulo à economia chinesa deverão beneficiar as empresas ligadas às commodities, algo que pode ser positivo para o Brasil.
As empresas ligadas ao ciclo global e setores defensivos do Ibovespa seguem como preferidas. Com relação às bolsas globais, o processo de alta de juros pelo FED manterá as Treasuries de 10 anos em torno de 3,5% a 4,0% a.a., o que implica numa posição vendida em S&P 500 dado os níveis de preços atuais.